Pessoas refugiadas ampliam seus negócios com acesso à microcrédito em São Paulo
Pessoas refugiadas ampliam seus negócios com acesso à microcrédito em São Paulo
“Quando cheguei ao Brasil, achava que me acomodaria nas cidades próximas da fronteira, mas a busca por oportunidades de geração de renda fez com que eu e minha família almejasse ser dono do nosso próprio negócio, seguindo nossos caminhos pelo Brasil em busca dessa condição”, disse o venezuelano Marco Silvera, de 45 anos.
Marco chegou ao Brasil em 2019, deixando para trás toda a sua família que apostou nele como a pessoa escolhida que tem maior potencial para gerar renda a fim de promover a reunificação familiar no novo país.
As andanças movidas pelas oportunidades que Marco foi buscando possibilitaram que, após três anos no Brasil, ele pudesse trazer ao país não apenas sua esposa e seus dois filhos, mas também seus pais, sogro e sogra. Enquanto Marcos fazia bicos e trabalhava como motorista de aplicativo para abrir sua loja de conserto de equipamentos eletrônicos, seu sogro Humberto Guzmán e sua sogra Katiuska Méndez trabalham como gestores de um pequeno mercado no bairro Jardim Colonial, na zona sul de São Paulo.
O ímpeto empreendedor de ambas as famílias foi possível em razão de um empréstimo concedido pelo Banco do Povo Crédito Solidário (BPCS), instituição que firmou com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) um termo de cooperação que assegura o repasse de recursos para pessoas refugiadas e migrantes na capital paulista e na Grande São Paulo.
“Estamos seguros dos impactos sociais e dos resultados efetivos que o acesso ao microcrédito causa nos pequenos negócios, na vida de quem já empreende e precisa de apoio para ampliar sua atuação. Os empreendedores refugiados têm amplas experiências prévias, têm visão de negócio e são pontuais em quitar os empréstimos concedidos”, afirma Fabio Rodrigues, diretor executivo do BPCS.
O programa de microcrédito do BPCS concede empréstimos de pequeno valor a microempreendedores formais e informais, normalmente sem acesso ao sistema financeiro tradicional. Mesmo durante o período mais crítico da pandemia, o BPCS seguiu concedendo créditos para os empreendedores refugiados, sendo esta uma linha que teve início em 2020.
Em 2022, 134 empreendedores refugiados e migrantes foram contemplados com empréstimos da instituição financeira, totalizando o repasse de aproximadamente R$ 400 mil, a maior parte para negócios informais. Sobre o perfil da população atendida pelo BPCS, a maioria é composta por mulheres (57%) e pessoas com mais de 40 anos (38%).
Ainda que a linha de crédito para refugiados represente uma nova carteira de clientes da instituição, o perfil dos empreendedores refugiados é muito próximo ao dos brasileiros, tanto pelas demandas como pelas projeções de seus negócios no curto, médio e longo prazos, como explica Oscar Pineiro, Representante Interino do ACNUR no Brasil.
“Os empreendedores refugiados são qualificados e com suas experiências têm muito a contribuir para o desenvolvimento local, agregando saberes, inovação e conhecimentos, inclusive gerando emprego, elevando o consumo e a arrecadação. Mesmo que estejam passando por um momento de dificuldade que a adaptação ao novo mercado requer, sabem de seu potencial e buscam constantemente se atualizar e seguir aprendendo, confirma o Representante Interino do ACNUR.
A oferta de linha de crédito específica para refugiados e migrantes pelo BPCS conta com aporte de recursos da Kiva, uma plataforma internacional de microcrédito solidário que é a maior instituição de empréstimos de crowdfunding do mundo. Esta linha de investimentos possui custo reduzido, sendo este o repassado aos refugiados e migrantes, ampliando assim o escopo de empréstimo junto a esta população.
“O acesso ao capital financeiro é fundamental para que os refugiados reconstruam suas vidas no Brasil, já que, eles enfrentam enormes barreiras para encontrar oportunidades de trabalho ou iniciar seu próprio negócio. Kiva, em parceria com o Banco do Povo Crédito Solidário, está trabalhando para criar oportunidades econômicas ao fornecer pequenos empréstimos não apenas para refugiados, mas também para outras parcelas da população que normalmente ficam de fora do sistema financeiro”, afirma Carolina Fonseca, Gerente de Investimentos da Kiva para a América Latina.
Atualmente, as pessoas adultas das famílias Silvera e Guzmán formaram um grupo de empreendedores que se apoia mutuamente na gestão de seus próprios negócios, contando com a consultoria do BPCS para os avanços de cada empreendimento. Enquanto os adultos empreendem e seguem com planos de expansão, os filhos estão matriculados na escola e já dialogam com os pais sobre a possibilidade de também se tornarem empreendedores no Brasil.