Rede colombiana de Direitos das Mulheres recebeu hoje o Prêmio Nansen

GENEBRA, 29 de setembro de 2014 - O Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, António Guterres, apresentou ao mundo hoje a Rede Borboletas com Asas Novas, Construindo um Futuro (Red Mariposas de Alas Nuevas Construindo Futuro, em espanhol).  A ONG colombiana que trabalha em defesa dos direitos das mulheres recebeu o Prêmio Nansen para Refugiados do ACNUR em Genebra.

A Rede Borboletas atua em uma das áreas mais violentas da Colômbia, a cidade portuária de Buenaventura, onde grupos armados disputam territórios de narcotráfico. As voluntárias da Rede Borboletas arriscam suas vidas para ajudar sobreviventes do deslocamento e abuso sexual. Desde 2010 elas já ajudaram mais de mil mulheres e suas famílias. 

O Prêmio Nansen para Refugiados é a maior honraria humanitária do ACNUR. Desde 1954, quando Eleanor Roosevelt tornou-se a primeira ganhadora, mais de 60 indivíduos, grupos ou organizações foram reconhecidos por seu trabalho excepcional em favor de pessoas deslocadas, o prêmio também inclui um valor de US$100 mil para continuidade do trabalho já realizado pelo vencedor. Na cerimônia de entrega, o Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres, entregou o prêmio e a medalha Nansen às representantes da Rede Borboletas, Gloria Amparo, Maritza Asprilla Cruz e Mery Medina.

"Essas mulheres estão fazendo um trabalho extraordinário em um dos contextos mais desafiadores do mundo", disse o Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres. "Dia após dia elas lutam para curar as feridas das mulheres e crianças de Buenaventura colocando sua própria vida em risco. Não existem palavras para dimensionar a coragem destas mulheres". Referindo-se ao trabalho heroico do grupo Guterres disse: "O que elas fazem é proteger. Elas não apenas prestam assistência e apoio às vítimas, como as ajudam a se organizar para lutar por seus direitos, denunciar crimes e buscar justiça."

Utilizando os mais modestos recursos, as voluntárias da Rede Borboletas fazem seu trabalho a pé, de ônibus ou de bicicleta. Elas transitam cuidadosamente pelos bairros mais perigosos de Buenaventura para ajudar as mulheres a acessar atendimento médico e a denunciar crimes. Esta imersão nas comunidades permite a elas chegar às mulheres mais vulneráveis, mas também traz o perigo e as ameaças de grupos armados. 

Falando em nome das borboletas, Gloria Amparo contou sobre a situação de violência em Buenaventura e seu compromisso em continuar o trabalho. "Essa violência atinge todas nós, mulheres e meninas, em meio ao conflito armado de Buenaventura que já dura muitos anos ", disse ela. "A violência não só nos intimida, mas também nos afeta fisica e psicologicamente. Muitas vezes, fugir é a única saída”, disse.

"Somos apenas um exemplo dos esforços de muitas comunidades afro-colombianas, organizações e cidades que lutam pelo reconhecimento dos nossos direitos à diversidade, identidade, riqueza cultural e outras formas de viver. Pedimos sua solidariedade para que tenhamos apoio hoje e amanhã na construção do nosso futuro".

A enviada especial do ACNUR, Angelina Jolie, elogiou o trabalho das ganhadoras do Prêmio Nansen 2014. Como ativista pelo combate à impunidade da violência sexual em cenários de conflito, Jolie gravou uma mensagem especial.

"As Borboletas aproveitam sua força feminina para ajudar milhares de pessoas vulneráveis, que de outra forma não teriam acesso a seus direitos e proteção. Espero que este prêmio ajude mais pessoas a entender que temos de mudar de atitude em relação à violência sexual, assim como ajude a acabar com a impunidade", disse Jolie. 

A cerimônia de premiação no Bâtiment des Froces Motrices, em Genebra, contou com apresentações musicais de artistas apoiadores do ACNUR, como o cantor e compositor sueco-libanês Maher Zain e a cantora e compositora Rokia Traoré, do Mali. O duo de violão mexicano Rodrigo e Gabriela também se apresentou na cerimônia.

Falando sobre o Prêmio Nansen, Zain disse que sua recente visita com o ACNUR a refugiados sírios no Líbano o fez apreciar ainda mais o impacto do trabalho da Rede Borboletas, um "trabalho que salva vidas". Rokia Traoré reconheceu a grande "coragem e força" mostrada pelas Borboletas e a importância de sua postura contra a violência sexual e baseada no gênero. Rodrigo e Gabriela também disseram que era uma grande honra reconhecer o feito único das Borboletas.