Músicos refugiados ajudam ACNUR em campanha informativa no Burundi
Músicos refugiados ajudam ACNUR em campanha informativa no Burundi
CAMPO DE REFUGIADOS BWAGIRIZA, 19 de março (ACNUR) – Numa cena estranha e comovente, um jovem rapaz confessa ter falsificado seus documentos. De joelhos, pede desculpas e é redimido – tudo isso em quinze minutos e em frente a uma multidão, autoridades do governo e do ACNUR.
A encenação aconteceu em um campo de refugiados localizado nas colinas verdes no leste do Burundi como parte da campanha informativa sobre um recadastramento de dados, marcado para começar no final desse mês.
Na peça apresentada por refugiados da República Democrática do Congo (RDC), integrantes de uma companhia de teatro chamada New Vision, o transgressor admite ter registrado ilegalmente uma criança do Burundi no seu benefício de alimentação. No entanto, para se redimir ele reconheceu para um pastor – interpretado por outro ator - que receber o benefício extra era roubo. E o pastor o orienta a dizer a verdade durante a verificação.
“Estamos tentando transmitir todas as informações de forma simples e em mensagens positivas”, explicou Hanna Simon, uma jovem suíça integrante do escritório adjunto de proteção do ACNUR. “Haverá uma verificação, todos devem comparecer, é melhor para eles e para nós”. A renovação dos cartões de identificação dos refugiados fornecidos pelo governo local depende desse exercício crucial.
Mais de 10 mil refugiados congolenses vivem nas casas de pau-a-pique de Bwagiriza, distante do estado central de Ruyigi, onde Simon e seus colegas estão situados. Passaram-se muitos anos desde o último recadastramento e tanto o ACNUR quanto a agência governamental para refugiados ONPRA precisam atualizar os dados. Eles servirão de base para a compreensão da situação atual dos refugiados no país e qual a melhor maneira de assisti-los.
A maior parte dos refugiados deixou a RDC em virtude dos conflitos e da insegurança. Alguns voltaram ao país de origem para rever a família, outros mudaram-se para diferentes cidades do Burundi. Muitas crianças nasceram ou vão nascer nos campos de refugiados, o que fica evidente pelo número de mulheres grávidas, carregando recém-nascidos, ou crianças menores de dois anos.
O recadastramento em Bwagiriza inclui uma campanha informativa, entrevistas e a renovação de documentos. A equipe do ACNUR espera usar o exercício como modelo para as verificações subsequentes nos campos de Kinama e Musasa, também no Burundi – onde vivem aproximadamente 9 mil refugiados. Também será feita a verificação na capital Bujumbura, assim como no chifre da África, Grandes Lagos e toda região leste.
As encenações de rua incluem músicas congolesas e são a inovação promovida pelo grupo New Vision. “Queridos amigos, irmãos e irmãs”, cantou a vocalista da banda Neema Yvette Bahaya com uma linda voz. “Vocês devem participar... venham com as suas famílias e seus documentos”. As canções trazem avisos importantes – os refugiados que não participarem do recadastramento podem perder a assistência.
Entre os centenas de refugiados que encararam o sol quente para assistir a performance estava o jovem Kennedy Muhindo-Rosumba, de 18 anos. “A canção foi bem escrita e a informação passada de forma interessante”, disse. “Foi bacana o jeito que misturaram francês e kiswahilli, idioma que falamos no Congo”.
A peça foi encerrada com uma sessão de perguntas e respostas, na qual os refugiados puderam esclarecer dúvidas sobre o procedimento para parentes hospitalizados ou detidos. Simom garantiu que o ACNUR tem lidado com a questão e eles estão isentos da verificação. Ao mesmo tempo, a funcionária do ACNUR foi firme em relação às crianças que moram longe dos campos por motivos de estudo. “As crianças são sua responsabilidade”, disse ela aos refugiados, “faz parte da responsabilidade do chefe da família levar todos os membros para verificação”.
O ACNUR espera que o exercício dure aproximadamente seis semanas. Com a data de início se aproximando, a equipe está aumentando a frequência das mensagens e as formas de disseminá-las, incluindo a distribuição de cartazes nas cidades. Em parte pela consultoria dada pelos próprios refugiados, particularmente mulheres, a equipe do ACNUR espera – assim como os músicos do New Vision - transmitir a messagem certa.
Por Daniel MacIsaac em Bwagiriza, Burundi