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Refugiados rohingya são acolhidos por agricultores de Bangladesh

Comunicados à imprensa

Refugiados rohingya são acolhidos por agricultores de Bangladesh

2 Março 2018
Khaleda Begum (de lenço vermelho) cercada por famílias de refugiados que vivem em sua fazenda. Ela cortou árvores para acomodar abrigos, um espaço para crianças e uma clínica. © ACNUR/Roger Arnold
EXTENSÃO DO CAMPO DE REFUGIADOS DE KUTUPALONG, Bangladesh - Alguns anos atrás, o aumento do nível do mar e a erosão forçaram o agricultor bengali Mohammed Karim a abandonar a pequena propriedade da família na Ilha de São Martinho e recomeçar sua vida no continente.

À medida que milhares de refugiados rohingya, vindos de Mianmar, chegaram na região de Kutupalong em setembro do ano passado, ele não hesitou quando um grupo de famílias exauridas perguntou se poderiam usar algumas de suas terras como abrigo temporário.

“Ao ver o sofrimento deles, não pude aguentar e por isso concordei em deixá-los ficar na minha terra”, diz Karim, que tem três filhos. “Muitos trouxeram arroz por conta própria e eu os ajudei com lenha, vegetais e peixe”.

A princípio, Karim permitiu que 40 famílias ficassem em sua casa, que é cercada por campos de arroz, manguezais e hortas. Após nove dias, os recém-chegados conseguiram construir seus próprios abrigos improvisados ​​com materiais fornecidos pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados.

Entre as pessoas acolhidas por Karim estava Abul Manzur, de 26 anos. Ele fugiu dos ataques de tropas e milícias de Mianmar e viajou por semanas em busca de segurança, antes de finalmente se instalar na propriedade de Karim.

“Não fomos perturbados por ninguém desde que chegamos aqui”, diz Manzur, visivelmente aliviado. “Nos sentimos seguros”.

Mais de 688 mil mulheres, crianças e homens deixaram Mianmar desde que a violência eclodiu no país no final de agosto de 2017. Desde então, os bengalis têm estado na vanguarda de um enorme esforço de socorro, doando alimentos, roupas, materiais de abrigo e, neste canto do sudeste de Bangladesh, o uso de suas terras.

“Não pude suportar o sofrimento pelo qual estavam passando”.

A uma curta distância da casa de Karim, no emaranhado de aldeias ao redor de Kutupalong, vive Khaleda Begum. Ela está entre os muitos residentes locais que abriram suas casas em resposta às necessidades de refugiados que precisam de abrigo.

“Eles chegaram com absolutamente nada e fiquei realmente chocada ao ver sua condição”, lembra Khaleda, de 26 anos, que compartilhou a comida, a cozinha e as camas da família com 36 famílias de refugiados. “Eu senti a dor deles... Não pude suportar o sofrimento pelo qual estavam passando”.

 

A família de Khaleda cortou mais de 250 pés de manga, jaca e goiaba da propriedade para acomodar os recém-chegados, entre eles várias mulheres grávidas, das quais quatro deram à luz nos primeiros dias depois de se instalarem.

Safita Begum, de 18 anos, e seu marido, Mohammed Kausar, de 22, estão entre os que acabaram de se tornar pais. Eles buscaram abrigo na casa de Khaleda no dia dois de setembro, depois de quase não escaparem de Mianmar com vida. Sua filha Rumi nasceu cinco dias depois.

“Estou feliz e grata a Deus de ter escapado de um fim trágico”, diz Safita, que afirma querer um futuro seguro para a filha.

Bangladesh é um dos países mais pobres e povoados do mundo. O fluxo de refugiados nos últimos seis meses transformou a área baixa das colinas repleta de aldeias e vilarejos ao redor de Kutupalong no maior campo de refugiados do mundo.

Os esforços de moradores como Karim e Khaleda são apoiados pelo governo de Bangladesh, em conjunto com o ACNUR e seus parceiros locais e internacionais.

“Até que eles se sintam seguros de voltar para Mianmar, eu os acolherei na minha terra”.

Quase seis meses após a crise de deslocamento, a pequena propriedade da família de Khaleda também abriga outras instalações, incluindo um espaço para crianças fornecido pela Save the Children International e uma clínica administrada pela agência de desenvolvimento BRAC, com sede em Bangladesh. Ambas são bem utilizadas.

“Todos os dias, mais de cem pessoas vêm aqui para usar os serviços de saúde”, contou Mohammed Naimur Rahman, assistente médico da BRAC. “Embora forneçamos serviços muito básicos, ainda sim é muito útil para os refugiados, pois lhes é muito conveniente”.

Na propriedade de Karim, o ACNUR e seu parceiro de implementação Cáritas ajudaram a construir abrigos, poços tubulares, latrinas e espaços de banho a fim de melhorar as condições para os refugiados e reduzir o risco de doenças transmitidas pela água.

Vários pequenos projetos de engenharia também estão em andamento com o objetivo de construir calçadas, escadas, pontes, muros de contenção para estabilização do solo, e redes de drenagem reforçadas com bambu. A Cáritas também instalou iluminação nas ruas, o que beneficia tanto os residentes como os recém-chegados.

Com o fluxo, o número de refugiados supera o de bengalis na área do campo. A presença dos recém-chegados contribuiu para o aumento dos preços dos alimentos básicos, do combustível e de materiais de construção, e causou preocupação quanto ao impacto sobre o meio ambiente, levando a alguns protestos. Nem Karim ou Khaleda duvidam que tenham feito o que é certo.

“Todos os dias, muitas mulheres e crianças refugiadas rohingya vêm à nossa casa e nós gostamos de ter essas companhias”, afirma Karim. “Meus filhos brincam com os filhos delas. Eles têm novos amigos”.

“Até que eles se sintam seguros de voltar para Mianmar, eu os acolherei na minha terra”.

Khaleda diz que antes da chegada dos refugiados, seu bairro estava isolado e silencioso. Ela se sente mais segura com os novos vizinhos que vivem ao seu redor e gosta de ouvir o riso de seus filhos.

“Eu me sinto feliz por poder ajudá-los no momento em que mais precisam”.