Mulheres deslocadas lutam contra abuso sexual na Colômbia
Mulheres deslocadas lutam contra abuso sexual na Colômbia
Depois de finalmente se instalarem em uma nova casa no sul do país, a filha de 12 anos de Leonor fez amizade com o filho de um funcionário local. Sem Leonor saber, ele estuprou a jovem várias vezes durante três anos, deixando-a grávida.
“Por estarmos fora do nosso lugar de origem, as pessoas acreditam que merecemos desprezo, que não temos os mesmos direitos” como todos os outros, diz Leonor.
Mais de cinco décadas de conflito armado na Colômbia forçaram cerca de 7,4 milhões de pessoas a buscar segurança em outras partes do país. Mulheres e meninas como Leonor e sua filha - que compõem mais de metade do total - são particularmente vulneráveis.
“Existe uma relação profunda entre violência sexual e deslocamento”.
Preocupadas com problemas imediatos, como encontrar comida e abrigo, e retiradas de suas redes de apoio familiar, os trabalhadores humanitários dizem que mulheres são particularmente vulneráveis à exploração sexual enquanto buscam abrigo.
“Existe uma relação profunda entre violência sexual e deslocamento”, afirma Adri Villa, assistente de proteção do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados.
“Mas a violência sexual não é apenas uma causa do deslocamento. Pode ser algo que às vezes ocorre durante e após o deslocamento, quando elas já se estabeleceram em suas novas casas”, acrescenta.
Não existe um registro oficial com dados específicos sobre o número de mulheres e crianças que foram vítimas de violência sexual no contexto do conflito da Colômbia.
Como muitas que se encontram fora de suas casas, Leonor não tinha os recursos, o conhecimento ou as ferramentas para exercer seus direitos básicos. Mas a ajuda estava perto, na província de Putumayo, no sul do país.
Desde 2005, um coletivo de 66 grupos tem defendido os direitos das mulheres. Os esforços se concentram nas dificuldades enfrentadas por milhares de mulheres deslocadas entre as cerca de 146 mil vítimas do conflito em uma região que faz fronteira com o Equador.
“O problema da violência sexual persiste mais entre as famílias que foram forçadas a se deslocar, porque estão em um estado de mais vulnerabilidade”, pontua Fatima Muriel, presidente da Associação de Mulheres Tecelãs de Vidas.
Parceira do ACNUR, a Associação oferece oficinas de aconselhamento e empoderamento para sobreviventes de abusos sexuais em toda a região. Além disso, oferece também a chance de buscar justiça perante a lei.
O apoio financeiro prestado à Associação é uma das formas pelas quais o ACNUR está honrando seus compromissos para com as mulheres refugiadas e deslocadas, que incluem a prevenção e a resposta à violência sexual e de gênero.
Graças aos conselhos e auxílio jurídico da Associação, a família Galeano conseguiu denunciar o funcionário local à polícia. “Eu sentia tanta raiva e dor”, diz Leonor, “mas graças ao ACNUR e à Associação, este homem finalmente foi detido em maio”.
“Eu me considero uma sobrevivente, porque segui em frente”.
Embora uma data para o julgamento ainda não tenha sido definida, ela está tentando seguir adiante com sua família - e sua vida parece estar mudando positivamente.
Hoje, por meio da Associação, ela participa como ativista dos direitos das mulheres em eventos públicos de conscientização sobre os problemas do abuso. Em casa, ela diz ter formado um vínculo mais próximo com sua filha e seu neto e até começou uma pequena empresa para apoiá-los.
Pela Associação, Leonor, sua filha, e outras mulheres podem participar de oficinas que as ajudam a ganhar independência econômica - outra ferramenta importante para capacitar as mulheres deslocadas.
Em 2016, um acordo de paz estabelecido entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) acabou com as hostilidades.
Quando Leonor fala sobre a nova força que encontrou, é como se ela estivesse rumo à paz interior, rumo ao fechamento de um ciclo.
“Estou grata porque com a ajuda da Associação e do ACNUR, eu sobrevivi”, afirma. “Eu me considero uma sobrevivente, porque segui em frente”.