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Recrutamento armado na Colômbia obriga indígenas a saírem de suas terras

Comunicados à imprensa

Recrutamento armado na Colômbia obriga indígenas a saírem de suas terras

Recrutamento armado na Colômbia obriga indígenas a saírem de suas terrasEm uma área distante da Colômbia, já na fronteira com o Brasil, na região de Vaupés moram de 27 grupos indígenas. Cada um deles possui cultura e línguas próprias.
20 Agosto 2009

MITÚ, Colômbia, 12 de agosto de 2009 (ACNUR) – Em uma área distante da Colômbia, já na fronteira com o Brasil, na região de Vaupés moram de 27 grupos indígenas. Cada um deles possui cultura e línguas próprias. Entretanto, em virtude de conflitos e deslocamentos forçados, muitos podem não sobreviver.

A região de Vaupés é remota, com extensão de 50.000 km²  de selva e rios. Apenas 16km de rodovia pavimentada rodeiam a pequena Mitú, ligada à capital do país, Bogotá, por dois voos semanais. O rio Vaupés é o outro meio de transporte disponível para o mundo exterior.

A região é também um dos bastões do maior grupo armado irregular do país, que controla as áreas rurais, ao passo que as forças armadas nacionais, com dificuldade, mantêm presença nas zonas limítrofes da cidade. Muitas comunidades ribeirinhas vivem em estado de isolamento forçado e confinamento. Aos poucos, a situação da falta de segurança deixa a população sem alternativas a não ser fugir.

 “Durante os últimos anos, a principal causa do deslocamento forçado tem sido o recrutamento forçado de crianças indígenas por grupos armados ilegais”, diz um funcionário público de Mitú ao ACNUR. Em 2008, cerca de 500 famílias fugiram de seus lugares de origem, a maioria porque seus filhos estavam a ponto de serem recrutados por grupos ilegais

Crianças de apenas 13 anos têm sido recrutados. Meninos e meninas estão em risco. O Conselho Regional Indígena de Vaupés (CRIVA) está particularmente preocupado com o recrutamento de membros de grupos indígenas que estão em risco de extinção. Um dos casos mais urgentes é o dos índios Pizamira, uma vez que eles comportam menos de 50 indivíduos e tiveram 3 crianças recrutadas no ano passado.

 “Muitos pais têm ido ao bosque buscar os seus filos, mas não os podem resgatar”, afirmou um membro do Conselho ao ACNUR.

De acordo com o CRIVA, cerca de 42 menores indígenas foram obrigados a se unir a grupos ilegais desde o início de 2008. Onze deles eram estudantes do internato de Bocas de Yi, uma comunidade indígena localizada ao longo do rio Vaupés e que abriga crianças ribeirinhas, dando-lhes oportunidade de estudar. 

Os habitantes de Bocas de Yi vivem em completo isolamento e sem acesso a serviços básicos. Uns 200 habitantes compartilham os poucos recursos existentes com 160 crianças que estudam na escola. O internato não dispõe de água, eletricidade e banheiros. Algumas crianças dormem em redes, outras dormem no chão.

 “A maioria das crianças está aqui o ano todo, em virtude da distância ou do perigo a que se expõem em ir e voltar de suas casas. As condições aqui são muito, muito duras ano após ano”, segundo um professor. “Essas crianças não têm uma esperança concreta e isso os torna terrivelmente vulneráveis às opções que pessoas inescrupulosas possam lhes oferecer”, afirmou.

Nem sempre o recrutamento forçado é realizado com violência. Um dos métodos mais comuns é fazer com que os jovens “se apaixonem”, como dizem os locais, por meio do doutrinamento e de promessas de uma vida melhor. Segundo o direito humanitário, todo recrutamento de menores por grupos armados ilegais é definido com recrutamento forçado, assim a criança acredita ou não que deve unir-se ao grupo.

Em vez de arriscarem-se a perder seus filhos, muitas famílias preferem fugir. Cerca de 1% da população de Vaupés, 3.000 pessoas, já deixaram os seus lugares.

O ACNUR está trabalhando com os militares em Vaupés como parte de uma iniciativa nacional de capacitação cujo objetivo é difundir um maior conhecimento dos direitos dos deslocados.

 “Na Colômbia, o efetivo militar é, pelo menos, a primeira, ou a única, presença do Estado nas comunidades em risco”, disse Roberto Mignone, representante adjunto do ACNUR na Colômbia. “As forças armadas têm um trabalho significativo a desempenhar no que se refere à proteção e prevenção do deslocamento forçado”.

Em virtude dos seus fortes vínculos culturais, sociais e econômicos com a terra, o deslocamento forçado é especialmente prejudicial para a população indígena, podendo levar ao desaparecimento de grupos inteiros. De acordo com a Corte Constitucional da Colômbia, um terço dos 90 grupos étnicos do país está em risco.

Por Marie-Hélène Verney
em Mitú, Colombia