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Refugiado afegão remove obstáculos que impedem crianças com deficiência de irem à escola

Comunicados à imprensa

Refugiado afegão remove obstáculos que impedem crianças com deficiência de irem à escola

23 Fevereiro 2022
Refugiado afegão de segunda geração Jamil ur Rehman, 33, e seu filho em Lower Dir, Paquistão. © ACNUR/Saiyna Bashir

Refugiado afegão de segunda geração, Jamil ur Rehman nasceu no Paquistão.

Como pessoa com deficiência e também como refugiado, ele enfrentou uma série de obstáculos ao tentar estudar.

A visão enraizada da comunidade sobre a deficiência significou que ele foi ativamente impedido de frequentar a escola em sua aldeia no noroeste do Paquistão.

Os vizinhos no distrito de Lower Dir, na acidentada província paquistanesa de Khyber Pakhtunkhwa, onde ele morava, diriam que ele nunca poderia se tornar professor ou soldado.

"Ninguém pensou que eu pudesse fazer alguma coisa", diz ele. "Meus pais estavam interessados [em me mandar para a escola], mas alguns anciãos da comunidade colocaram obstáculos - eles disseram que eu era deficiente e não podia ser educado". Jamil sabia melhor.

"Eu quero trazer sorrisos para o rosto dos outros"

Agora com 33 anos, ele tem dedicado sua vida a remover as múltiplas barreiras que impedem os refugiados com deficiência de irem à escola no Paquistão e a mudar as atitudes sobre o que eles podem alcançar uma vez na sala de aula.

"Sendo deficiente, posso entender os sentimentos que as pessoas com deficiência têm e a dor que sentem", diz ele. "Eu queria fazer algo pelos outros, esquecendo minha própria deficiência. Eu quero trazer sorrisos para o rosto dos outros".

Há quatro anos, Jamil fundou a Associação Afegã de Refugiados com Deficiência (ARDU, sigla em inglês) em Khyber Pakhtunkhwa, que abriga muitos refugiados que deixaram o Afeganistão ao longo dos anos. O início de conflitos no país em 1979 desencadeou ondas de deslocamento desde então.

Com o apoio da comunidade de refugiados afegãos, a organização distribuiu até agora 60 cadeiras de rodas para jovens que vivem em aldeias de refugiados que precisam delas para chegar à escola e colocar em prática seu potencial.

Jamil (à direita), fundou a Associação Afegã de Refugiados com Deficiência para fornecer cadeiras de rodas a jovens locais com deficiência © ACNUR/Saiyna Bashir

“Não quero que nenhuma pessoa com deficiência sinta que não pode ser feliz ou autossuficiente”, diz Jamil sobre seu trabalho. “Elas podem fazer o que quiserem”.

Estima-se que 12 milhões de pessoas com deficiência foram deslocadas à força por perseguição, violência e violações de direitos humanos em todo o mundo, embora pesquisas e avaliações sugiram que o número real possa ser muito maior.

Frequentemente, correm maior risco de violência, discriminação, exploração e abuso, e enfrentam barreiras no acesso a serviços básicos. Além disso, elas são frequentemente excluídas da educação e da chance de trabalhar e ganhar a vida.

"Comecei a perceber cada vez mais que a educação era importante para ser ouvido", diz Jamil. "Se você não estuda, não vai conseguir nada na vida. Ninguém vai ouvir".

Ele finalmente teve a oportunidade de aprender a ler e escrever aos 12 anos de idade, com alfabetização domiciliar e apoio numérico da Educação Básica para Refugiados Afegãos, uma organização local parceira do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados.

Com perseverança, ele finalmente conseguiu entrar em uma escola local para refugiados, onde completou a terceira série aos 18 anos. Mas, como muitas das crianças e jovens de sua aldeia, esse era o teto para oportunidades de aprendizado formal.

"Eu estudei o que pude, mas não havia mais nada para mim e nenhuma chance de fazer mais".

Jamil visita Gul Bibi, de 16 anos, que conseguiu continuar seus estudos depois que ele a ajudou a conseguir uma cadeira de rodas © ACNUR/Saiyna Bashir

À medida que continua estudando por conta própria – a matemática é uma paixão – ele está se esforçando para trazer mais refugiados com deficiência para a sala de aula e para desafiar as baixas expectativas do que eles podem alcançar quando chegarem lá.

Entre eles está Gul Bibi*, de 16 anos, uma jovem refugiada com deficiência. Anteriormente, ela dependia de seus pais para levá-la para a escola primária todos os dias e quase desistiu em várias ocasiões, até que Jamil trabalhou com sua família para conseguir uma cadeira de rodas.

"Comecei a sonhar alto quando soube que o irmão Jamil estava tentando ajudar no meu retorno à escola e a conseguir uma cadeira de rodas para facilitar minha mobilidade", diz ela.

Desde então, Gul completou a educação primária e agora pode se mover livremente por conta própria. Ela está mais confiante e otimista sobre seu futuro e quer se tornar uma defensora - como Jamil - do acesso à educação para pessoas com deficiência.

“Muitas crianças com deficiência foram rejeitadas, ridicularizadas e recebidas com dúvidas e ansiedade. Outras que estão matriculadas na escola não estão recebendo apoio satisfatório para garantir que sua educação seja significativa”, diz ela.

"Minha deficiência é uma força"

Outro cadeirante que recebeu ajuda recente de Jamil é Awais, de sete anos de idade. Ele tem deficiências físicas e se tornou muito difícil para seu pai, Zakar Ullah, um trabalhador diário, carregá-lo. Ele lutava para chegar à escola, às lojas ou ao hospital sem ajuda.

"Jamil estava sempre preocupado com Awais e ainda o visita com doces e seus biscoitos favoritos", diz Zakar Ullah. "Awais agora pode se mover, ir para o parquinho e desfrutar da natureza sem que eu precise ajudá-lo".

O ACNUR apoia Jamil em seu trabalho pioneiro. A Agência também está trabalhando com o governo para expandir as oportunidades educacionais para os 1,4 milhão de refugiados afegãos que vivem no Paquistão, incluindo aqueles com deficiência. Apoie o nosso trabalho. Doe agora mesmo.

Do seu lado, Jamil continua apoiando as crianças afegãs refugiadas em sua aldeia. Ele também quer que sua própria comunidade reconheça o valor da educação para todos.

"A educação tem sido importante para me tornar quem eu sou. Minha educação é uma força. Minha deficiência é um ponto forte", diz ele. "Quero que minha comunidade seja positiva. Quero capacitar também outros membros com deficiência da comunidade. Somos parte deste mundo".

*Nome alterado a pedido da refugiada.