Menino da República Centro-Africana morre antes de reencontrar sua família
Menino da República Centro-Africana morre antes de reencontrar sua família
BANGUI, República Centro-Africana, 24 de fevereiro (ACNUR) - A dor da separação foi demais para um pequeno rapaz da República Centro-Africana, que morreu na semana passada de desnutrição grave, desesperado para escapar de uma prisão virtual e se reunir com seus pais.
Youssoufa foi uma das mais recentes vítimas da violência devastadora entre comunidades e do terror que assolam sua terra natal desde março de 2013, quando as forças predominantemente muçulmanas e anti-governamentais, Seleka, tomaram o poder em Bangui. Seguiu-se um assombroso abuso dos direitos individuais, provocando uma resposta sangrenta por grupos cristãos ligados à milícias anti-Balaka.
A extrema violência tem causado enorme deslocamento da população, com dezenas de milhares de pessoas forçadas a fugir de suas casas e encontrar segurança dentro República Centro-Africana ou em países vizinhos. Muitas crianças foram separadas de suas famílias durante o trauma e o caos da fuga, incluindo Youssoufa e suas duas irmãs, Ramatou e Awaou.
O ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) ressalta a vulnerabilidade dos menores desacompanhados e crianças perdidas e tenta encontrar os pais ou outros parentes. O ACNUR está trabalhando para ampliar a colaboração com os países de asilo e as autoridades da República Centro-Africana para reunir familiares e crianças.
É tarde demais para Youssoufa, mas o ACNUR espera que suas irmãs e outras crianças separadas no enclave Yaloke - onde foram presos por meses - se reúnam com suas famílias no Chade e em Camarões.
O sofrimento do menino começou em fevereiro do ano passado, quando sua família e outros fugiram de ataques de grupos armados, a maioria muçulmana e nômade Peuhl, ou Fulani, pessoas da província de Lobaye, a oeste da capital de Bangui.
Eles caminharam por meses, se escondendo no mato, lutando por suas vidas, desesperadamente procurando um refúgio seguro. Mas o desastre aconteceu quando a família tentava embarcar em um caminhão em direção a Camarões. Na luta desesperada, os pais de Youssoufa conseguiram escapar, mas o menino, suas duas irmãs e seu avô foram deixados para trás.
Quatro deles, depois dos ataques que escaparam, encontraram refúgio em uma pequena cidade chamada Yaloke, localizada a cerca de 200 quilômetros ao noroeste de Bangui. Mas sua nova casa tornou-se efetivamente uma prisão, com cerca de 400 Peuhls que vivem em um perímetro de 500 metros protegido por tropas. Foi um choque para este orgulhoso povo nômade, que se viu incapaz de prover o próprio sustento e precisava de assistência humanitária urgente.
À medida que as condições se deterioraram, Youssoufa tornou-se mais deprimido e desesperado. Ele não tinha visto seus pais por mais de oito meses; ele havia testemunhado todos os tipos de horrores durante sua fuga. Ele também estava sofrendo de desnutrição grave e perdeu sua capacidade e vontade de comer, apesar do encorajamento de trabalhadores humanitários. Ele morreu na terça-feira da semana passada
Todos ficaram tocados por este jovem rapaz e seu amor por sua família, e entristecidos quando ele começou a definhar. Há duas semanas, o ACNUR finalmente conseguiu encontrar seus pais em Gado, Camarões oriental.
Eles ficaram contentes ao saber que as três crianças estavam vivas, mas preocupados com a sua situação. Eles estavam esperando por esse momento especial em que iriam se reunir. Então veio a notícia devastadora que seu saudoso filho havia morrido.
"A notícia da morte de Youssoufa foi um choque para todos nós", disse Kouassi Etien, representante do ACNUR na República Centro-Africana. "Estamos trabalhando duro para identificar os locais de outros membros da família separados nos deslocamentos internos e presos em Yaloke, a fim de facilitar a sua reunião, antes que seja tarde demais."
O ACNUR espera agora reunir os irmãos de Youssoufa com seus pais. Outras 14 crianças separadas no enclave Yaloke foram identificadas, bem como 23 indivíduos que desejam se reunir com suas famílias em Camarões ou Chad.
O ACNUR também continua defendendo o respeito nas fronteiras e a livre circulação de pessoas em risco, um direito humano básico. Mais de 90 por cento dos Peuhls em Yaloke disseram aos grupos de ajuda que desejam ser evacuados por razões humanitárias.
Por Dalia Al Achi em Yaloke, República Centro-Africana.