Monitoramento e ação: ACNUR apoia venezuelanos fora de abrigos em Roraima
Monitoramento e ação: ACNUR apoia venezuelanos fora de abrigos em Roraima
Enquanto a pandemia do novo coronavírus avança no mundo, tendo o Brasil como um dos seus epicentros, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) chama atenção para os desafios enfrentados pela população venezuelana fora de abrigos em Roraima.
De acordo com o recente Relatório de Ocupações Espontâneas produzido pelo ACNUR, 3,4 mil pessoas em Boa Vista e Roraima viviam nestes locais até junho de 2020. Entre as principais dificuldades enfrentadas por essa população ao chegar no país estão o acesso a alimentação, saneamento básico, trabalho e moradia.
Uma dessas pessoas é a venezuelana Aisker Carolina Carbaja, de 29 anos que viveu com o marido e o filho de 2 anos na Ocupação Totozão, em Boa Vista, por cerca de três meses. Ela foi uma das 1,4 mil pessoas entrevistadas pelo ACNUR para entender as necessidades mais urgentes em ocupações espontâneas, espaços cedidos e outros espaços comunitários nas cidades de Boa Vista e Pacaraima.
"Respondendo ao questionário consegui comunicar um pouco de quem eu sou e como estamos vivendo aqui", explicou a venezuelana, que à época enfrentava desafios para alimentar seu filho. Hoje, Aisker e a maioria das famílias que lá viviam encontraram um lugar para alugar com apoio do auxílio emergencial do governo e de assistência em dinheiro provida pelo ACNUR.
Além da Ocupação Totozão, outros espaços já foram fechados como parte do plano de emergência das autoridades locais e da Operação Acolhida – resposta do governo federal ao fluxo de refugiados e migrantes venezuelanos ao Brasil, apoiado pelo ACNUR, outras agências da ONU e organizações da sociedade civil.
Com apoio do ACNUR, os casos de maior vulnerabilidade identificados nas ocupações espontâneas foram realocados, e outros receberam auxílio para obter uma nova moradia.
“Essa ação de monitoramento e proteção é essencial, especialmente no contexto da pandemia. A vulnerabilidade social e econômica dessas pessoas muitas vezes começa antes de serem forçados a sair de seu país”, destaca Angelica Uribe, Oficial de Proteção do ACNUR em Boa Vista. “E continuam – ou são agravadas – quando chegam no país. Lidamos com casos de separação de adolescentes de suas famílias, violência extrema, casos graves de saúde”, afirma.
O trabalho de monitoramento é seguido por ações do ACNUR para apoiar e solucionar casos urgentes de vulnerabilidade social e econômica em cerca de 20 ocupações espontâneas e locais similares em Boa Vista e Pacaraima. Também é feito um trabalho de coordenação com as lideranças comunitárias para distribuição de itens emergenciais, compartilhamento de informações confiáveis e referenciamento a serviços.
Um dos jovens engajados é o venezuelano Arnon, de 13 anos, que também vivia na ocupação Totozão, em Boa vista. "Estou tomando todos os cuidados que nos ensinaram, lavando as mãos e tudo, porque eu não quero contagiar minha mãe, nem os outros, nem a mim mesmo", afirmou o jovem rapaz durante uma das conversas do ACNUR com os moradores da ocupação.
Sua mãe, Isabel Cano, foi uma das líderes comunitárias da ocupação essenciais para compartilhar e reforçar medidas preventivas contra o novo coronavírus. "Somente com a ajuda da ONU e das outras organizações é que nós estamos podendo passar por esse momento tão delicado de refúgio e pandemia, tudo junto ao mesmo tempo”, afirma a venezuelana.
Mãe solteira, Isabel recebeu auxílio em dinheiro do ACNUR e hoje vive em um imóvel alugado com os dois filhos adolescentes. “Vocês nos ajudam a ajudar as outras pessoas que viviam em uma situação muito difícil. Obrigada", completa.
Em Pacaraima, por exemplo, apenas um grupo tem acesso a rede de esgoto. Nos outros locais, a utilização do banheiro se dá por meio de latrina ou a céu aberto, sem lugar específico. Grande parte (73%) das ocupações espontâneas não tem acesso a água encanada – as pessoas conseguem água por meio de baldes, solicitando aos vizinhos próximos, ou em riachos e canos mais distantes em área aberta.
Em Boa Vista, uma a cada cinco pessoas entrevistadas apresentou necessidades específicas de proteção, incluindo um número considerável de crianças não frequentando a escola (60%) e separadas de seus pais ou cuidadores de costume (22%).
Desde a declaração do início da pandemia pela Organização Mundial da Saúde, em março de 2020, o ACNUR vem adaptando sua estratégia de proteção de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela, incluindo também na resposta emergencial da COVID-19 quem está desabrigado.
Até agora, foram entregues 1,625 kits de limpeza e 269 lâmpadas solares para famílias, crianças, idosos, pessoas indígenas e não indígenas. Também foram realizadas sessões informativas sobre prevenção e medidas de higiene em espanhol, Warao e Eñepa – idioma das populações originárias da Venezuela.
De forma mais abrangente, as pesquisas e monitoramentos feitas pelo ACNUR também geram dados demográficos da população venezuelana abrigada pela Operação Acolhida em Roraima e no Amazonas e apoiam a força-tarefa na identificação de venezuelanos que buscam interiorização e reunificação com outros familiares no país.
Para mais informações sobre como o ACNUR tem atuado para apoiar a população refugiada venezuelana no contexto da pandemia, visite nosso site.
O ACNUR agradece todos os seus doadores pelas importantes contribuições que nos permitem continuar trabalhando para oferecer dignidade, proteção e segurança para refugiados e solicitantes de refúgio no Brasil.