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Pintores e artesãos venezuelanos expõem sua arte para a população de Boa Vista

Comunicados à imprensa

Pintores e artesãos venezuelanos expõem sua arte para a população de Boa Vista

24 Junho 2021
Artista plástico venezuelano Carlos Enrique Diaz Acuna retrata jornada de refugiados e migrantes até o Brasil e seu cotidiano em um dos abrigos da Operação Acolhida. © ACNUR/Allana Ferreira
Boa Vista, 23 de junho de 2021 – O pintor Carlos acordou cedo na manhã da última quinta-feira para se preparar para um importante evento na tarde daquele dia. Era a abertura da exposição de artistas e artesãos venezuelanos abrigados pela Operação Acolhida, e Carlos era um dos expositores.

Com 65 anos, Carlos Enrique Diaz Acuna é um dos mais de 7.500 refugiados e migrantes protegidos em um dos 13 abrigos da Operação Acolhida nas cidades de Boa Vista e Pacaraima em Roraima. Formado em Artes, ele foi professor de Artes Plásticas e Diretor do Museu da Universidad Central de Venezuela, em Caracas. Desde quando chegou ao Brasil em outubro de 2019, nunca mais tinha tido a oportunidade de expor seu trabalho ao grande público.

Carlos, assim como outros artistas e artesãos venezuelanos, expuseram seu trabalho no shopping Garden, um dos principais de Boa Vista, entre os dias 17 e 19 de junho, como parte da agenda que marcou o Dia Mundial do Refugiado (20 de junho) na cidade.

Mesmo trazendo poucas coisas do seu país durante sua jornada de deslocamento forçado até o Brasil, Carlos não abandonou seus pincéis. “Eu ainda consegui trazer comigo algumas das minhas pinturas e meus materiais”, lembra. Além dele, outros vários talentosos artistas, artesãs e artesãos buscaram proteção no Brasil.

Para criar um momento de integração entre a comunidade refugiada e os moradores da cidade de Boa Vista, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e organizações parceiras promoveram a exposição.

A exposição foi realizada em um espaço cedido gratuitamente pelo shopping Garden. Durante todos os três dias da mostra, a comunidade local visitou o espaço, conversou com os artistas e várias peças produzidas pelos refugiados e migrante foram compradas pelos visitantes.

Mohini Marques, coordenadora de escola de inglês em Boa Vista, trouxe a família para ver a exposição e adquiriu diversos itens. “Esse espaço foi algo muito importante para a cidade. Podemos conhecer o trabalho dessas pessoas e ver que podem oferecer algo independentemente de onde venham, de sua situação ou desafios que enfrentam”, diz Mohini, que ficou impressionada com a beleza dos artesanatos das etnias indígenas venezuelanas Warao e E’ñepá.

“Só no abrigo Jardim Floresta, somos 25 artesãs que mantemos a nossa cultura através do artesanato. Além das peças que fabricamos, também dançamos e cantamos, e estamos muito felizes de trazer um pouquinho da nossa cultura para a população de Boa Vista”, diz com alegria Maria Bance, 47, uma das líderes Warao do abrigo. Ela e suas companheiras fazem parte do projeto voltado às mulheres empreendedoras da comunidade Warao liderado pela A Casa Museu do Objeto Brasileiro, com apoio financeiro do programa Liderança, Empoderamento, Acesso e Proteção (LEAP) do governo de Luxemburgo e implementado pelo ACNUR, ONU Mulheres e UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas).

As atividades do Dia Mundial do Refugiado foram realizadas em parceria com a AVSI (Associação Voluntários para Serviço Internacional), FSF (Fraternidade Sem Fronteiras), FFHI (Federação Humanitária Internacional) e A Casa Museu do Objeto Brasileiro, com apoio da Força Tarefa Logística e Humanitária da Operação Acolhida e do shopping Garden.

Para o ACNUR, parcerias como esta são fundamentais para criar oportunidades de integração local e inclusão das comunidades refugiadas e migrantes. O Dia Mundial do Refugiado é um marco para celebrar a capacidade de superação dessas pessoas, que mesmo forçadas a se deslocar, não vieram de mãos vazias e têm muito talento, experiências e conhecimentos para compartilhar e colaborar com a população local.

“Em conjunto com os parceiros, o ACNUR homenageia essas pessoas por sua força e resiliência E por não desistirem de mostrar o seu trabalho. Elas têm muito a oferecer à população que as acolhe. Por isso, promover a integração é essencial neste processo de recomeço de pessoas comuns, como eu e você, mas que foram forçadas a saírem de seus lares”, enfatiza Susana Camacho, oficial de Programa do ACNUR em Boa Vista.

“Creio que a exposição alcançou grande êxito”, diz seu Carlos que teve todas suas obras vendidas durante os dias de exposição, além de encomendas para trabalhos futuros. “Pessoalmente estou muito agradecido ao ACNUR e às demais organizações por proporcionarem esse momento. Essa era a oportunidade que eu esperava, e quem sabe em um ano posso fazer uma exposição individual aqui em Roraima”. Carlos ainda tem esposa e filhos na Venezuela, que aguardam para se reunir com ele no Brasil.

Agenda Dia Mundial do Refugiado nos abrigos

Uma série de atividades marcou a agenda do Dia Mundial do Refugiado dentro dos abrigos da Operação Acolhida – resposta do governo brasileiro para o fluxo de refugiados e migrantes da Venezuela ao Brasil. Foram torneios esportivos, oficinas de costura, sabonetes artesanais, desenho para crianças, além de apresentações culturais de dança, música e poesia.

O Abrigo Pricumã, que é estruturado para receber pessoas com necessidades específicas, foi palco de uma celebração de extrema inclusão. No modelo de uma “virada cultural”, shows de músicas tradicionais, danças e exposição de fotos foram compartilhados pela comunidade refugiada e migrante. “Esse é nosso dia para celebrar a força de sobreviver a tudo que passamos”, diz o rapper Samuel Josué Hernandez, de 34 anos, que mesmo se recuperando de uma cirurgia, em cadeira de rodas, fez uma apresentação para a comunidade.

Nos abrigos para as populações indígenas, as atividades aconteceram durante toda a semana com a presença e participação constante da população abrigada. No abrigo Tancredo Neves, jogos de futebol, vôlei, danças, encenações, desenhos, poesias e rodas de conversa foram algumas das ações que aconteceram durante a semana passada.

“Essa semana foi boa para celebrar a resiliência do nosso povo nessa fase tão difícil para nós e para todos os refugiados que estão pelo mundo”, lembrou Gabriel, jovem indígena Warao e um dos responsáveis por organizar as atividades durante a semana.