Refugiados falam de recomeço de vida no Brasil em programa da Rede Globo
Refugiados falam de recomeço de vida no Brasil em programa da Rede Globo
Brasília, 13 de maio de 2016 (ACNUR) - O recomeço de vida dos refugiados no Brasil foi tratado pelo programa "Encontro com Fátima Bernardes", da Rede Globo, no último dia 11. Como principal convidada para abordar o tema, a jornalista Fátima Bernardes recebeu no palco a menina Hanan Khaled Daqqah, de 12 anos, refugiada síria escolhida pela Rio 2016 para compor a equipe que conduziu a tocha olímpica em Brasília em 3 de maio, quando a chama desembarcou no Brasil. Hanan trouxe a tocha ao programa e disse sonhar com a paz em seu país.
Na plateia, os judocas Popole Misenga e Yolande Mabika, ambos da República Democrática do Congo e candidatos a integrar a equipe de atletas refugiados do Comitê Olímpico Internacional (COI) nos jogos do Rio de Janeiro, contaram como a retomada do treino deu um rumo positivo para suas vidas no Brasil. "O esporte foi o ponto de encontro, de adaptação e de integração deles ao Brasil", resumiu Fátima.
Enquanto cenas de seu treino de ginástica rítmica eram exibidos, Hanan contou a Fátima que quer ser bailarina e, no ouvido da apresentadora, disse querer se tornar no futuro como ela. A menina síria tem aulas de ginástica e de balé na Comunidade Esportiva do Glicério, um espaço destinado às crianças carentes que vivem e estudam no centro de São Paulo. Ao responder sobre sua experiência em Brasília, quando recebeu a tocha olímpica, Hanan lembrou que estava "nervosa e ansiosa".
"Foi um presente muito lindo para a minha vida", disse Hanan "Meus sonhos são voltar para o meu país e acabar a guerra por lá e também em todos os países."
Hanan chegou ao Brasil há pouco mais de um ano, acompanhada por sua mãe Yusra, e seus irmãos Mustafá e Yara. A família passara um longo período no campo de refugiados de Kaddiri, na Jordânia, e conseguiu em São Paulo reunir-se ao pai, Khaled Dakka, operário de 40 anos. No final deste mês, nascerá sua irmã brasileira, que já ganhou o nome de Sara.
A menina foi elogiada pela apresentadora por falar tão bem o idioma português em tão pouco tempo de residência no Brasil. Da plateia, seu pai acompanhava orgulhoso a filha, estudante do 5o ano da escola municipal Duque de Caxias, no centro de São Paulo. Hanan explicou ter absorvido a língua local com facilidade, ao ouvir os brasileiros. Mas toma aulas de reforço de Português e começou o aprendizado de inglês.
Ao abordar os congoleses Popolo e Yolande, Fátima Bernardes ouviu relatos de superação. Ambos desertaram da equipe de seu país durante o Campeonato Mundial de Judô, em 2013, e viveram como sem-teto no Rio de Janeiro antes de serem encaminhados para a comunidade de Cordovil, bairro carioca onde se concentram imigrantes e refugiados de origem africana. "Eu sofri muito nos meus dois primeiros anos aqui", contou Yolande, para acrescentar que não querer perder a oportunidade de melhoria de vida dada pelo esporte.
Depois de um período executando pequenos trabalhos informais, Popolo e Yolande inscreveram-se no Instituto Reação, organização não-governamental que promove a inclusão social de crianças e jovens carentes por meio dos esportes, em especial o judô. Eles retomaram os treinos e competições de judô e têm, agora, a chance de participar do primeiro time do COI em uma Olimpíada, a ser formado apenas por refugiados e anunciado em junho. "Eles estão preparados, estão treinando muito", disse Geraldo Bernardes, coordenador do Programa Reação Olímpico, que os acompanhou no programa.
Outra convidada do programa de Fátima Bernardes, a psiquiatra Fátima Vasconcellos comentou como a resiliência é importante virtude para a superação de traumas, em especial para os refugiados. Atuamente, como lembrou a apresentadora no início de seu programa, 60 milhões de pessoas no mundo foram forçadas a abandonar seus lares e países por causa de conflitos, violações aos Direitos Humanos e perseguições. No Brasil, 28.670 estrangeiros solicitaram refúgio, segundo os mais recentes dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare). Desse total, 3.460 são de origem síria.
Outra convidada ao programa, a atriz Heloísa Jorge, que faz o papel de uma escrava na novela "Liberdade, Liberdade", da Rede Globo, contou ter sido forçada, aos 10 anos, a abandonar sua mãe e irmãos em Angola, onde nasceu. Heloísa reuniu-se em Montes Claros, Minas Gerais, ao pai. Ela não chegou a solicitar refúgio do Brasil porque tinha dupla nacionalidade brasileira e angolana.
"A minha adaptação no Brasil foi difícil porque eu tive de me separar da minha mãe", relatou a atriz, referindo-se a um dos recorrentes desafios da maioria dos refugiados.
Por Denise Chrispim, em São Paulo.