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Refugiado da Guiné carrega Tocha Olímpica em Curitiba e faz história nos Jogos Rio 2016

Comunicados à imprensa

Refugiado da Guiné carrega Tocha Olímpica em Curitiba e faz história nos Jogos Rio 2016

Refugiado da Guiné carrega Tocha Olímpica em Curitiba e faz história nos Jogos Rio 2016Abdoulaye Kaba é o segundo refugiado a carregar a Chama Olímpica no Brasil. O revezamento da tocha se encerra no próximo dia 05 de agosto, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016.
14 Julho 2016

Curitiba, 14 de julho de 2016 (ACNUR) - Com um largo sorriso estampado no rosto e o fôlego de quem pratica futebol profissionalmente, o refugiado guineense Abdoulaye Kaba, de 18 anos, participou nesta quinta-feira do revezamento da Tocha Olímpica em Curitiba (Paraná) e venceu com velocidade os 200 metros mais emocionantes de sua vida.

“Me senti muito bem e feliz. Estou orgulhoso. Tinha muita gente gritando e tirando fotos comigo. Foi tudo muito rápido, e parece que corri um quilômetro”, afirmou Abdoulaye após participar do revezamento.

Ele é o segundo refugiado a carregar a Chama Olímpica no Brasil, que iniciou sua trajetória por diferentes cidades do país no último dia 03 de maio. Naquela data, em Brasília, um dos principais símbolos dos Jogos Olímpicos foi conduzido pela refugiada síria Hanan Daqqah, de 12 anos. O revezamento da tocha se encerra no próximo dia 05 de agosto, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

“Foi uma uma honra muito grande. É uma oportunidade que todo atleta quer ter, e algo grandioso em minha carreira de jogador que ficará escrito no meu coração. É também muita responsabilidade, pois sinto que representei todos os refugiados do mundo", afirmou Abdoulaye, que vive no Brasil desde 2012. Morando no Rio de Janeiro, ele atua como meio-campista da equipe Sub-20 do São Gonçalo Futebol Clube – clube que disputa a segunda divisão do Campeonato Carioca.

Assim como a refugiada síria Hanan Daqqah, o guinense Abdoulaye Kaba foi escolhido pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016 para ser um dos condutores da Chama Olímpica a partir de uma sugestão da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

A condução da tocha por refugiados é um gesto de solidariedade dos Jogos Olímpicos para com as milhões de pessoas forçadas a fugir por causa de guerras e perseguições. Em todo o mundo, existem cerca de 65 milhões de deslocados por causa de conflitos armados, sendo que 21,3 milhões são refugiados. Ou seja: cruzaram uma fronteira internacional em busca de proteção. As atuais estatísticas, referentes ao final de 2015, representam um aumento de 10% em relação ao final de 2014.

Para o refugiado Abdoulaye Kaba, conduzir a Tocha Olímpica foi um momento de muita honra e responsabilidade, pois ele representou os refugiados de todo o mundo. © ACNUR / L.F.Godinho

O crescimento do deslocamento forçado no mundo tem impactado o Brasil. Segundo dados do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), as solicitações de refúgio no país cresceram 2.868% nos últimos cinco anos. Passaram de 966, em 2010, para 28.670, em 2015. Até 2010, haviam sido reconhecidos 3.904 refugiados. Em abril deste ano, o total chegou 8.863, o que representa aumento de 127% no acumulado de refugiados reconhecidos – incluindo reassentados.

Entre eles está Abdoulaye, que foi forçado a deixar seu país por causa da perseguição sofrida por sua família. Sua familiaridade com o futebol – ele já praticava o esporte em Conacri, capital da Guiné – o levou aos gramados brasileiros, e agora ele quer se firmar como jogador profissional. “Estou correndo atrás do meu sonho”, diz Abdoulaye, repetindo o mantra de vários jovens que pretendem ganhar a vida como profissionais do esporte mais popular do país.

“Sou jogador de futebol, e ao carregar a Tocha Olímpica entrei para a história das Olimpíadas do Rio. É uma grande coisa na minha vida”, afirma Abdou – como é chamado pelos amigos brasileiros. Ele diz que não tem planos de voltar para a Guiné e pretende, inclusive, trazer os irmãos e outros familiares que ainda vivem no país. “Sempre fui bem tratado pelos brasileiros. Gosto muito do país”.

Sobre seu futuro, diz que quer concluir os estudos colegiais e cursar a faculdade de Educação Física porque "o esporte é a minha vida".

A participação de Abodulaye no revezamento da Tocha Olímpica em Curitiba foi bem recebida pelas autoridades municipais. Para o coordenador da Assessoria de Direitos Humanos da Prefeitura, Igo Martini, a vinda de um refugiado africano à cidade para participar do evento “ajudar a quebrar muitos preconceitos, num momento em que enfrentamos graves situações de racismo, intolerância e xenofobia”.

"Receber o refugiado Abdoulaye em nossa cidade para o revezamento da Tocha Olímpica não é importante apenas pela representatividade das Olimpíadas, mas é também uma inspiração para as organizações curitibanas que têm atuado na causa dos refugiados", afirmou Martini.

A escolha de Curitiba como local da participação do refugiado Abdoulaye Kaba no revezamento da Tocha Olímpica se justifica pelo crescimento no número de refugiados e solicitantes de refúgio que vivem no Paraná. De acordo com dados do Comitê Estadual de Refugiados e Migrantes do Paraná, de 2011 a 2015, o estado recebeu cerca de 2,4 mil solicitações de refúgio - 22 vezes mais se comparado aos pedidos existentes até 2011.

Equipe Olímpica de Refugiados - Outras iniciativas entre o ACNUR e o Comitê Rio 2016 estão dando visibilidade ao tema dos refugiados na agenda dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Em parceria com a Caritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro, 38 refugiados que vivem na cidade foram selecionados para atuar como voluntários nos Jogos.

Além disso, a realidade dos refugiados é um dos componentes do "Desafio da Trégua Olímpica" do Transforma – programa de educação do Comitê Organizador que leva os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 para dentro das escolas, envolvendo mais de 6 milhões de alunos em cerca de 10 mil escolas dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal.

Com o apoio do ACNUR, o Comitê Olímpico Internacional (COI) organizou a Equipe Olímpica de Atletas Refugiados – a primeira desse tipo em toda a história dos Jogos Olímpicos. A equipe é composta por 10 atletas refugiados que competirão sob a bandeira do COI.

Por Luiz Fernando Godinho, Diogo Felix e Michele Bravos, de Curitiba.