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Pais se unem e constroem salas de aula em campo de refugiados

Comunicados à imprensa

Pais se unem e constroem salas de aula em campo de refugiados

2 Outubro 2020
Alunos da escola primária aprendem sobre as partes do corpo nas aulas de inglês no assentamento Makpandu, no Sudão do Sul © ACNUR/Elizabeth Marie Stuart

Fileiras organizadas de carteiras de madeira alinham-se nas paredes da sala de aula. Pequenos montes de pó de giz branco, rosa e azul ficam nos cantos. Apagados às pressas no final de uma lição, os restos de diagramas científicos são quase visíveis no quadro-negro desta escola no campo de refugiados de Makpandu, no estado de Equatoria Ocidental, no Sudão do Sul.

Como outras escolas em Makpandu, este é um lugar próspero para a aprendizagem. Como os governos fecharam temporariamente as escolas para mitigar o risco de um surto de coronavírus, a sala de aula está estranhamente silenciosa. Algo está faltando: os alunos.

Adaptar-se às limitações impostas pela COVID-19 tem sido especialmente difícil para 85% dos refugiados do mundo que vivem em países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos. Telefones celulares, laptops e boa conectividade geralmente não estão prontamente disponíveis para as comunidades deslocadas para que os estudos sigam online.

Mas Makpandu tem pelo menos uma vantagem: pais entusiasmados e engajados. Com um pouco de apoio do ACNUR, os pais da área - incluindo refugiados e população local - construíram salas de aula adicionais para reduzir a aglomeração nas escolas primárias e secundárias, fundaram uma pré-escola dirigida por voluntários, organizaram cursos de informática, estabeleceram ligas juvenis de futebol e vôlei - e mais.

“Você não deixa sua mente para trás quando foge para outro país”

Um desses pais é Justin, que tem seis filhos. A educação das crianças é vital, ele insiste, talvez ainda mais após o deslocamento. “Você não deixa sua mente para trás quando foge para outro país”, afirma.

O homem de 42 anos trouxe seus filhos da República Democrática do Congo para o Sudão do Sul em 2010 depois de ver seu vizinho ser assassinado e três sobrinhos jovens sequestrados pelo grupo armado conhecido como Exército de Resistência do Senhor, em tradução livre.

Depois que a família fugiu para o Sudão do Sul, os filhos de Justin tiveram a sorte de se matricular em escolas apoiadas pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, em Makpandu. A escola secundária local foi classificada entre as 10 melhores do Sudão do Sul por três anos consecutivos e, em 2019, sete dos 10 alunos com melhor desempenho do país eram dessa escola local.

Seus filhos amam tanto a escola, afirma Justin, que sua filha começava a importuná-lo assim que ele a buscava na pré-escola todos os dias: “Quando é que vou voltar? Quando posso voltar?”

A forte reputação das escolas de Makpandu acabou sendo um desafio. Ansiosos para ter acesso a uma educação de alta qualidade, mais e mais pais sul-sudaneses de outras partes do estado começaram a mandar seus filhos para morar com amigos ou parentes próximos ao campo de refugiados para que pudessem ser matriculados. Em pouco tempo, havia mais alunos do que carteiras, e as turmas aumentaram para mais de 100. Algumas crianças sentavam no chão na frente ou atrás, cotovelo com cotovelo.

Enquanto todos estão animados com o impacto da escola, o vice-diretor e professor Simon Goaniko diz que a popularidade da escola apresenta um desafio. “Tivemos que começar a usar um sistema de rodízio para ter certeza de que conseguiríamos colocar todos os alunos na sala de aula.”

Não querendo que nenhuma criança perdesse a chance de estudar, os pais - tanto locais quanto refugiados - se uniram para construir do zero várias novas salas de aula para a escola primária e secundária local.

Sem suprimentos disponíveis, eles pediram a uma plantação próxima para que doasse os restos de madeira que sobravam da colheita, e recrutaram o ACNUR para transportar o material até Makpandu. Cerca de 125 famílias arrecadaram 250 libras do Sudão do Sul (cerca de US$ 0,7 por família) para comprar materiais como pregos, antes de começarem a trabalhar na construção.

Hozana, 39, refugiada congolesa e mãe que ajudou a construir as novas salas de aula, diz que a educação pode ser a chave para um futuro melhor. “Não quero que meus filhos enfrentem os mesmos desafios que enfrentei na vida. Acredito que ter uma boa educação é o primeiro passo.”

Ninguém poderia ter previsto que essas novas salas de aula logo estariam vazias. Hoje em dia, alunos como a filha de Justin estão se perguntando quando poderão voltar para a escola - por um motivo muito diferente.

O envolvimento dos pais é ainda mais importante em meio ao fechamento de escolas por conta da COVID-19, afirma Nur Issak Kassim, chefe do Escritório de Campo do ACNUR em Yambio. Ele supervisiona o assentamento de refugiados de Makpandu.

“Devemos apoiá-los e capacitá-los, e fazer o que for necessário para garantir que levemos o aprendizado aos lares das crianças, a fim de não permitir qualquer lacuna em seus estudos”, diz. “Pais, professores e parceiros precisam se organizar e pensar de forma criativa para garantir que as crianças recebam apoio durante esta perigosa era de pandemia”.

O próprio Justin se oferece para dar aulas de informática para adultos três vezes por semana. O ACNUR doou laptops para apoiar o projeto, mas essas tecnologias estão fora do alcance da maioria das famílias de Makpandu. Mesmo assim, as crianças puderam continuar aprendendo sintonizando as aulas pelo rádio e estudando por meio de pacotes de dever de casa pré-preparados.

Justin espera poder ver todos os seus filhos de volta à escola em breve, estudando juntos na sala de aula e não em casa. Ele se lembra com carinho de assistir à aula de pré-escola de sua filha, as crianças com os braços em volta dos ombros dos colegas, cantando.

"Obrigado, mamãe, obrigado, papai!", as crianças cantaram. “Por amar o Sudão do Sul e apoiar o Sudão do Sul!” Elas se movimentavam para frente e para trás - sudaneses do sul e refugiados - como um só grupo.


A educação é um direito humano e tem o poder de transformar vidas. Mesmo assim, 48% das crianças refugiadas estão fora da escola.

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