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Refugiados LGBTI encontram proteção nos Estados Unidos

Comunicados à imprensa

Refugiados LGBTI encontram proteção nos Estados Unidos

Refugiados LGBTI encontram proteção nos Estados UnidosEm sua cidade natal Idlib, Síria, andar na rua de mãos dadas com seu namorado poderia ter levado Subhi Nahas à tortura e morte.
17 May 2016

Califórnia, 17 de maio de 2016 (ACNUR) – Em sua cidade natal Idlib, Síria, andar na rua de mãos dadas com seu namorado poderia ter levado Subhi Nahas à tortura e morte. Ele contou que lá,  algumas milícias extremistas perseguem e executam homens gays.

É por isso que Nahas, 28 anos de idade, fugiu do país em setembro de 2012, quando a guerra estava se espalhando e militantes entraram em áreas estratégicas como a cidade de Idlib, localizada ao noroeste.

"Minha família nunca me aceitou por ser gay e, naquele momento, eu não estava seguro dentro da minha casa ou fora dela. Eu tinha medo que meu próprio pai algum dia dissesse (às milícias) que eu era gay", disse Nahas, que chegou em São Francisco em junho de 2015. Ele foi reassentado no norte da Califórnia com a ajuda de duas organizações que trabalham para manter refugiados(as) lésbica, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI) fora de ambientes perigosos.

A Organização para Refúgio, Asilo e Migração (ORAM), uma organização sem fins lucrativos sediada em São Francisco, dispõe de funcionários na Turquia para acolher aos refugiados LGBTI que foram para lá para escapar da perseguição em seus países de origem e auxiliar no processo de seus pedidos de visto.

Nahas também recebeu assistência da Jewish Family and Community Services East Bay (JFCS), uma organização sem fins lucrativos sediada em Berkeley que opera programas de reassentamento para refugiados LGBTI. Desde 2011, o JFCS já reassentou e ajudou cerca de 60 refugiados LGBTI e solicitantes de refúgio na região. Eles oferecem alojamento temporário com famílias anfitriãs, programas de assistência psicológica e jurídica.

“Minha família nunca me aceitou por ser gay, e por isso eu não estava seguro dentro de casa”, disse Nahas.

"Eu sempre sonhei com São Francisco, pois parecia um lugar onde eu poderia ser eu mesmo", disse Nahas, que agora vive com seu parceiro americano em Castro, famoso bairro gay de São Francisco. Na Síria e muitos outros países do Oriente Médio e da África, ser gay é ilegal - e muitas vezes punível com prisão ou morte.

Peter Altman, que administra escritório da ORAM em São Francisco, diz que refugiados LGBTI são um dos grupos mais isolados e brutalizadas em todo o mundo. "O escopo do problema está ficando mais complexo", disse ele, "porque em alguns lugares toda a advocacia em prol dos direitos dos refugiados LGBTI resultou em crescente aceitação e em outros países resultou em uma exacerbação da homofobia".

Em março ORAM publicou um glossário multilíngue de palavras e termos para ajudar os trabalhadores humanitários e funcionários de organizações sem fins lucrativos a se comunicar melhor com os refugiados LGBTI. O glossário foi traduzido em persa, árabe, francês e turco.

Para Nahas, a jornada para a Califórinia teve muitos obstáculos. Ele fez duas viagens arriscadas, uma por carro a partir de Idlib a Beirute, capital do Líbano, e outro de Beirute a Antáquia, no sul da Turquia.

"Eu paguei o dobro ao motorista para falar por mim nos pontos de verificação de Idlib para Beirute, porque eu sabia que militantes e guardas poderiam perceber que eu era gay se me ouvissem falar", disse Nahas.

Judy Salomon e seu marido têm abrigado dois refugiados gays de Uganda desde de janeiro.
É cada vez mais difícil para os refugiados e solicitantes de refúgio no Líbano encontrarem trabalho. Depois de seis meses em Beirute, seus recursos acabaram e ele estava ficando sem dinheiro. "Voltar para a Síria não era uma opção, então eu usei meus últimos recursos que eu tinha para pagar um vôo para a Turquia", disse Nahas, que ajudou as organizações internacionais que operam perto da fronteira turco-síria fazendo traduções.

