Refugiados arriscam tudo para escapar das gangues na América Central
Refugiados arriscam tudo para escapar das gangues na América Central
CIDADE DO MÉXICO, México, 7 de julho de 2016 (ACNUR) – Carolina*, uma policial em El Salvador, trabalhava com a unidade que protege vítimas de sequestros e testemunhas de assassinatos, com o objetivo de levar os criminosos à justiça. Porém, eles acabaram chegando até ela.
Membros de uma poderosa gangue a seguiram em seu trabalho e em sua casa, e ameaçaram a assassinar. Obrigada a trocar de residência várias vezes, ela vivia com o constante medo de ser morta quando saia de casa.
“Eu gostava do meu trabalho e de proteger outras pessoas. Mas também temia que cada vez que ia trabalhar, deixava meus filhos sem saber se eu voltaria para casa”, disse.
Por trabalhar na polícia, ela acompanhou de perto como as gangues assassinam, sequestram, ameaçam e aterrorizam os membros das famílias, e frequentemente chegam a recrutar seus filhos, que muitas vezes estão em idade escolar.
Quando os membros das gangues começaram a assediar Ernesto, seu filho de 13 anos, Carolina sentiu que não tinham outra opção senão fugir. Sem documentos de viagem, conseguiu sacar U$ 2.000 para pagar aos contrabandistas para os levar ao México, onde ficaram em um centro de detenção de migrantes, enquanto corria seu processo de solicitação de refúgio.
“Cada vez que ia ao meu trabalho, deixava meus filhos, sem saber se eu voltaria para casa”.
Agora, em um albergue familiar, ela está entre os milhares de homens, mulheres e crianças de El Salvador, Guatemala e Honduras que fogem da crescente violência causada pelas gangues, no que hoje se tornou a maior crise de refúgio na região desde a fuga de um milhão de pessoas durante as guerras civis da década de 1980.
Com atividades criminosas que também incluem o tráfico de drogas, sequestros, tráfico de pessoas, prostituição e roubo, o alcance das gangues agora se estende desde os países do Triângulo Norte até o Sul do México, indo mais além.
As pessoas que fogem para salvar suas vidas são pessoas capacitadas, como Carolina em El Salvador, como a mãe solteira Rosário, de Honduras, que tem cinco filhos e buscou refúgio no México. Seus filhos estavam aterrorizados depois que membros de uma gangue queimaram sua casa.
“Viajamos em vários ônibus para chegar à fronteira e depois cruzamos o rio entre Guatemala e México à noite, nadando, e carregando meus filhos pequenos. Tinha medo que as crianças fossem arrastadas pela água ou que se afogassem”, lembra.
A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) acredita que seja necessário ações mais efetivas em nível regional para proteger as pessoas vulneráveis como Carolina, Rosário e suas famílias que fogem da perseguição e da crescente violência nos países do Triângulo Norte.
“Os refugiados se converteram em vítimas de traficantes e contrabandistas, sendo expostos a sofrer abusos em seu caminho”.
“À medida que as vias seguras para buscar refúgio diminuem nesta região, estas pessoas se tornam vítimas de traficantes e contrabandistas, sendo expostas a sofrer abusos em seu caminho, enquanto frequentemente suas necessidades não encontram uma resposta adequada”, disse Filippo Grandi, Alto Comissário da ONU para Refugiados.
Esta semana, Grandi se reuniu com parceiros regionais em uma mesa redonda de alto nível na Costa Rica para a construção de uma resposta consensual sobre esta situação.
“Esta é uma situação de proteção que requer uma maior coordenação regional para assegurar respostas rápidas e orientadas para soluções”, acrescentou.
A necessidade de uma resposta comum também esteve em discussão pelo grande número de deslocados motivados por perseguições. Enquanto Carolina e Rosário fugiram de El Salvador e Honduras, respectivamente, as mesmas gangues estão perseguindo pessoas no país vizinho, Guetemala. Entre estas pessoas está Carla*, uma mulher trans de aproximadamente 40 anos.
Esforçando-se para pagar uma extorsão mensal, o “imposta da guerra” de 200 quetzales, cerca de 26 dólares, Carla buscou refúgio no México depois que as gangues dobraram a quantia para 400 quetzales por semana, um total que ela não podia pagar.
“Aqui no México me sinto respeitada, segura e agradecida pelo apoio do ACNUR”, contou.
Por Kirsty McFadden
*Nomes fictícios por questões de segurança.