Na Guatemala, horta torna-se símbolo de solidariedade entre refugiados e a comunidade local
Na Guatemala, horta torna-se símbolo de solidariedade entre refugiados e a comunidade local
SANTA ELENA, Guatemala, 19 de maio de 2017 – Em Santa Helena, uma comunidade de aproximadamente 30.000 habitantes no departamento de Petén, ao norte da Guatemala, as árvores, o aquário e as plantas da horta da Casa do Migrante Betânia são como um oásis em uma tarde quente de 40 graus.
Com o apoio do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, a Casa do Migrante Betânia foi construída em meados de 2016 pela Pastoral Social del Vicariato Apostólico de Petén (Igreja Católica) e gerenciada pela Pastoral de Movilidad Humana de la Conferencia Episcopal da Guatemala. A Casa, que faz parte da Rede de Proteção Nacional, oferece assistência e segurança às pessoas que chegam na Guatemala e que precisam de proteção internacional após de fugir da violência e perseguição em Honduras, El Salvador e Guatemala. Lá, eles também oferecem serviços médicos, psicossociais, assistência jurídica e informações sobre refúgio.
“A Casa do Migrante em Petén é uma aposta para criar espaços seguros de proteção no norte da Guatemala e na fronteira do México” indicou Enrique Valles-Ramos, Diretor do ACNUR na Guatemala. “A Guatemala é um país de origem, trânsito, retorno e refúgio. Junto com os nossos sócios, estamos organizando uma Rede Nacional de Proteção para oferecer assistência e informação para as pessoas que fogem de violência e de perseguição”.
Centenas de pessoas que passaram por longas e perigosas viagens encontraram segurança e dignidade desde que a Casa do Migrante abriu.
“A Igreja doou a terra para a construção da Casa. Desde o início, a ideia foi ter um espaço para o uso produtivo da terra em favor da comunidade e das pessoas abrigadas na Casa, incluindo refugiados e solicitantes de refúgio, assim como para o funcionamento da Casa”, comentou o Diretor da Casa, Padre Paco Ortega, um sacerdote espanhol de 75 anos.
Com o apoio do ACNUR, o sonho de criar uma casa autossustentável por meio de cultivos e reservatórios tornou-se uma realidade.
O padre Paco Ortega contou, de forma orgulhosa, porém discreta, que “no dia 3 de fevereiro de 2017, enchemos os tanques de água e, dez dias depois, colocamos 600 pequenas tilápias dentro”.
As tilápias foram doadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Alimentação da Guatemala. Os peixes eram tão pequenos que foram transportados em sacos plásticos. Em alguns meses, serão 10 vezes maiores e estarão prontos para serem usados na cozinha.
O administrador da Casa espera que “possamos oferecer boa comida para os nossos hóspedes e aproveitar da melhor forma possível os 1.200 metros quadrados de horta. Isso nos permitirá ser menos dependentes das doações das paróquias locais e nos ajudará a diversificar o menu”.
Um dos objetivos é que a comunidade local preste apoio à horta de diferentes formas. “Os peixes excedem às nossas necessidades. Vamos tentar vendê-los no comércio local para ajudar a cobrir os gastos de manutenção da casa” comenta o novo administrador.
A horta, além de ter uma finalidade produtiva, é um exemplo de solidariedade, tanto para os hóspedes como para a comunidade. Abrahan Suyen, ponto focal da Rede de Proteção e Monitoramento de Petén, apoiada pelo ACNUR, fala sobre o valor deste espaço para os hóspedes da Casa do Migrante: “Quando as pessoas chegam, geralmente estão cansadas, com fome e cheias de estresse e ansiedade. Então, alguns começam a nos ajudar na horta, a mantê-la limpa, a regar e a cuidar das plantas. Eles sabem que não vão estar aqui para a colheita, mas é uma maneira de relaxar e permite que se distraiam nesse tempo difícil de suas vidas.
“A Casa Betânia tornou-se um lugar seguro para os solicitantes de refúgio e para as pessoas que estão em trânsito pela Guatemala. O local não oferece somente assistência e alojamento, mas também oportunidades de crescimento pessoal, de trocas com a comunidade e orientações sobre como solicitar refúgio tanto na Guatemala como no México”, comentou Marco Procaccini, Representante do ACNUR em Santa Elena, Petén.
A comunidade também se mostrou solidária com os refugiados e solicitantes de refúgio por meio da horta. Em uma ocasião, mais de 30 agricultores de zonas próximas ajudaram, com suas pás e machados, na abertura de sulcos.
No final do dia, quando o sol está se pondo e os novos hóspedes estão chegando na Casa, é comum encontrar o Padre Paco, o Abrahan e outras pessoas passando tempo na horta. Esse é um momento de piadas e de camaradagem. Eles trocam ideias e dicas de como plantar as sementes e sonham com as plantações que um dia colherão.