Milhares de pessoas fogem para Uganda devido à recente onda de violência no Sudão do Sul
Milhares de pessoas fogem para Uganda devido à recente onda de violência no Sudão do Sul
Genebra, 21 de julho de 2016 (ACNUR) Nos últimos dias, o número de pessoas que saiu do Sudão do Sul para procurar abrigo e segurança em Uganda tem aumentado significativamente. É possível que o fluxo continue crescendo, uma vez que as tensões permanecem altas no outro lado da fronteira.
Estima-se que, entre sexta-feira e domingo da última semana, cerca de 3.000 pessoas tenham atravessado a fronteira para Uganda. A maioria é do Sudão do Sul, mas acredita-se que há alguns ugandenses também. Antes de sexta-feira, a média diária era de 233 pessoas. As chegadas levam a um número total de 5.015 pessoas que fugiram para Uganda, desde que a recente onda de violência no Sudão do Sul teve início no dia 7 de julho. Mais de 90% dos recém-chegados eram mulheres e crianças com menos de 18 anos.
O ACNUR acredita que mais pessoas serão forçadas a fugir para Uganda, especialmente agora que a estrada Juba-Nimule, que tem duzentos quilômetros de extensão e liga a capital do Sudão do Sul a Uganda, está livre de postos de controle. Como resultado, mais pessoas estão vindo em caminhões, e isso explica o aumento do número de chegadas. Muitos também estão trazendo seus pertences.
Milhares de pessoas entraram na região norte de Uganda pelos pontos de passagem de fronteiras em Moyo, Kuluba, Lamwo, Yumbe e Elegu, enquanto alguns estão indo diretamente para Kiryandongo, assentamento de refugiados na região Centro-Oeste do país. A fronteira foi previamente fechada no lado do Sudão do Sul, mas as restrições foram atenuadas.
A maioria dos recém-chegados vêm fugindo do estado Equatória Oriental, e um número menor de pessoas está chegando de Juba. Eles relatam que a situação de segurança continua instável e que o combate poderia recomeçar a qualquer momento. Os refugiados falam também do aumento da ocorrência de roubos.
Dentro de Uganda, mais de 6.000 sul-sudaneses permanecem no assentamento Pagiarinya, em Adjumani District, enquanto outros aguardam nos pontos de acolhimento para serem transferidos para o assentamento. Uma recente avaliação constatou que Pagiarinya tem capacidade para 6.500 pessoas, o que significa que poderá ficar lotado dentro de alguns dias.
Uma missão de avaliação de campo interagencial, incluindo oficiais do gabinete do primeiro-ministro de Uganda e do ACNUR, está atualmente visitando lugares para identificar áreas adequadas para o estabelecimento de novos assentamentos.
As pessoas estão chegando em Uganda cansadas e com fome. Muitas delas caminharam durante dias transportando seus pertences. Outras estão sofrendo de desnutrição depois de andar sem comida durante dias. Nos últimos meses, atividades das milícias em algumas áreas do Sudão do Sul têm dificultado o plantio.
A ONU disse que pelo menos 300 pessoas foram mortas e mais de 10.000 fugiram de suas casas depois da violência em Juba. Condenamos os ataques violentos contra os trabalhadores humanitários, que causaram a morte de pelo menos uma pessoa. Vários países têm evacuado seus nacionais. O ACNUR, como parte da resposta humanitária global, está prestando assistência nos locais de deslocamento.
Apesar de um instável cessar-fogo estabelecido desde o final de segunda-feira, a ONU alertou sobre a possibilidade de novos confrontos em Juba. A situação está sendo agravada pela desvalorização da libra sul-sudanesa, que tem causado o aumento dos preços e feito com que a pouca comida disponível seja muito cara para a maioria. Os combates também interromperam rotas de abastecimento de Uganda para o Sudão do Sul, dificultando o acesso para assistência e alimentos.
Na região de Gambella, oeste da Etiópia, o número de recém-chegados não aumentou significativamente desde 11 de junho, mas os novos combates adiaram a esperança da possibilidade de poder voltar para casa em breve. A fronteira Quênia-Sudão do Sul também tem estado relativamente calma. Até esta data, o ACNUR transferiu 169 recém-chegados da fronteira Nadapal para o campo de Kakuma.
O deslocamento recente vai colocar mais pressão sobre os recursos do ACNUR para a operação do Sudão do Sul e sobre a nossa capacidade de prestar assistência e salvar vidas. Sobretudo, devido ao difícil acesso a Juba. Na última sexta-feira, em Nairobi, o ACNUR apresentou uma petição atualizada sobre suas operações com refugiados do Sudão do Sul, em busca de US$ 701 milhões. O apelo anterior era de US$ 638 milhões, do quais foram financiados apenas 17%.
Ao apresentar o recurso, Ann Encontre, Coordenadora Regional de Refugiados para a situação do Sudão do Sul, disse que o número global subiu de 867.239 refugiados para 973.000. Ela alertou ainda que esse número pode ultrapassar a marca de 1 milhão nos próximos meses.