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Quibes, esfihas e falafel matam saudade de refugiado sírio vivendo no Rio

Comunicados à imprensa

Quibes, esfihas e falafel matam saudade de refugiado sírio vivendo no Rio

Quibes, esfihas e falafel matam saudade de refugiado sírio vivendo no RioPara muitos refugiados, o ato de alimentar-se é mais um aspecto da luta diária pela sobrevivência.
28 Outubro 2014

Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2014 (ACNUR) - Para muitos refugiados, o ato de alimentar-se é  mais um aspecto da luta diária pela sobrevivência. Para o refugiado sírio Mohamad Ghannam, porém, comer é algo muito mais poderoso.

Vivendo a mais de 10 mil quilômetros de distância da sua terra natal, ele descobriu nos restaurantes árabes do Rio de Janeiro que o aroma e o sabor de alimentos tão familiares podem transportá-lo de volta às ruas de Damasco e amenizar as saudades de casa.

Ghannam chegou ao Brasil em maio de 2014. Quando decidiu deixar a capital síria por causa da guerra civil que assolava o país, seu pensamento já estava no Rio de Janeiro. Cinco anos antes, ele havia conhecido a brasileira Angélica pela internet.

De professor de árabe à distância, virou amigo, confidente e, por fim, namorado. A gaúcha radicada na Cidade Maravilhosa fez planos para visitá-lo na Síria, mas os distúrbios que tiveram início em 2011 adiaram o encontro. À medida que os conflitos se intensificavam, tornava-se evidente que era ele quem precisava arrumar as malas.

Embora tenha nascido e vivido até os 28 anos em Damasco, Ghannam nunca teve nacionalidade síria. Na verdade, seus pais nasceram na Palestina, de onde decidiram fugir em busca de uma vida mais segura no país vizinho. Ao procurar proteção no Brasil, portanto, o filho, palestino de origem e sírio de coração, inaugurou a segunda geração de refugiados na família.

No Rio de Janeiro, Ghannam não encontrou conforto apenas nos braços de Angélica. Lar de uma antiga comunidade de imigrantes sírios e libaneses, a cidade tem diversos endereços que lembram sua Damasco natal, como lojas de especiarias e até mesmo algumas ruas de bairros mais antigos.

Mas onde ele de fato se sente em casa é nos restaurantes de comida árabe, que servem especialidades da culinária sírio-libanesa. Esfihas, quibes, kaftas, homus, falafel, arroz com lentilhas: são muitas as iguarias que vieram do Oriente Médio para entrar no cotidiano dos cariocas e de todos os brasileiros.

"Quando sinto o aroma da comida, tenho lembranças da Síria”, conta Ghannam, que ficou surpreso e ao mesmo tempo feliz de saber que a gastronomia árabe tem lugar de destaque na mesa do brasileiro.

"É incrível que pessoas de um país tão distante do meu conheçam um pouco sobre nossas tradições. Sinto orgulho dos árabes que vieram para cá, porque eles fizeram os brasileiros gostarem do meu país. Eles mostraram aos brasileiros que os árabes são pessoas boas", completa.

Atualmente, uma nova leva de sírios tem escolhido o Brasil para recomeçar a vida. Apenas nos nove primeiros meses de 2014, 1.190 conterrâneos de Ghannam tiveram o pedido de refúgio atendido pelo governo brasileiro, segundo o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE). Em todo o ano passado, este número foi de 284. No total, cerca de 1.500 refugiados sírios vivem hoje em todo o Brasil como refugiados reconhecidos pelo governo federal.

Ghannam está se adaptando bem ao novo país. Vive com a namorada, frequenta duas vezes por semana as aulas de português oferecidas gratuitamente pela Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro – parceira do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) na assistência a refugiados no Rio – e usa a internet para manter contato com os pais, que decidiram permanecer na Síria em razão da idade avançada.

Segundo ele, os brasileiros são simpáticos com estrangeiros. No caso dos árabes, ele acredita que a culinária desempenhou um papel fundamental de aproximação entre os povos. "A comida é uma ótima maneira de divulgar uma cultura. Quando você fala em falafel, fala da Síria. Assim como, quando você fala em café, fala do Brasil. Se a culinária de um país é boa, a tendência é você achar o mesmo de seu povo", argumenta Ghannam.

Além de uma ponte com sua terra natal, a comida representa também uma esperança para o sírio-palestino, que sempre teve talento no fogão e hoje trabalha como assistente de cozinha em um restaurante de Copacabana.

Após abandonar a carreira de advogado em Damasco, ele agora sonha se tornar chef de cozinha no Rio de Janeiro. "O Brasil é um país de oportunidades. Se você aproveitar a sua, pode melhorar de vida. Eu me sinto cada vez mais brasileiro. Quero ficar aqui para sempre."

 Por Diogo Felix, do Rio de Janeiro