Close sites icon close
Search form

Search for the country site.

Country profile

Country website

Refugiados somalis retribuem atos de gentileza no país onde foram acolhidos

Comunicados à imprensa

Refugiados somalis retribuem atos de gentileza no país onde foram acolhidos

26 Novembro 2020
Saeed Mohamed faz parte de uma comunidade de homens de negócios refugiados somalis que distribuiu comida para sul-africanos e migrantes em situação de vulnerabilidade na cidade de Pretória, África do Sul / © ACNUR/ Hélène Caux

A gentileza de estranhos despertou em Saeed Mohamed uma paixão por retribuir. Os sul-africanos o receberam como refugiado somaliano e, agora, ele quer ajudar a comunidade em meio à pandemia de COVID-19 no país.


“Se perdemos a esperança, perdemos nosso caminho”,  afirmou.  “Quando chegamos aqui, os sul-africanos nos deram uma casa. Agora, eu me pergunto, o que podemos fazer por eles?” 

Saeed fugiu da guerra da Somália quando tinha 17 anos, em 1991. Nos anos seguintes, ele construiu uma carreira de sucesso como banqueiro e agora se considera parte da comunidade empresarial de somalis que encontraram refúgio na África do Sul. Com a pandemia do novo coronavírus, ele encontrou uma oportunidade de retribuir. 

O grupo lançou uma campanha de cuidado e compaixão quando o lockdown nacional começou no final de março, ajudando pessoas que provavelmente sentiriam mais o impacto da suspensão dos comércios e da necessidade de ficar em casa. 

“As pessoas nos deram comida e um lugar para dormir. Eu me lembro disso claramente” 

Eles começaram distribuindo máscaras, álcool gel e cestas de comida para moradores de assentamentos informais em Pretória e Joanesburgo. Em seguida, expandiram seu apoio para outras partes do país. 

Saeed é o coração da operação, movido por memórias de quando deixou a Somália e as experiências de gentileza que ele recebeu quando desembarcou na África do Sul. “As pessoas deram comida e um lugar para dormir. Eu me lembro disso claramente”, afirma.

A inspiração para a campanha ocorreu após Saeed ver uma criança deficiente brincando em seu bairro. Assim como tantas outras famílias na África do Sul, a família da criança dependia da renda diária vinda de um comércio pequeno, mas que foi obrigado a fechar após o lockdown

O lockdown na África do Sul, assim como em outros lugares do mundo, foi sentido especialmente por trabalhadores informais. Apesar do status de uma das nações africanas mais ricas, cerca de 30% dos sul-africanos estão fora dos trabalhos formais. Por isso, não demorou muito para que os residentes das vilas e cabanas do país começassem a enfrentar dificuldades. 

Refugiados e solicitantes de asilo precisando de ajuda para comprar comida e pagar o aluguel ocuparam a linha gratuita de ajuda do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, na primeira semana de lockdown. No final de maio, mais de 3,000 pessoas ligaram para a central, sendo que 95% delas perderam sua fonte de renda e enfrentaram fome ou despejo. 

O governo providenciou um auxílio emergencial para milhares de indivíduos e donos de pequenos negócios, mas grupos envolvendo solicitantes de asilo, refugiados com a documentação incompleta, imigrantes irregulares e moradores em situação de rua foram excluídos. A campanha de Saeed focou principalmente nesses grupos e já ajudou milhares de famílias em oito das nove províncias da África do Sul. 

Há dez anos, seu amigo Amin chegou à África do Sul ainda adolescente, destacou-se na escola e frequentou a universidade, graças à bolsa de estudo DAFI para refugiados. Agora, ele agora administra o maior ponto de venda de sua família em Pretória Oeste, região que faz parte dos cinco principais pontos de distribuição para campanha na província de Gauteng. 

