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Refugiados nigerianos deixam zona de fronteira e adentram Camarões

Comunicados à imprensa

Refugiados nigerianos deixam zona de fronteira e adentram Camarões

Refugiados nigerianos deixam zona de fronteira e adentram CamarõesViolência e insegurança continuam a causar o deslocamento de populações no norte da Nigéria e em países vizinhos, segundo relatório do ACNUR.
27 Julho 2015

Genebra, 27 de julho de 2015 (ACNUR) – Violência e insegurança continuam a causar o deslocamento de populações no norte da Nigéria e em países vizinhos, segundo relatório do Alto Comissário da ONU para Refugiados.

Na remota região do “Norte Distante”, em Camarões, um fluxo constante de refugiados nigerianos está se deslocando da fronteira do seu país com Camarões e buscando abrigo a cerca de 100 km, no campo de Minawao, que é administrado pelo ACNUR e seus parceiros.

Os funcionários do ACNUR disseram que, em média, cerca de 100 pessoas são registradas por dia neste acampamento, que foi inaugurado em julho de 2013. A população deste acampamento aumentou de 30 mil, no final do ano passado, para 44 mil atualmente.

“As pessoas que chegam ao acampamento são, em sua maioria, nigerianos que já haviam fugido para Camarões com o intuito de escapar da violência no nordeste da Nigéria, mas escolheram ficar muito perto da fronteira – na esperança de um rápido retorno para suas casas. Os refugiados disseram que fugiram dos ataques dos militantes no estado de Borno, na Nigéria”, contou Leo Dobbs, o porta-voz do ACNUR a uma coletiva de imprensa em Genebra.

Nas ultimas semanas, tem havido ataques e confrontos no lado camaronês da fronteira, incluindo o primeiro atentado suicida ocorrido no dia 12 de julho, na cidade de Fotokol.

Como parte da sua resposta a esta instabilidade, o governo de Camarões começou a registrar refugiados nigerianos na zona fronteiriça.

“Os funcionários do ACNUR reportaram que este processo de registro provocou medo entre alguns dos refugiados, e que eles podem acabar retornando para Nigéria contra sua própria vontade”, acrescentou Dobbs. Ele também disse que o ACNUR e o governo estão consultando os refugiados na zona fronteiriça sobre onde eles pretendem ir.

“Alguns provavelmente optarão por retornar a áreas seguras na Nigéria, enquanto outros podem optar por deslocar para o acampamento em Minawao. Este processo continuará nos próximos dias e semanas”, explicou.

Algumas das pessoas que chegaram ao acampamento disseram ter ficado sem alimentos quando estavam perto da fronteira e queriam beneficiar-se da distribuição de comida em Minawao. Muitos dos recém-chegados estão sendo abrigados temporariamente em uma escola, que atualmente está fechada por causa das férias de verão.

O acampamento está em uma área relativamente árida: madeira para construção de abrigos deve ser transportada das regiões florestais, ao sul de Camarões, o que leva pelo menos dois dias para ser transportado, devido a distancia.

“Nós sempre tivemos problemas com o fornecimento de madeiras”, disse um dos gerentes do acampamento. “E então, quando finalmente recebemos a madeira, nós algumas vezes também enfrentamos a escassez de pregos para erguer os abrigos”, completou.

O campo de Minawao está localizado dentro da vista da cordilheira de Mandara que se eleva para ampliar a linha de fronteira entre Camarões e Nigéria.

As montanhas são uma das áreas onde se acredita que os insurgentes nigerianos tenham esconderijos, disseram os refugiados que são familiarizados com a área.

Soldados das forças militares regionais aliadas – principalmente dos exércitos da Nigéria, Chade, Níger e Camarões – têm montado operações conjuntas contra os insurgentes por vários meses.

Estas operações militares acontecem em grandes áreas ao oeste e centro da África e acabam por dispersar alguns dos insurgentes. Mas elas não pararam toda a atividade insurgente.

Por razões de segurança, o ACNUR tem acesso limitado no extremo norte de Camarões. Mas estima-se que são 12 mil refugiados não registrados nesta área. As autoridades camaronesas dizem que este número pode chegar na casa dos 17 mil.

Na região sul do Níger as autoridades reportam a chegada de cerca de 2.500 pessoas após um ataque realizado por militantes na cidade nigeriana de Damassak, semana passada.

Os recém-chegados são prevalentemente mulheres, crianças e anciões. Eles chegaram às vilas Chetimari e Gagamari, localizadas a 20 km de Damassak. De acordo com as autoridades do Níger, cerca de 80% das pessoas que chegam são refugiados nigerianos e os 20% restantes são cidadãos do Níger retornando.

Alguns dos recém-chegados fugiram de suas casas o ano passado após um primeiro ataque em Damassak e retornaram apenas recentemente. Alguns refugiados estão hospedados com as mesmas famílias que eles ficaram ano passado, enquanto demais dormem ao ar livre ou em abrigos improvisados.

A maioria dos recém-chegados disse que eles preferem ficar em Chetimari e Gagamari a viver no campo de refugiados Sayam Forage, localizado mais ao interior do país.

“Eles esperam voltar para Nigéria o mais rápido possível. Os moradores têm compartilhado seus poucos recursos com eles, incluindo água e alimentos. A equipe do ACNUR não consegue acessar a área de fronteira por razões de segurança”, disse Dobbs.

Mais de 100 mil pessoas fugiram da Nigéria e encontraram refúgio no Níger desde metade de 2013. A insegurança causou o deslocamento de 18,4 mil nigerianos para o Chade, bem como deslocou ao menos 1,5 milhões de pessoas dentro da Nigéria, especialmente nos estados de Adanawa, Borno e Yobe.

Por Mark Doyle/Helene Caux, Oeste da África.