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Rap de refugiados pede o fim da violência contra as mulheres

Comunicados à imprensa

Rap de refugiados pede o fim da violência contra as mulheres

Rap de refugiados pede o fim da violência contra as mulheresProjeto que trabalhou violência doméstica e equidade de gênero com homens resultou em uma música cantada em quatro idiomas e um videoclipe com os autores.
14 Dezembro 2017

RIO DE JANEIRO, 14 de dezembro de 2017 – Tudo começou com um pedido das mulheres em situação de refúgio à equipe do Programa de Atendimento a Refugiados da Cáritas do Rio de Janeiro, durante uma roda de conversa com o público feminino sobre violência de gênero. "Nós sabemos de tudo isso", disseram elas. "O que precisamos é que vocês falem desse assunto com os nossos maridos."

A partir de então, na perspectiva da campanha "16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres", celebrada internacionalmente entre 25 de novembro e 10 de dezembro, a equipe de Integração Local da Cáritas RJ, com o apoio do ACNUR, decidiu criar um espaço de discussão semanal com homens refugiados, casados ou não.

Embora o tema da violência contra a mulher e da equidade de gênero já tivesse sido abordado com alguns homens durante o projeto "Futebol das Nações", realizado em 2015 pela Cáritas RJ e o Maracanã, em parceria com o ACNUR, era a primeira vez que um projeto destinado exclusivamente ao público masculino tinha como ponto de partida essas questões. E, desta vez, o futebol daria lugar à música, mais especificamente ao rap, como ferramenta facilitadora das discussões.

Em outubro, as oficinas tiveram início com um grupo de 20 refugiados de Angola, Colômbia e República Democrática do Congo. Nos primeiros encontros, eles tiveram uma aproximação com o mundo do rap, a partir de referências apresentadas pelo rapper Matheus Machado, estagiário de Serviço Social da Cáritas RJ.

Em seguida, veio a troca de ideias. Em meio às conversas sobre violência doméstica e novas masculinidades, surgiram também questões como racismo, preconceito, deslocamento forçado e saudade de casa. O objetivo final era criar uma letra de rap com os pensamentos e sentimentos debatidos em grupo.

"Cada um teve uma abertura diferente para cada tema", explica a consultora em Direitos Humanos e Responsabilidade Social Gabriela Azevedo de Aguiar, que coordenou o projeto. "Decidimos que nem todos precisavam concordar ou ter a mesma visão sobre questões como equidade de gênero, mas que era importante debater em conjunto. E durante as conversas percebemos que eles queriam compartilhar sentimentos e reflexões sobre diversas questões, porque ali havia um espaço de acolhimento e de troca."

Os debates não esgotaram nenhum dos temas, sobretudo o da proposta inicial, de respeito às mulheres, mas foram importantes para promover e compartilhar uma transformação de comportamento, conforme reconhecem alguns dos participantes, como o congolês Mpembele Zoka Elisée, de 19 anos.

"Mudei alguns pensamentos que eu tinha, porque percebi que estavam errados", conta o jovem, que chegou ao Brasil em maio de 2013. "Muitas vezes nós crescemos ouvindo que um homem pode fazer tudo que quiser dentro de casa e que não deve cozinhar, lavar louça ou limpar. Agora entendo que deve haver uma igualdade na divisão das tarefas. E vi que algumas pessoas do grupo também pensam assim."

O resultado dessa transformação está refletido na música criada pelos participantes do projeto, intitulada "Metanoia", que significa mudança de mentalidade e de atitude. A letra abarcou quatro línguas diferentes, português, francês, espanhol e lingala, e ganhou versos veementes pelo fim da violência contra as mulheres, incluindo estatísticas sobre ofensas verbais, ameaças e espancamentos.