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“Oi mãe... Sou eu, Mohamed”

Comunicados à imprensa

“Oi mãe... Sou eu, Mohamed”

3 Janeiro 2020
O refugiado Mohamed Daood Ali posa para foto em frente ao Centro de Trânsito de Emergência de Gashora depois de ter chegado às instalações na noite anterior © ACNUR / Tobin Jones

Os refugiados retirados dos centros de detenção na Líbia escapam de espancamentos, extorsões, torturas e estupros. Agora em Ruanda, eles também encontram alívio ao se reconectar com segurança à família.


Um simples telefonema pode significar muito para os entes queridos que ficaram em casa e podem ter pensado o pior depois de tanto tempo sem contato.

Mohamed Daood Ali, um refugiado da região de Darfur, no Sudão, não falou com sua mãe nos dois anos em que esteve em um centro de detenção na Líbia. Ele deixou Darfur e viajou para a Líbia na esperança de atravessar o Mar Mediterrâneo e chegar ao continente europeu, mas nunca conseguiu.

“As coisas não aconteceram do jeito que eu esperava.”

Mohamed respira fundo e disca um número enviado a ele por um parente no Facebook. É a primeira vez que ele consegue se comunicar livremente desde que foi detido.

“Oi mãe”, diz, depois que a voz de uma mulher responde. Com um telefone celular pressionado contra o ouvido, ele está sentado em um degrau do lado de fora de sua nova acomodação em uma instalação de trânsito para refugiados em Gashora, no sudeste de Ruanda.

“Com quem estou falando?”, pergunta a mãe em árabe.

“Sou eu, Mohamed”, responde.

“Mohamed Daood? Mohamed Daood, como você está?” Ela diz, e ri de surpresa.

Mohamed faz parte do grupo de centenas de refugiados que, vindos da Líbia, desembarcaram em Ruanda desde setembro em voos de evacuação organizados pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados. A agência ajudou 2.250 refugiados e solicitantes de refúgio a deixar a Líbia em 2019, incluindo 840 que foram reassentados em outros países.

Em 2019, mais de 1.000 pessoas morreram tentando atravessar o Mar Mediterrâneo. Telefonemas como o de Mohamed são uma alegria para os parentes preocupados que temem o que pode ter acontecido com seus entes queridos nessas travessias. Eles também podem trazer emoções contraditórias.

“Estou em Ruanda, mãe”, diz Mohamed, com lágrimas escorrendo pelo rosto. “As coisas não aconteceram do jeito que eu esperava.”

“Minha mãe disse que lá não era um lugar seguro para mim.”

O estudante de contabilidade de 32 anos fugiu de Darfur, região no oeste do Sudão que está devastada por conflitos desde 2003, quando rebeldes pegaram em armas contra o governo. Sua mãe pediu que ele fosse embora depois que ele foi preso em um protesto estudantil e libertado com um aviso de nunca falar sobre Darfur.

“Minha mãe disse ‘este não é um lugar seguro para você. Apenas encontre um lugar seguro ou talvez você seja morto’”, lembra Mohamed. “Muitos estudantes foram mortos.”

Sua família reuniu o pouco dinheiro que pôde para mandá-lo embora em segurança em uma jornada que o levaria ao Egito e depois à Líbia.

As pessoas que entram ou tentam deixar a Líbia sem documentação válida frequentemente correm o risco de serem presas e detidas. Mohamed tentou atravessar o Mediterrâneo de barco, mas foi preso em Trípoli, capital da Líbia.

“Quando chegamos [ao centro de detenção], havia pessoas que não viam o sol há um ano”, disse. “As pessoas dizem que você é escravo e te espancam. Não há comida.”

Cerca de 2.500 refugiados e solicitantes de refúgio estão em centros de detenção na Líbia, segundo o ACNUR. Cerca de 306 foram evacuadas para Ruanda graças a um acordo entre o governo do país, o ACNUR e a União Africana.

Tais exemplos de solidariedade foram apresentados no Fórum Global sobre Refugiados. O evento reuniu governos, organizações internacionais, autoridades locais, sociedade civil, setor privado, membros da comunidade anfitriã e refugiados para discutir as melhores políticas para proteger refugiados e ajuda-los a prosperar e encontrar soluções que os permitam reconstruir suas vidas.

Mohamed agora está ajudando nas traduções para o árabe no centro de trânsito e diz que está feliz em Ruanda, mas espera ser reassentado em outro país para começar uma nova vida.

“Tudo continua igual no meu país, não posso voltar. Preciso continuar meus estudos e trabalhar duro para ajudar meu pessoal - essa é minha esperança agora”, diz.