Residentes de Luhansk lutam para retomar vida normal após conflito na Ucrânia
Residentes de Luhansk lutam para retomar vida normal após conflito na Ucrânia
Ucrânia, Luhansk, 06 de outubro de 2016 (ACNUR) - Andrei Lubyanoy está criando sozinha as três filhas, uma tarefa nobre que é difícil em qualquer circunstância, especialmente na região de Luhansk, leste da Ucrânia.
Durante as hostilidades de 2014 que dizimaram milhares de vidas e tiraram centenas de pessoas de suas casas, Anya, de nove anos, Yana, de 11, e Rita, de 13, quase perderam o pai.
Combatentes armados suspeitaram de que ele fosse um espião e atiraram em suas pernas durante um interrogatório, disse Lubyanoy. “Não é grande coisa, elas cicatrizaram”, disse Lubyanoy, de 38 anos, com um otimismo desesperado. Ele ganha menos de 50 dólares por mês fazendo bicos e suas filhas se revezam para cozinhar, cuidar da casa e do jardim.
Eles estão entre as milhares de famílias da região de Luhansk que precisam de ajuda urgente, mas cujo direito à ajuda humanitária tradicional não é claro.
Meio milhão de pessoas fugiram do conflito em Luhansk, mas algumas estimativas apontam que 150 mil retornaram, principalmente para suas casas e apartamentos, o que não os garantem o status de refugiados.
“Muitos retornaram por conta da impossibilidade de arcar financeiramente com o aluguel e com as despesas diárias em consequência da suspensão de suas pensões e benefícios”, disse Pablo Mateu, representante da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), na Ucrânia.
“Suas vidas eram difíceis antes do conflito e o deslocamento não tornou as coisas mais fáceis”.
Dois anos após o início do conflito e quase um ano depois do anúncio do cessar-fogo oficial, tiroteios esporádicos e mortes de ambos os lados ainda acontecem.
A região sofre de marginalização desde o colapso da mineração e das indústrias pesadas que levaram ao aumento dos preços. Lembretes do conflito estão em toda parte.
Em agosto de 2014, vários oficiais militares ocuparam brevemente a desgastada casa de dois quartos de Lubyanoy na vila de Georgievka. Antes de sair, jogaram uma granada no porão.
Bombardeios durante os conflitos armados na aldeia danificaram o telhado, as paredes e as janelas. Lubyanoy diz que não tem coragem de entrar e nem de reformar a sala de estar, local onde os militares ficaram. Ele e suas filhas dividem um pequeno quarto com dois beliches e um pequeno e antigo aparelho de televisão.
O ACNUR pagou pela restauração do telhado e pelo isolamento das paredes antes do início das chuvas de outono e das tempestades de inverno.
“Nós não vivemos, nós sobrevivemos”.
No entanto, a lista de necessidades da família ainda é longa. As roupas de inverno das garotas estão pequenas e elas precisam de material e livros para a escola. Sua mãe partiu anos antes dos voos de larga escala com refugiados de Luhansk e não pode ser rastreada. Rita corre o risco de perder a visão em um dos olhos por conta de uma lesão na infância que permaneceu sem tratamento por anos. No entanto, sua carteira de identidade foi destruída durante os conflitos e ela não pode deixar Luhansk, mesmo que houvesse uma clínica disposta a tratá-la gratuitamente.
Questionadas se precisavam de brinquedos - elas têm um desgastado ursinho de pelúcia e vários brinquedos antigos - Yana respondeu: “Nós não precisamos deles. Somos crescidas”.
Muitos adultos mais velhos dizem sobreviver com salários baixos ou pensões, não restando recursos para reparar suas casas.
“Nós não vivemos, nós sobrevivemos”, disse Olga Bondarenko, de 48 anos, em sua pequena casa da aldeia de Khryaschevatoe, que foi danificada durante os confrontos em agosto de 2014.