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As mulheres deslocadas de Medellím seguem em frente, apesar da violência e da pobreza

Comunicados à imprensa

As mulheres deslocadas de Medellím seguem em frente, apesar da violência e da pobreza

As mulheres deslocadas de Medellím seguem em frente, apesar da violência e da pobrezaA segunda rodada de Diálogos Regionais sobre Mulheres e Crianças foi realizada em Medellín, onde vivem 194 mil dos mais de 3,5 milhões de deslocados internos de Colômbia.
15 Fevereiro 2011

MEDELLÍN, Colômbia, 15 de fevereiro (ACNUR) – De acordo com o escritório do ACNUR em Bogotá a violência e a insegurança fazem parte do dia a dia das mulheres deslocada em Medellín, e elas concordam que: “A violência está por todos os lados, nos perseguindo e entrando em nossas casas e corações”, assim expressou uma mulher. Outra acrescentou: “Quando uma mulher deslocada chega à cidade de Medellín tem três opções: a prostituição, a mendicância ou a inanição. Qual seria a sua escolha?”

Na semana passada o ACNUR e os investigadores da Universidade de New South Wales, na Austrália, se reuniram com mais de 80 mulheres deslocadas, crianças e homens em Medellín durante a segunda rodada de Diálogos Regionais sobre Mulheres e Crianças. Medellín, a segunda maior cidade da Colômbia, atualmente é casa para 194 mil dos mais de 3,5 milhões de deslocados internos colombianos. Mais de 11 mil deles foram deslocados de sua própria cidade devido à violência urbana. Todos fugiram de seus lares nos últimos anos, escapando do ciclo contínuo de violência interna e de luta armada, que tem sido uma constante na Colômbia há mais de 40 anos.

“Um lenhador está cortando madeira no bosque e sua perna fica presa debaixo de uma árvore. Ele tem duas opções: cortar sua perna ou morrer ali. Ele escolhe a primeira opção. Esta situação explica nossa experiência como pessoas deslocadas: ao fugir, uma parte sua fica para trás”. Com essa poderosa analogia, as mulheres que participam no diálogo ilustram suas situações.

Muitos indígenas colombianos deslocados não só perderam seus lares e suas terras, mas também sua cultura, sua língua e a sabedoria adquirida através de vários anos vivendo na natureza. Uma mulher indígena explicou a tradição de seu povoado com relação à medicina: “A mãe terra era a nossa universidade”. Na cidade, sem acesso a recursos naturais, eles têm que confiar na assistência sanitária convencional que acaba sendo um tema desconhecido para eles.

Ao chegar a Medellín, depois de terem fugido do conflito, que continua fazendo estragos em algumas regiões do país, os deslocados encontram tudo menos segurança. Os bairros são controlados por grupos armados e o nível da violência, inclusive em lugares supostamente seguros, como as escolas, é muito alto. Muitas mulheres e crianças são vítimas de violência sexual ou têm que vender seu corpo para sobreviver. Esta violência sexual tem se perpetuado por gerações.

 “Há uma enorme necessidade de estratégias de prevenção e atenção”, disse Saskia Loochkartt, a oficial de serviços comunitários do ACNUR, “Muitas pessoas precisam de atenção psicológica para enfrentar o profundo trauma e a dor infligida a eles”.

A assistência destinada aos deslocados internos frequentemente não é suficiente. Uma mãe disse: “Muitas vezes temos que dividir um ovo com os três filhos”. Um dos homens que participou dos grupos de discussão masculina adicionou: “Quando minha esposa vai buscar ajuda ela recebe uns papeis, mas com isso não podemos comer...”

Apesar das difíceis condições de vida, as mulheres que participaram dos diálogos foram incrivelmente fortes e esperançosas sobre o futuro. Querem participar na formação profissional para conseguir um trabalho melhor e enviar seus filhos à escola para que possam escapar do ciclo de pobreza, violência e injustiça no qual estas famílias estão presas.

Esforços significativos foram feitos a nível local para enfrentar os desafios que existem em Medellín. Com uma forte política pública baseada nos direitos e em um plano de ação para as pessoas deslocadas, Medellín investiu mais de 27,5 milhões de dólares em 2010, graças à ajuda destinada às medidas de integração local. A estrutura municipal inclui um escritório para atender às pessoas deslocadas, o qual foi criado em 2009 para garantir uma melhor coordenação institucional e um enfoque diferenciado para populações vulneráveis tais como mulheres, crianças, minorias étnicas, idosos e pessoas com deficiência.

“Trabalhamos em estreita colaboração com o governo para melhorar a assistência em Medellín. Temos um bom marco jurídico e políticas estabelecidas a partir dele”, disse Terry Morel, representante do ACNUR na Colômbia, “mas com todos os problemas que temos no terreno, a execução [destas políticas] são lamentavelmente um enorme desafio. Apreciamos o reconhecimento por parte das autoridades locais acerca dos problemas enfrentados pelos deslocados, mas é necessário um maior controle em todos os níveis do governo”.

O ACNUR apóia os diálogos regionais em todo o mundo para permitir às mulheres refugiadas e deslocadas expressar sua voz. Ao final de cada diálogo, os grupos de mulheres e homens fazem uma apresentação final na qual analisam seus problemas e propõem soluções concretas e inovadoras. Entre outras coisas, as mulheres de Medellín propuseram a criação de um centro de mulheres através do qual possam se ajudar e aprender umas com as outras.

Estes diálogos são realizados em sete países do mundo no marco do 60º aniversário da Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951 e do 50º aniversário da Convenção para Reduzir os Casos de Apatridia de 1961, celebrados ambos este ano. A terceira rodada dos diálogos acaba de começar na Jordânia, com a participação de mulheres e homens refugiados do Iraque, Sudão, Somália e Síria.