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Refugiado sírio serve um gostinho do seu país na Colômbia

Comunicados à imprensa

Refugiado sírio serve um gostinho do seu país na Colômbia

Refugiado sírio serve um gostinho do seu país na ColômbiaAntes de fugir da guerra civil na Síria, Almotaz era um estudante que vivia com sua família em Damasco.
19 Outubro 2015

BOGOTÁ, Colômbia, 149 de outubro de 2015 (ACNUR) - Antes de fugir da guerra civil na Síria, Almotaz era um estudante que vivia com sua família em Damasco. Agora, enquanto constrói uma nova vida na Colômbia, ele está servindo um gostinho da sua terra natal às pessoas nas ruas de um bairro perto de Bogotá, a capital colombiana.

Usando receitas que sua mãe dita por telefone, ele cozinha falafel, berinjela e pratos de lentilhas para moradores curiosos. A clientela é literalmente conquistada pela boca.

"No começo as pessoas olhavam para minha comida de forma estranha, mas depois de provar elas vieram cada vez mais", diz Almotaz, mostrando seu brilhoso carrinho de comida.

"Quando eu falo com a minha mãe, ela me dá receitas árabes que agora estão muito famosas na Colômbia. Nossas conversas não duram mais que uma hora, pois há muitos cortes de luz em Damasco", completa Almotaz.

Após um voo cansativo que o livrou do perigo e o trouxe a Bogotá, Almotaz tem uma nova vida perto da capital colombiana. Com apenas 22 anos e em seu terceiro ano de universidade na capital síria, ele foi chamado para o serviço militar obrigatório em 2013.

"Eu não queria me alistar ao exército porque significava matar o meu povo, a minha família", diz ele. "Então, eu não tinha nenhuma outra opção a não ser fugir, o mais rápido possível".

Seus pais, que administravam um grande supermercado no centro de Damasco, estavam preparados para pagar sua passagem para um lugar seguro. Mas então, em uma manhã, uma bomba explodiu sua loja de peças. Abalados, eles venderam o negócio, e Almotaz fugiu para a Turquia via Líbano.

O rapaz se tornou um dos quatro milhões de refugiados sírios vivendo na região. A maioria tem procurado segurança nos países vizinhos como Turquia, Líbano e Jordânia, embora cerca de 2,6 mil sírios tenham encontrado refúgio na América Latina. Almotaz deixou para trás seus pais, três irmãos, amigos, casa e sua faculdade.

"Quando saí da Síria, deixei todos os meus sonhos para trás. Mas eu não via outra saída", diz ele. "As milícias estão em todas as ruas, seus combatentes nos param, nos roubam e rasgam nossos documentos. Eles matam. Eu perdi amigos porque eles se recusaram a entrar para o exército", acrescentou.

 

Almotaz entrega uma das suas especialidades sírias a seus clients nos arredores de Bogotá.

Em 2014, Almotaz estava vivendo em um pequeno quarto na Turquia com outras quatro pessoas. Embora ele tenha conseguido encontrar trabalhos informais, o aluguel era alto e ele não recebia dinheiro suficiente. "Eu não poderia viver daquele jeito, já estava perdendo a minha dignidade", lembra ele.

Antes da guerra eclodir, ele havia se apaixonado por uma menina colombiana que era amiga da família, mas que ele nunca havia conhecido pessoalmente. Eles haviam conversado muito pela internet ao longo dos anos, e os dois decidiram se casar quando ele ainda estava em Damasco.

"Casar-se foi outro pesadelo", diz Almotaz. "As instituições pediam muitos documentos e dinheiro. Minha mãe vendeu suas últimas joias para pagar os papéis do casamento e minha futura esposa usou todas as economias que tinha para a universidade. Mas, mesmo casado, não era tão simples solicitar um visto na Colômbia".

Então, desesperado, Almotaz contatou uma rede de contrabando e, graças à generosidade de um amigo sírio, foi capaz de reservar um passagem de avião para o Equador. Uma vez lá, ele conheceu sua esposa pela primeira vez e juntos atravessaram a fronteira para a Colômbia, seu destino final.

"Eu ainda me lembro daquele dia, 09 de agosto de 2014", diz ele, sorrindo. "Quando cheguei à Colômbia, solicitei refúgio e graças à intervenção do ACNUR e às autoridades colombianas, depois de seis meses eu consegui o status de refugiado", recorda.

Mas não foi fácil para reconstruir sua vida em um país distante, com um idioma diferente e desempregado. Durante os primeiros meses em Bogotá, ele vendia pudim de arroz preparado por sua esposa nas ruas. Então, pouco a pouco, ele aprendeu espanhol e começou seu próprio negócio fazendo comida árabe.

Agora, com a ajuda do ACNUR, das autoridades colombianas e com sua empresa de pequeno porte, Almotaz já consegue cobrir os gastos relativos a aluguel, alimentação e transporte, embora não haja dinheiro sobrando para o casal para continuar seus estudos. "Estou feliz, mas não posso comparar minha vida atual com minha boa vida anterior. Além disso, eu realmente sinto falta do meu irmão, irmã e meus pais que ainda vivem em perigo em Damasco", afirma.

Almotaz está particularmente preocupado com seu irmão, que recentemente atingiu a idade do serviço militar. "Meus pais estão sem dinheiro", diz ele. "Eles venderam tudo o que tinham de pagar minha saída da Síria. Não há dinheiro sobrando para o meu irmão mais novo, que ainda está em Damasco. Tenho medo que ele seja forçado a se juntar ao exército".

O sonho de Almotaz é trazer seus parentes para a Colômbia, onde podem viver em segurança. E em breve, eles terão um novo membro na família: em cinco meses, Almotaz será pai. "Sou muito grato ao ACNUR e ao governo colombiano. Minha vida agora é aqui, apesar das dificuldades de integração que ainda estou enfrentando, mas é impossível voltar, já que a guerra no meu país nunca vai acabar."

Por Francesca Fontanini, em Bogotá (Colômbia)