Nadador sírio inicia participação da Equipe Paralímpica de Refugiados em Tóquio 2020
Nadador sírio inicia participação da Equipe Paralímpica de Refugiados em Tóquio 2020
Ele se apaixonou pela natação ainda muito jovem e começou a nadar com apenas cinco anos de idade. Seu pai era treinador de natação e na juventude conquistou duas medalhas de prata no Campeonato Asiático. Ibrahim sonhava em seguir os passos do pai e um dia representar seu país nas Olimpíadas. “Eu nadei, fiz judô e outros esportes de forma bastante competitiva. Eu só não queria treinar com meu pai porque ele era muito duro com seus atletas”, relembra.
Tudo mudou em 2011, quando os conflitos e a violência na Síria explodiram. “Não conseguia treinar. Não tínhamos permissão para sair. Esse foi o início dos tempos mais difíceis na Síria”, conta. No início de 2012, a situação na região se agravou e seus pais, com seus 13 irmãos, tiveram que deixar sua casa em busca de um lugar mais seguro. O jovem de 22 anos ficou para trás.
A vida do atleta se transformou quando um de seus amigos estava indo embora de sua casa e foi atingido por um atirador. “Ele caiu no chão e clamava por socorro. Eu sabia que se fosse ajudá-lo, também poderia levar um tiro. Mas decidi que precisava ajudar porque sabia que nunca seria capaz de me perdoar ao vê-lo morrer no meio da rua.”
Segundos depois, uma bomba explodiu quando ele e outras três pessoas tentavam ajudar o amigo. Ibrahim perdeu a perna direita na explosão e seu tornozelo esquerdo foi gravemente ferido, além de ter sofrido outros ferimentos. Por causa da guerra, era difícil encontrar profissionais e instalações médicas, e o médico que cuidou de suas feridas era, na verdade, um dentista.
Depois do incidente, o nadador se viu em uma cadeira de rodas e precisava de muitos cuidados. Suas esperanças e ambições foram destruídas com a explosão. Três meses depois, ele decidiu que era hora de procurar um lugar mais seguro para morar, onde pudesse receber um tratamento digno, humano. Com a ajuda de um amigo, cruzou o rio Eufrates e chegou ao sudeste da Turquia, onde a situação ainda não era estável o suficiente. Viajou até Istambul, onde conheçeu outras pessoas sírias que o ajudaram a encontrar um local para morar.
Da Turquia, Ibrahim decidiu ir até a Grécia, onde conheceu um médico especialista em próteses. Em maio de 2014, um mês após receber sua prótese, encontrou um clube esportivo que o acolheu não como nadador, mas como jogador de basquete em cadeira de rodas.
Por quase um ano, ele dividiu seu tempo entre o trabalho como faxineiro, os treinos e a constante busca por uma piscina e clube que o aceitassem. “Foi a piscina olímpica durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2004 em Atenas. Poder treinar naquela piscina depois da minha jornada como refugiado me motivou a continuar na esperança de que um dia eu pudesse transmitir uma mensagem para o mundo inteiro”, afirma com seu olhar esperançoso.
Seis meses depois, houve um campeonato de natação em Atenas e Ibrahim terminou em primeiro lugar em uma das provas. Isso lhe rendeu um convite alguns dias depois para o Campeonato Nacional de Natação da Grécia, onde ganhou ouro e prata em duas das provas. Com esses resultados, o nadador estava no radar dos oficiais do esporte gregos que souberam de sua história como refugiado.
Em abril de 2016, ele foi convidado a carregar a tocha olímpica por um abrigo para refugiados em Atenas como representante das pessoas refugiadas em todo o mundo. Em uma entrevista na época, ele disse que tinha a esperança de que um dia, refugiados pudessem participar dos Jogos Paralímpicos.
Na Paralimpíada do Rio de Janeiro, o sírio foi o porta-bandeira e carregou a Bandeira Paralímpica no Maracanã, durante a cerimônia de abertura, representando a primeira Equipe Paralímpica de Refugiados. Os Jogos Rio 2016 contou com dois atletas refugiados: ele e o lançador de disco iraniano Shahrad Nasajpour.
“Quero que todos os refugiados tenham oportunidades no esporte. Não consigo imaginar minha vida sem o esporte. Eu posso parar de comer, mas não consigo parar de praticar esportes na minha vida. É o que me faz continuar.”
Ibrahim faz parte agora do time de refugiados com outros cinco atletas paralímpicos e afirma que, com a drástica pandemia da Covid-19, as pessoas estão mais interessadas em conhecerem histórias de resiliência. “Foi muito sofrimento e muita resistência em minha jornada. Por ser uma pessoa com deficiência e também ser refugiada, tive que ir de um lugar para outro sem saber o que o futuro traria”, completa.
Confira os detalhes da agenda de competição do atleta, de acordo com o horário de Brasília:
Natação | Ibrahim Al Hussein: 26/08 (5ª feira), às 10h55
Mais informações sobre a Equipe Paralímpica de Refugiados está disponível em www.acnur.org.br/timederefugiados