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Para refugiado angolano, seu aniversário de 50 anos o conduz a um momento decisivo

Comunicados à imprensa

Para refugiado angolano, seu aniversário de 50 anos o conduz a um momento decisivo

Para refugiado angolano, seu aniversário de 50 anos o conduz a um momento decisivoFazer 50 anos é um evento significativo na vida de muitas pessoas, uma oportunidade para refletir sobre o estilo de vida que se tem levado e, às vezes, planejar um novo rumo.
1 Março 2012

PONTA NEGRA, República do Congo, 1º de Março (ACNUR) – Fazer 50 anos é um evento significativo na vida de muitas pessoas, uma oportunidade para refletir sobre o estilo de vida que se tem levado e, às vezes, planejar um novo rumo para o futuro.

Para Gomez, refugiado durante quase todo o período de sua vida adulta, seu aniversário de 50 anos resultou na importante decisão de voltar para a casa, um vilarejo na Angola, que deixou há 33 anos.

Gomez faz parte de um grupo de 20 refugiados que retornarão à casa, na província angolana de Cabinda, com o apoio do programa de repatriação voluntária do ACNUR. Ele fará parte do primeiro grupo de 800 refugiados angolanos que residem no Congo e que voltarão para casa graças a esse novo plano de repatriação.

“Eu criei minha família, todos meus filhos nasceram aqui”, disse Gomez. “Esse país sempre será importante para mim. Mas já eu tenho 50 anos e é hora de voltar para casa”.

Ele deixou voluntariamente a Angola em 1979, quando era um estudante de 17 anos. Vivia com seus sete irmãos e irmãs, no vilarejo de Likonge, província de Cabinda. Sua mãe, viúva, trabalhava no campo para garantir a sobrevivência de seus filhos.

O país estava sendo devastado por uma guerra civil entre os antigos movimentos de libertação: Movimento Popular para a Libertação da Angola (MPLA), União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e a Frente Nacional de Libertação de Angola. Gomez era ainda um adolescente e não estava envolvido em nenhum desses movimentos quando o conflito chegou em sua vila em 1979.

Sua mãe preocupada com os filhos se juntou a outros que fugiam da violência que se instaurava na Angola. “Não estava claro para ninguém como poderia ser a nossa vida, mas nós partimos para sobreviver, assim como todos ao nosso redor. Naquele momento eu era tão pequeno e segui as decisões da minha mãe”.

Quando a família chegou no campo de refugiados de Malolo, no sul da República do Congo, muitos outros refugiados já estavam lá. A vida foi dura e Gomez recebeu um conselho:

“‘Se você quer sobreviver aqui, você tem de casar o mais cedo possível porque pelo menos, sua mulher tomará conta de você. Você precisa comer’”. E, por sorte eu conheci a futura mãe dos meus filhos naquele mesmo ano, uma refugiada angolana também. Meu primeiro bebê nasceu em um campo, mas eu estava feliz porque era pai pela primeira vez”.

Depois de aproximadamente 20 anos com sua família em Malolo, Gomez foi surpreendido por outra guerra civil. O conflito étnico congolense o forçou a mudar, com sua mulher e seus filhos, para Ponta Negra, uma cidade no lado Atlântico do Congo.

A família toda se tornou refugiada, registrada pelo ACNUR, desde então. Gomez teve 5 filhos e trabalhava ocasionalmente como enfermeiro no campo, mas as tradições sociais lançaram à família um novo desafio que fortaleceu sua determinação de regressar à Angola.

“Há três anos minha mulher decidiu visitar Cabinda com dois de nossos filhos, para vocês terem uma idéia de como nossa vida tinha mudado. Mas quando ela chegou, seu avô disse que depois de tantos anos juntos deveríamos nos casar oficialmente. Como eu não tinha dinheiro para o casamento, sua família impediu-a de voltar. Foi muito duro para mim”.

Desde o acordo de paz em abril de 2002 que deu fim a 30 anos de conflito na Angola, uma das guerras civis mais longas e brutais ocorridas no continente africano, milhares de refugiados retornaram para o país. Aproximadamente 800 refugiados angolanos, a maioria de Cabinda, continuam vivendo na RDC.

Gomez e seus três fihos farão parte do grupo de 20 refugiados desse campo que voltará para Cabinda graças a um acordo feito entre o ACNUR e os governantes da República do Congo e Angola em outubro de 2011. O ACNUR está acompanhando o retorno de cada um deles.

“Não foi uma decisão fácil”, disse Gomez, que durante seu período como refugiado perdeu 3 irmãos e sua mãe. “Mas as pessoas que já partiram nos enviaram mensagens positivas sobre a nova vida na Angola e é por isso que tenho força para voltar. Nosso país está se recuperando”.

A vida na Angola pode ser uma luta diária. Enquanto Gomez relembra o português da Angola, seus filhos falam o francês da República do Congo. Entretanto, sua prioridade é encotrar sua mulher e convencer sua família a aceitá-lo por mais que não tenha casa própria nem terra. Gomez ama a mulher com quem criou 5 crianças e dividiu uma vida de refugiados por 33 anos.

“Posso te pedir para rezar pelo meu sucesso? Mais orações me ajudarão”.

Por Daniela Livia Bîciu, em Ponta Negra, República do Congo.