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Médica do Afeganistão ajuda refugiados a enfrentar o coronavírus

Comunicados à imprensa

Médica do Afeganistão ajuda refugiados a enfrentar o coronavírus

4 Setembro 2020
Dra. Hosseini com pacientes afegãos no centro de saúde Razi. Ela trata refugiados e iranianos da comunidade local © ACNUR / Mohammad Hossein Dehghanian

Ao fim de um longo turno de trabalho, quando o fluxo de pacientes na sala de espera diminui e os consultórios são desinfetados, a Dra. Fezzeh Hosseini retorna à sua mesa e respira fundo antes de começar a segunda jornada do dia.


Fezzeh, uma refugiada afegã de 38 anos, foi recentemente nomeada para liderar o programa público de conscientização sobre o coronavírus em Esfahan, na República Islâmica do Irã. Além das funções que já exerce como médica chefe do centro de saúde Razi, em Khomeini-Shahr (uma área de Esfahan), ela agora fornece consultas por telefone a pacientes iranianos e afegãos que estão contaminados pela COVID-19 ou correm o risco de contraí-la. Há meses, ela e sua equipe de cinco médicos trabalham além do horário comercial para fazer ligações telefônicas para cerca de 200 famílias todas as noites.

"O coronavírus me fez sentir impotente, assim como outros médicos no mundo inteiro", diz. "Essas ligações telefônicas se tornaram uma maneira inestimável de alcançar quem está em isolamento e que pode precisar de aconselhamento e serviços médicos".

Durante essas ligações, Fezzeh e sua equipe conversam com pacientes que apresentam sintomas de COVID-19 e com pacientes que testaram positivo para o vírus, mas que não estão doentes o suficiente para serem hospitalizados. Antes de voltar para casa, a equipe fala com outras famílias sobre precauções de saúde e higiene para evitar que outros familiares sejam contaminados.

“No Irã, as pessoas se cansaram de ouvir sobre o coronavírus e, infelizmente, poucos têm mantido precauções de saúde e distanciamento social, mas todos os que chamamos, especialmente na comunidade afegã, ouviram nossos conselhos porque vinham da Dra. Hosseini ”, diz Ameneh, 30, uma parteira iraniana que trabalha na equipe de Fezzeh.

Fezzeh chegou ao Irã com apenas um mês de idade depois que seus pais fugiram do conflito no norte do Afeganistão. Deixar tudo para trás não foi uma decisão fácil para eles, mas eles esperavam que, no Irã, seus filhos pudessem crescer em segurança e ter um futuro melhor. "Minha mãe diria que a educação é mais importante do que comida e roupas", lembra Fezzeh.

As crianças refugiadas no Irã podem frequentar escolas públicas e seguir o mesmo currículo nacional que os iranianos. Encorajada pela sua mãe, Fezzeh concluiu com êxito sua educação e, aos 19 anos, passou nos vestibulares para ser admitida na faculdade de medicina. Quando chegou à universidade, ela teve que superar os preconceitos e as barreiras socioeconômicas que impedem muitos refugiados de seguir os estudos no ensino superior.

“As expectativas que eu tinha para mim eram tão baixas (eu só queria me tornar parteira)... Mas minha professora me convenceu de que eu poderia ser o que eu quisesse”, afirma.

 

Fezzeh conseguiu terminar a graduação, mas, como refugiada, seu futuro como médica ainda estava longe de ser certo. Embora os refugiados no Irã tenham autorização para trabalhar, eles ainda são excluídos de certas profissões em um grande número de setores, incluindo a medicina.

Sem uma licença médica, Fezzah foi voluntária por anos em um hospital e organizou discussões com a comunidade afegã para falar sobre higiene, nutrição e dieta. "Fiquei feliz por poder fazer a diferença na vida dos afegãos no Irã, mas sabia que poderia fazer muito mais", conta.

Finalmente, em 2016, seu trabalho exemplar foi reconhecido pelo governo do Irã e ela recebeu uma permissão excepcional para praticar medicina. Ela se tornou a primeira e única médica refugiada em Esfahan, lar de aproximadamente cinco milhões de habitantes, incluindo mais de 100.000 refugiados.

"Às vezes, meus pacientes afegãos ficam surpresos quando descobrem que eu também sou do Afeganistão"

Hoje, Fezzeh supervisiona seis equipes médicas no centro de saúde Razi, construído com o apoio do ACNUR, Agência da ONU para Refugiados. Todo mês, os médicos e enfermeiros do centro tratam cerca de 10.000 pacientes iranianos e afegãos. Desde o surto de COVID-19, eles têm rastreado, testado e tratado pacientes contaminados, encaminhando os casos mais graves para hospitais municipais.

“Às vezes, meus pacientes afegãos ficam surpresos quando descobrem que eu também sou do Afeganistão. É como se eles tivessem esquecido que também podem ser bem sucedidos”, diz.

Desde que o primeiro caso confirmado de coronavírus foi identificado no Irã, em fevereiro, o vírus se espalhou para todas as 31 províncias do país, afetando refugiados e comunidades anfitriãs. O ACNUR transportou para o país itens médicos e de higiene para apoiar os esforços do governo no combate ao vírus. Os refugiados também contribuíram costurando máscaras e roupas para profissionais de saúde, e apoiaram a distribuição de ajuda aos membros mais pobres de suas comunidades.

No Irã, os refugiados têm acesso a cuidados básicos de saúde gratuitos e podem fazer os mesmos exames e tratamentos para o coronavírus que os cidadãos iranianos. Embora não corram maior risco de contrair o vírus do que os habitantes locais, eles foram particularmente afetados pelos impactos econômicos da pandemia, uma vez que muitos perderam seus meios de subsistência.

Além de seu trabalho incansável no centro de saúde e de seus turnos extras como voluntária nas clínicas para tratamento de COVID-19, Fezzeh organiza ligações periódicas em grupos de mulheres e meninas afegãs da sua comunidade para compartilhar informações sobre higiene e práticas de saúde para que estejam atentas a como identificar o que estão sentindo, bem como os impactos indiretos da COVID-19 nas outras pessoas.

“Nos últimos meses, um número crescente de mulheres tem me dito que estão enfrentando cada vez mais conflitos domésticos, devido ao aumento do estresse como resultado da perda de meios de subsistência durante a pandemia”, Fezzeh diz.

“Ser afegã faz com que meus pacientes, que também são de lá, se sintam confortáveis em desabafar comigo, pois compartilhamos a mesma cultura e experiências”, acrescenta. “Mas o que mais me deixa orgulhosa é que as pessoas me veem como alguém que pode ajudá-las, não apenas como um refugiada”.


O ACNUR segue atuando no Brasil e no mundo para proteger refugiados, pessoas deslocadas e comunidades que os acolhem do novo coronavírus.

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