Nahas conheceu um advogado da ORAM que estava na Turquia pesquisando o processo de condições de vida e solicitações de refúgio para os refugiados LGBTI. Ele diz que representantes da ORAM o auxiliaram por meio de um processo que conta com o apoio do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados. A organização sem fins lucrativos explicou-lhe sobre os processos do Departamento de Entrevista de Segurança Interna dos EUA e, eventualmente, encontraram uma família de acolhimento disposta a recebê-lo.

A ORAM atua principalmente na Turquia. "O trabalho que a ORAM e outras organizações de defesa estão fazendo é muito importante", disse Nahas.

Devido aos seus conhecimentos, Nahas conseguiu um emprego na ORAM quando se mudou para os Estados Unidos. Ele ajudou com traduções para o árabe, projetando as publicações e servindo como porta-voz para os direitos dos refugiados LGBTI. Ele ainda detalhou sua incrível jornada para o Conselho de Segurança da ONU em agosto de 2015.

"Ele teve que conviver com o medo por tanto tempo que às vezes ele se desconecta e eu tenho de lembrá-lo que ele agora está em um lugar seguro", disse Mark Averett, companheiro de Nahas há nove meses. Averett recentemente apresentou Nahas para a sua família.

"A reinstalação de refugiados LGBTI é um processo lento e sensível, construído por meio de um grupo de apoio em torno de cada pessoa que reassentamos", disse Amy Weiss, diretora de Serviços para Refugiados e Imigrantes do JFCS East Bay.

Uma das pessoas que abrigam refugiados é Judy Salomon, de 64 anos de idade. A professora de escola primária vive em Berkeley e tem acolhido dois refugiados gays de Uganda desde janeiro. "Quando soube que a maior necessidade para o reassentamento de refugiados era uma casa para pessoas LGBTI, fez sentido para mim e eu quis ajudar", disse Salomon, cujos filhos estão criados e não vivem mais com ela.

"Nossos hóspedes ugandenses estavam com medo no início. Tudo era novo e já tinham sofrido tanto trauma em casa", disse Salomon. "Mas tudo mudou quando eles conheceram minha neta de 6 anos de idade. As crianças têm uma maneira de fazer com que todos fiquem mais tranquilos".

Salomon diz que o acordo com a JFCS era abrigar refugiados por seis meses, e que após um mês, parecia que eles já eram da família.

O ACNUR está comprometido com a proteção dos direitos da população LGBTI e continua trabalhando para aumentar a capacidade de seus funcionários neste sentido. No ano passado foi lançado relatório nomeado “Protegendo pessoas com orientação sexual diversa e identidade de gênero”, o primeiro relatório global de proteção a lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais solicitantes de refúgio, refugiados e outros.

Weiss diz que JFCS East Bay recebe muitos telefonemas de refugiados LGBTI de todo o mundo, mas eles só podem ajudar aqueles que receberam o status de refugiado do ACNUR. Ela diz que a maioria dos refugiados LGBTI que eles reassentaram vieram de países africanos incluindo Uganda, Congo, Burundi e Ruanda. Outros vieram da antiga União Soviética e do Oriente Médio.

"É crime auxiliar homossexuais em alguns desses países, por isso torna-se difícil ajudá-los de forma direta", disse Weiss.

É por isso que Anthony*, recentemente ligado a ORAM em San Francisco, se voluntariou para ajudar os refugiados LGBTI e solicitantes de refúgio do Oriente Médio. Anthony é do Líbano e solicitou refúgio nos Estados Unidos.

"Eu vejo adolescentes gays que andam por San Francisco. Eles são tão livres, e eu fico triste por não ter tido isso quando eu era mais jovem", disse Anthony de 29 anos, que cresceu ao norte de Beirute, em uma pequena cidade chamada Jounieh. Ele diz que, como um solicitante de refúgio, ele ainda tem que provar que o retorno para o Líbano é muito perigoso para ele.

A primeira vez que ele abriu o jogo sobre ser gay foi há oito anos, quando ele tinha 21. Ele dirigiu duas horas de sua casa para uma cidade diferente para se confessar a um padre.

"Eu cresci católico e sempre foi dito que os sacerdotes eram muito educados. Durante a confissão disse ao padre que tinha sentimentos por homens. Ele manteve o meu segredo, mas disse-me para me “consertar” sozinho", disse Anthony. "São Francisco é um novo começo para mim".

*Nome trocado por razões de proteção.