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Refugiados e migrantes se arriscam na selva em busca de segurança

Comunicados à imprensa

Refugiados e migrantes se arriscam na selva em busca de segurança

5 Abril 2022
Refugiados e migrantes de Cuba, Haiti e Venezuela pegam uma canoa depois de cruzar as selvas do Tampão de Darién a caminho do Panamá © ACNUR/Nicolo Filippo Rosso

As feridas nas pernas de Mariana* das botas de borracha que ela usou na cansativa caminhada pelas selvas do Tampão de Darién logo vão sarar. Mas as feridas menos visíveis, da experiência angustiante que ela sofreu naquele trecho de montanhas cobertas de floresta tropical que separa a América do Sul e Central, provavelmente levarão muito mais tempo até sararem.


Ao longo de cinco exaustivos dias, Mariana escalou colinas incrivelmente íngremes e lamacentas, atravessou rios caudalosos e foi abordada por bandidos armados. Ela faz parte de um fluxo crescente de refugiados e migrantes de diferentes países da América Latina e além, dispostos a enfrentar cenários inóspitos em busca de segurança, proteção e um lugar para chamar de lar.

Todos os dias, milhares de pessoas são forçadas a sair da Venezuela por conta da insegurança, escassez de comida, serviços de saúde e medicamentos. Doe agora para ajudá-las a reconstruírem suas vidas.

Inicialmente, Mariana fugiu de seu país natal, a Venezuela, para a Colômbia, onde tentou se estabelecer primeiro na cidade fronteiriça de Cúcuta, e depois na capital, Bogotá. Mas com trabalhos que conseguia encontrar, ela lutou para sustentar a si mesma, seus pais e seis irmãos que ficaram na Venezuela.

“Para nós, não é fácil encontrar trabalho estável e o que existe não paga o suficiente”, disse ela, acrescentando que muitos de seus compatriotas não parecem se sair muito melhor em outras partes da região.

Mais de 6 milhões de venezuelanos estão vivendo no exterior em meio à escassez generalizada de alimentos e remédios e à crescente insegurança no país. Embora cerca de 2,6 milhões de venezuelanos tenham se beneficiado de autorizações de residência ou outros vistos em diferentes países da América Latina, um número quase igual que vive no exterior não possui esses documentos.

O ACNUR está trabalhando intensamente para garantir proteção e acesso a serviços básicos aos venezuelanos e comunidades que os acolhem. Precisamos de você para alcançar cada vez mais pessoas. Doe agora para salvar vidas!

Mesmo para quem tem documentação, as oportunidades de recomeçar a vida com dignidade são escassas. Isso, juntamente com o pesado custo econômico da pandemia de COVID-19, forçou muitos a embarcar em jornadas perigosas, juntando-se ao fluxo de refugiados e migrantes do Haiti, Cuba e outros lugares para o norte, que também lutaram para encontrar estabilidade nos países sul-americanos.

Apesar do terreno acidentado e das condições perigosas, somente em 2021, um recorde de 133.000 pessoas cruzou a fronteira da Colômbia para o Panamá através do Tampão de Darién, segundo autoridades do Panamá, enfrentando uma jornada cansativa para a qual poucos estão preparados.

“Ouvi dizer que era perigoso, mas não achei que seria tão perigoso”, disse Mariana, agora na segurança do Centro de Recepção Lajas Blancas, administrado pelo governo, no sul do Panamá.

No terceiro dia de viagem, o grupo de haitianos, senegaleses e venezuelanos com quem ela viajava encontrou um bando de três pistoleiros que roubaram os poucos pertences e o pouco dinheiro que tinham.

Um deles disse ao grupo para continuar, mas puxou Mariana de lado. Ele então a estuprou atrás de algumas árvores.

“Ele me disse: ‘Se você se comportar e não esconder nenhum dinheiro de mim, você vai se juntar novamente ao seu grupo. Caso contrário, você vai acabar como os outros'”. Mariana tinha visto os cadáveres de quatro mulheres que foram baleadas na trilha, então estava claro a que ele estava se referindo.

Mais de 50 corpos foram recuperados nas trilhas da selva em 2021, de acordo com reportagens, embora se estime que seja apenas uma fração de todas as mortes no percurso.

No centro de recepção, Mariana recebeu tratamento para prevenir uma gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis. Ela também preencheu um relatório para os promotores do Panamá, que enviaram funcionários à região para levar os autores da violência que sofreu à justiça.

O ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, está apoiando refugiados e migrantes fornecendo unidades habitacionais temporárias, cobertores, berços e kits de higiene nos dois centros de recepção do governo. Também está prestando apoio a comunidades indígenas remotas para tentar mitigar o impacto das centenas de pessoas que passam por suas aldeias.

Doe agora para apoiar os esforços do ACNUR em resposta à maior crise de deslocamento forçado da história recente da América Latina.

No ano passado, a maioria dos que cruzaram o Darien era de origem haitiana. A maioria passou anos no Chile ou no Brasil, depois de fugir de suas casas após o terremoto mortal de 2010 que destruiu grande parte da ilha.

Mas uma mistura de obstáculos burocráticos para renovar as autorizações de residência, dificuldades econômicas e discriminação em seus destinos iniciais levou muitos para o norte, muitas vezes com crianças pequenas nascidas nos países onde se estabeleceram pela primeira vez.

O haitiano Dieufaite Sylvain atravessou o Tampão de Darién com sua esposa Cherlie e três filhos pequenos, de 6, 5 e 2 anos, todos nascidos em Santa Catarina, Brasil. Dieufaite trabalhava na construção desde que deixou o Haiti em 2013, mas o impacto da pandemia de COVID-19 tornou cada vez mais difícil encontrar trabalho.

Ao mesmo tempo, as necessidades de sua família ainda no Haiti, que contava com seu apoio financeiro, cresceram em meio à instabilidade que explodiu após o assassinato do presidente Juvenal Moise e outro terremoto em 2021.

A família levou 11 dias para atravessar a selva. Eles foram abordados por bandidos ao longo do caminho que roubaram todo o seu dinheiro e seus celulares. Depois que a comida acabou no meio da viagem, eles ficaram com fome por cinco dias. Por duas vezes, a filha mais nova, Esteline, quase foi arrastada pelos rios caudalosos que tiveram de atravessar pelo caminho. "Eu estava carregando-a, e caí, e ela caiu comigo. Deus me ajudou", disse Dieufaite.

Agora a família está no Centro de Recepção Lajas Blancas até que consiga convencer um motorista de ônibus a dar-lhes um desconto na passagem para a fronteira com a Costa Rica. Eles estavam pensando se iriam se estabelecer lá ou se iriam mais ao norte, para o México. Em 2021, os cidadãos haitianos foram os que apresentaram o maior número de novos pedidos de refúgio no México, com mais de 51.000.

Nos primeiros dois meses de 2022, os venezuelanos se tornaram a principal nacionalidade que cruzou o Darién com mais de 2.400, quase o mesmo número que cruzou em todo o ano de 2021. Em janeiro e fevereiro, quase 2.000 venezuelanos apresentaram pedidos de refúgio no México, o que representa quase um terço de todas as solicitações dos venezuelanos em 2021.

Antonio*, um venezuelano que cruzou o Darién com Mariana, disse que, embora tenha passado seis anos na Colômbia depois de fugir da Venezuela, a deterioração da situação de segurança o levou a se mudar para o norte. Ele disse que tem amigos no México e tentaria se estabelecer lá. Depois de tanto tempo em movimento, “só quero viver em paz”, disse ele.

*Os nomes foram alterados para fins de proteção