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Professores em Honduras enfrentam ameaças dentro e fora da sala de aula

Comunicados à imprensa

Professores em Honduras enfrentam ameaças dentro e fora da sala de aula

2 Fevereiro 2022
As escolas em Honduras já foram proibidas para as gangues, mas os educadores dizem que isso mudou © ACNUR/Biel Calderón

No início ano letivo, o diretor Horácio Montes* se prepara não apenas para a chegada de seus alunos, mas também de visitantes indesejados. Membros da gangue que controla grande parte do bairro Laureles*, na capital hondurenha Tegucigalpa, onde a escola de Horácio é localizada, exigem que ele entregue as chaves.


Se tornou uma prática muito comum em Honduras as gangues usarem as escolas como abrigos para guardar drogas ou armas, e a escola maternal de Horácio não é exceção.

“Antigamente as escolas estavam longe dos ataques violentos, os espaços eram protegidos pela comunidade”, disse Horácio, 47 anos. “Mas agora você descobre que as escolas onde eles (os membros de gangues) se infiltraram se tornaram centros de tráfico de drogas. Já tivemos crianças praticamente tropeçando em armas (na escola)”, disse. “Elas encontraram balas e cartuchos e nos entregaram.”

Essas “tomadas” das escolas são apenas um dos perigos que os professores em Honduras enfrentam. Alguns são obrigados a pagar propina para trabalhar, desembolsando dinheiro toda vez que cruzam as fronteiras invisíveis que separam o território de uma gangue do território escolar. Outros são vítimas de extorsão, intimidação e ameaças de membros de gangues, que às vezes incluem seus próprios alunos ou os pais de seus alunos. As professoras são particularmente vulneráveis, pois podem ser alvos de assédio sexual ou mesmo de agressão sexual.

“Vimos vários de nossos colegas mortos no cumprimento do dever”

Como adultos de confiança, os professores hondurenhos também se encontram na linha de frente do deslocamento interno, que se acredita afetar mais de 247 mil pessoas na pequena nação centro-americana. Os professores dizem que os alunos os procuram para conversar sobre serem alvo de ameaças que muitas vezes acabam forçando-os a abandonar a escola para buscar segurança em outra região. Mas essas confidências podem involuntariamente levar os professores a se envolverem em conflitos de gangues potencialmente mortais, forçando-os a fugir também.

Um relatório recente da Ouvidoria de Honduras constatou que, de 2016 a 2021, cerca de 269 professores foram deslocados ou estavam em risco iminente de serem deslocados, embora esse número inclua apenas os casos em que foram apresentadas queixas oficiais, o que significa que o verdadeiro número poderia ser muito maior.

Uma investigação de 2016 do Comitê Docente, uma organização que representa professores hondurenhos, juntamente com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a ONG Save the Children, identificou os professores como um dos grupos em Honduras mais suscetíveis a serem empurrados para o deslocamento interno.

“Vimos vários de nossos colegas mortos no cumprimento do dever”, disse Esperanza Flores*, uma professora que também é membro do Comitê Docente. O grupo trabalha desde 2016 para encontrar soluções para os problemas enfrentados pelos professores de Honduras. O objetivo é mantê-los em seus empregos e em suas comunidades de origem, mas aqueles que estão em maior perigo são encaminhados ao ACNUR, que trabalha para realocá-los em segurança, dentro ou fora de Honduras. Ajude o ACNUR a continuar o seu trabalho de proteção. Doe agora mesmo.

“É por causa dos alunos que fazemos esse trabalho”

Miguel López*, o diretor de 51 anos de uma escola no bairro de Pedregal*, em Tegucigalpa, comparou os educadores de Honduras a “mães galinhas que cuidam de seus filhotes”.

“Há momentos em que colocamos nossa própria integridade física em risco para proteger nossos alunos”, disse, acrescentando que, embora os professores hondurenhos “estejam em risco, nós mesmos não temos nenhum tipo de proteção”.

Alba Flores*, a vice-diretora de uma escola primária de Tegucigalpa, concorda. “Nós nos envolvemos”, disse ela, acrescentando, “a verdade é que é muito arriscado para nós porque sem querer, acabamos sabendo tudo sobre a vida de nossos alunos”.

Paradoxalmente, a pandemia do COVID-19, que afetou a vida de milhões de pessoas em todo o mundo, proporcionou um descanso para os professores hondurenhos. O aprendizado online permitiu que eles evitassem muitas das armadilhas que encontravam no caminho de ida e volta da escola e nas salas de aula.

Mas como a esmagadora maioria dos alunos não tinham condição de ter um computador ou conexão de internet, muitos professores assumiram a responsabilidade de desafiar as fronteiras invisíveis entre territórios de gangues para entregar materiais impressos a seus alunos para que eles pudessem acompanhar seus estudos.

Os professores assumem voluntariamente esses riscos por seus alunos, diz a diretora adjunta Alba.

“Sempre seremos seus professores e amigos porque os amamos e é por causa deles que fazemos esse trabalho.”

*Os nomes e locais foram alterados por questões de proteção.