Milhares fugiram de conflitos tribais no Iêmen nos últimos três meses
Milhares fugiram de conflitos tribais no Iêmen nos últimos três meses
ADEN, Iêmen, 12 de Março (ACNUR) – O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) advertiu, na última sexta-feira, a ocorrência de uma nova onda de deslocamentos internos de milhares de civis no Iêmen. Essas pessoas estão fugindo de disputas tribais no norte e de conflitos entre tropas do governo e grupos armados no sul do país.
A situação é particularmente complicada na província de Haradh, ao norte da capital Sanaa, onde, de acordo com autoridades iemenitas, conflitos tribais provocaram o deslocamento de 52 mil pessoas nos últimos três meses. Além dessa estimativa aproximadamente outros 314 mil iemenitas já se deslocaram para o norte e estão impossibilitados de retornar para suas casas no distrito de Saada.
Apesar do acordo de paz assinado, em julho de 2010, entre o governo do Iêmen e o grupo Al Houtis, a situação no norte do país continua instável. “A insegurança impossibilita o retorno em larga escala dos iemenitas e impõe diversos limites ao acesso humanitário,” afirma o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards.
Edwards afirma que o ACNUR continua administrando dois campos de deslocados iemenitas no norte do país e que a agência tem prestado assistência aos deslocados internos (IDPs) nos campos e nas comunidades de acolhida.
Enquanto isso, no sul, pelos menos 1.8 mil pessoas foram deslocadas nas últimas duas semanas devido ao recente aumento da violência entre tropas do governo e os militantes do distrito de Abyan. Aqueles deslocados da cidade de Ja’ar se uniram a outros 150 mil deslocados que estão no sul. Isso incluiu praticamente toda a população das cidades de Zinjibar, Khanfar e Al-Kud, deslocada desde o começo dos conflitos, em maio de 2011. O ACNUR estima que outras 120 mil pessoas correm o risco de serem deslocadas forçosamente.
“Muitos residentes de Ja’ar fugiram do conflito. Não havia lugares suficientes nos ônibus e, consequentemente, o preço dos veículos para aluguel triplicou,” disse Edwards. “O viagem até Aden, que levava normalmente 30 minutos, começou a durar mais de cinco horas nas rodovias alternativas e em microônibus lotados. E ainda mais pessoas chegam diariamente,” completa o porta-voz.
Desde maio de 2011 a maioria dos civis deslocados internamente na região sul encontraram abrigo em Aden, e em outras cidades e áreas de Abyan, aonde eles possuíam fortes laços familiares e ligações tribais. Outros acharam abrigo em escolas. Hoje 74 escolas públicas na cidade de Aden acolhem mais de 20 mil deslocados.
O operação do ACNUR no Iêmen assiste mais de 80 mil deslocados internos em cinco distritos do sul do país. A agência também restaurou diversos edifícios vazios para fornecer, temporariamente, abrigo para dois mil deslocados internos, liberando duas escolas para mais de três mil estudantes.
“Juntamente com nossos parceiros estamos agindo e coordenando esforços para atender às necessidades dos novos deslocados internos,” diz Edwards, complementando que “o maior desafio continua a ser a moradia”.
As escolas em Aden que abrigam os deslocados estão completamente lotadas e as comunidades já não podem receber mais pessoas. Com as recentes chegadas, mais de 20 pessoas dividem a mesma sala em algumas escolas. Outros refugiados só foram capazes de encontrar espaço no pátio ou nos corredores.
Tendo em vista a crescente insegurança e o aumento dos deslocamentos internos, o ACNUR criou redes locais de monitoramento treinadas para reconhecer os riscos de proteção e as necessidades urgentes dos deslocados. Essas redes irão alertar o ACNUR e ajudar a garantir a continuidade dos serviços de proteção e da assistência. A agência planeja dobrar o número dessas redes em 2012.
Para este ano, o ACNUR busca arrecadar 60 milhões de dólares que serão destinados às necessidades humanitárias de 216 mil refugiados e cerca de 500 mil deslocados internos.
Por Edward Leposky em Aden, Iêmem