“Entendemos como é sentir fome, então, como comunidade, nos unimos e respondemos ao chamado do presidente para ajudar”

Nos dias de distribuição, Amin e seu time dirigem-se a áreas de baixa renda para distribuir cestas básicas. Até agora, já fizeram três entregas para 380 famílias sul-africanas e estrangerias, incluindo famílias desabrigadas. 

“Entendemos como é sentir fome, então, como comunidade, nos unimos e respondemos ao chamado do presidente para que as pessoas ajudassem”, explicou Amin, se referindo ao discurso do Presidente Cyril Ramaphosa, que pediu a ajuda de todos que pudessem contribuir com aqueles mais afetados pela pandemia. 

Ao redor da África do Sul, o espírito de gentileza se espalha por todo país, com refugiados e sul-africanos trabalhando lado a lado em prol da solidariedade. 

Désirée, uma sul-africana de Porto Elizabeth, está ocupada distribuindo porções de comida para sul-africanos desabrigados, migrantes e solicitantes de asilo, muitos dos quais perderam seus empregos. 

“Ajudar os outros está no meu sangue”, afirma Désirée que, quando criança, viu sua mãe alimentar os vizinhos em sua vizinhança. De sua cozinha em Pretória, ela alimenta centenas de pessoas todos os domingos, com a ajuda de seus dois filhos e de alguns amigos próximos. 

“O que mais me afeta é ver mulheres nas ruas com seus bebês”, diz. “As ruas são perigosas, especialmente para elas. Elas precisam de comida – uma criança deve comer”. 

Todos os domingos, ela se levanta à 6h para acender o fogão em sua pequena cozinha, depois começa a descascar e picar legumes. Um amigo com um carro ou um táxi espera do lado de fora, pronto para enviar a comida para os abrigos e ruas onde seus clientes moram. 

Désirée e Amin geralmente trabalham juntos, combinando forças e conhecimento local para alimentar o maior número possível de pessoas com fome. O que os une é o espírito de gentileza e, com a pandemia de COVID-19, todos viram a oportunidade de estender uma mão amiga. 

Fora do atacarejo de Amin, está Regina, uma sul-africana responsável pelo ganha-pão de sua família. Antes da pandemia, ela era fisioterapeuta com emprego fixo em uma empresa privada. Agora, ela depende das cestas básicas de Amin para alimentar seus filhos e sua mãe idosa. 

“A COVID-19 mudou minha vida para ruim”, afirmou, balançando a cabeça. “Agora que eu não tenho trabalho nem salário, tem sido difícil para nós. Estamos enfrentando isso”. 

“É difícil, mas, graças a Deus, tem gente pronta para ajudar”

Violetta recebeu comida em uma distribuição conjunta de Amin e Désirée no assentamento onde ela mora, em Pretória Norte. Nascida em Zimbábue, ela trouxe três de seus quatro filhos para a África do Sul há alguns anos, em busca de uma vida melhor. 

“Eu não ganhava muito dinheiro antes, mas agora não estou ganhando nada. É difícil porque meus filhos e eu temos que comer!”, explica. “Estamos contando com doações privadas de pessoas como Amin e Désirée. É difícil, mas, graças a Deus, tem gente pronta para ajudar. Só quero ter um emprego e que meus filhos possam estudar”. 

Para outras milhares de pessoas, esses atos de bondade são uma salvação. “Pense em como sobrevivemos à fuga da Somália, como sobrevivemos à guerra. Temos sorte e agora queremos retribuir”, afirma Saeed. 

Désirée fica radiante ao refletir sobre a ajuda que oferece a tantas pessoas vulneráveis. “A maioria das pessoas que alimento são jovens, longe de casa e que desistiram da vida. Não posso dar muito a eles, mas posso garantir que tenham uma boa refeição todos os domingos”, afirma. “Esses bebês podem ser os futuros líderes de nosso continente”. 


A África do Sul é a casa de 266.700 refugiados e solicitantes de asilo. Aproximadamente 30% deles vieram da Somália, 29% da República Democrática do Congo e 20% da Etiópia.