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Programa treina refugiados e etíopes para o mercado de trabalho

Comunicados à imprensa

Programa treina refugiados e etíopes para o mercado de trabalho

12 Novembro 2019
Yanchinew, uma etíope, prepara comida como parte de um curso de culinária para refugiados e etíopes na Escola Politécnica Nefas Silk, em Addis Abeba, Etiópia © ACNUR / Eduardo Soteras Jalil

Durante toda a manhã, Hanan Seif Hassan, uma refugiada de 32 anos do Iêmen, e suas amigas cortaram cebolas, descascam cenouras, ferveram lentilha, cozinharam arroz e prepararam samosas para vender como petiscos populares.


As mulheres se tornaram amigas enquanto participavam de um curso de treinamento vocacional na Escola Politécnica Nefas Silk de Addis Abeba, a primeiro do gênero na Etiópia, onde refugiados e etíopes podem juntos estudar assuntos que vão desde culinária e marcenaria a mecânica.

Hanan não tinha certeza do que esperar no início. Ela se preocupava em se encaixar por ser uma estudante madura e refugiada. Suas preocupações desapareceram quando ela conheceu suas colegas de classe, incluindo sua melhor amiga etíope, Yanchinew Gebeyehu, de 26 anos.

“Somos muito próximas e nos ajudamos muito em nossos estudos”, diz Hanan. “Sempre que algo não está claro, outra pessoa do grupo explica”.

Passar um tempo com suas colegas etíopes também ajudou Hanan a compreender e apreciar melhor seu novo lar.

“Aprendemos o idioma, a cultura e o modo de vida de nossos colegas de classe. “Nossa maneira de pensar sobre a vida também mudou”.

Yanchinew também aprecia as amizades que fez na faculdade.

“Não temos tratamento especial para os refugiados, nós os tratamos como cidadãos.”

“Hanan é uma boa pessoa. Ela é humilde e sempre me diz o que está sentindo. Somos muito próximas, como irmãs. Aprendi muito com ela", afirma Yanchinew.

A iniciativa da Escola Politécnica Nefas Silk faz parte do Programa de Qualificação e Emprego para Refugiados e Comunidades de Acolhida (QEP, na sigla em inglês), encomendado pelo Ministério Federal Alemão de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (BMZ) e implementado pela GIZ, a agência de desenvolvimento alemã. A iniciativa busca melhorar as perspectivas de emprego na Etiópia para refugiados e etíopes.

Melese Yigzaw, reitor da Escola, explica que é vital que refugiados e etíopes tenham as mesmas oportunidades de se preparar para o mercado de trabalho.

 

“O objetivo desse treinamento é o emprego. Não temos tratamento especial para os refugiados, nós os tratamos como cidadãos”, afirma o reitor.

O reitor acrescenta que permitir que os refugiados trabalhem é essencial para que eles possam prosperar enquanto estão no exílio e possam contribuir com a economia de seus próprios países quando for seguro para eles voltarem.

“Se alguém é habilidoso e pode consertar um veículo ou cozinhar, pode gerar renda. Se você treiná-los, eles podem criar empregos onde quer que vão, mesmo quando retornam para casa”, acrescenta.

A Etiópia abriga uma das maiores populações de refugiados da África. A maioria deles vem do Sudão do Sul, Somália, Eritreia, Sudão e Iêmen.

Em janeiro de 2019, o país aprovou uma nova lei histórica para refugiados. Considerada uma das políticas de refugiados mais progressistas do mundo, a Proclamação de Refugiados concede aos refugiados o direito de obter permissões de trabalho, acessar a educação primária, registrar legalmente nascimentos e casamentos e acessar serviços financeiros e bancários.

“A Escola Politécnica Nefas Silk é um exemplo de como a inclusão de refugiados no sistema de treinamento vocacional da Etiópia pode funcionar. A nova lei abriu o caminho para que esse projeto piloto acontecesse”, diz Tobias Erbert, Coordenador do Programa GIZ, Qualificações e Perspectivas de Emprego para Refugiados e Comunidades Anfitriãs.

A iniciativa também permitiu que os professores recebessem treinamento adicional e que os alunos se beneficiassem do treinamento oferecido pelas empresas nos setores de hospitalidade e transporte. A GIZ também planeja apoiar a Escola no estabelecimento de um centro de empreendedorismo para ajudar as próximas start-ups.

Como parte de sua estratégia, a GIZ organizou uma competição para incentivar grupos de refugiados e etíopes a apresentar idéias de negócios a um painel de juízes da Escola e do mundo dos negócios. A proposta de Hanan e suas amigas para um negócio de samosas foi uma das duas vencedores. Agora, elas receberão orientação de um consultor para desenvolver seu plano de negócios.

“Nossa experiência em apoiar o empreendedorismo na Etiópia é que ensinar as pessoas a redigir um plano de negócios não é suficiente. O que é crucial é que os empreendedores recebam apoio e aconselhamento contínuos”, acrescenta Erbert.

Essas parcerias estratégicas entre o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, o setor privado e parceiros de desenvolvimento são ilustrativas de como uma abordagem mais inteligente e abrangente às situações de refugiados pode ajudar a aliviar a pressão de acolher refugiados para as comunidades anfitriãs, aumentar a autoconfiança dos refugiados e aumentar as oportunidades de reassentamento.

“Aqui estamos livres, podemos nos mudar, podemos pensar de forma independente. Sinto-me livre como um pássaro em Addis.”

Educação e acesso a trabalho seguro e digno são tópicos em discussão no Fórum Global para Refugiados, uma reunião de alto nível que será realizado em Genebra ainda este ano. Os Estados, o setor privado e outros atores anunciarão contribuições de alto impacto que darão aos refugiados a chance de usar e desenvolver suas habilidades e contribuir para o crescimento econômico das comunidades que os acolhem.

Para Hanan, a Etiópia ofereceu a ela oportunidades que ela nunca sonharia em sua terra natal.

“No Iêmen, não podemos ir à escola assim ou sair sozinhos. Aqui estamos livres, podemos nos mover, podemos pensar de forma independente. Sinto-me livre como um pássaro em Addis”, ela diz.