Rumores de nova onda de violência xenófoba na África do Sul preocupa refugiados
Rumores de nova onda de violência xenófoba na África do Sul preocupa refugiados
JOANESBURGO, África do Sul, 6 de julho (ACNUR) – Dolebo Debisto, um refugiado etíope proprietário de um restaurante na cidade de Duduza, próximo a Joanesburgo, me recebe no melhor estilo africano. Ombros curvados respeitosamente e rosto radiante como se recebesse um parente há muito tempo perdido, aperta minha mão em um cumprimento caloroso.
Sua decisão em manter o negócio contradiz o medo iminente. Há rumores de que haverá a deflagração de uma onda de violência xenófoba ao fim da Copa do Mundo de futebol, e Debisto tem boas razões para estar ansioso. Ele foi uma das 150 mil deflagraçe que haverloroso.to radiante como se recebesse um parente h pessoas atingidas durante uma onda de ataques a estrangeiros em 2008 que deixou mais de 60 mortos.
Debisto encontrou refúgio em um dos abrigos de segurança temporários oferecidos pelo governo, criados com o apoio da ACNUR. Os abrigos de segurança, inicialmente localizados nas maiores cidades sul-africanas, foram gradualmente fechados à medida em que o governo, as agências das Nações Unidas e as organizações de direitos humanos trabalhavam para reintegrar refugiados e outros estrangeiros em comunidades solidárias.
“Após o fechamento dos abrigos de segurança em 2009, Debisto se tornou uma figura comum em nosso escritório”, lembra Josephine Namata, do Serviço de Refugiados Jesuítas (JRS, sigla em inglês), uma agência parceira do ACNUR. “Ele estava desesperado e sempre prestes a desabar em lágrimas. Vê-lo daquela forma partiu meu coração.”
Debisto havia se casado recentemente quando os ataques xenófobos começaram, em maio de 2008, obrigando-o a abandonar sua antiga vida para obter proteção em um abrigo temporário. Quando os abrigos foram fechados, cerca de dez meses depois, as filhas gêmeas nasceram e a família não tinha para onde ir.
“Eu não tinha um lugar para morar, nenhum salário e nada para alimentar os bebês”, afirma Debisto com o olhar anuviado pela lembrança. Separado de seus familiares e do suporte que eles normalmente ofereceriam, Debisto, sua esposa e as crianças abrigaram-se em um quarto disponibilizado por um amigo etíope.
Através de um esquema de geração de renda do ACNUR, dirigido pelo Serviço de Refugiados Jesuítas, Debisto pôde alugar um pequeno mercado na cidade. Com os lucros da loja, ele abriu um restaurante etíope em sua casa. O restaurante possui um fluxo constante de clientes provenientes da comunidade composta de 200 refugiados etíopes que vivem na região. Para eles, uma refeição de vegetais e carne preparada artisticamente sobre uma Injira – alimento à base de pão muito consumido na Etiópia – tem o sabor de casa.
No entanto, Debisto está ciente de que a popularidade do restaurante o torna um alvo em potencial para os que estão determinados a varrer os estrangeiros da cidade.
“Nós sabemos quão real é a ameaça”, ele diz. Alguns sul-africanos solidários à nós também estão ouvindo os rumores. Debisto nos conta o conselho que ouviu de uma mulher sul-africana que descreve como uma “amiga dos refugiados”. Ela se aproximou de nós e nos implorou para que saíssemos da cidade quando chegasse o fim da copa do mundo – para nossa segurança.”
A cidade de Duduza ficou conhecida por ser a primeira comunidade da África do Sul onde um pneu em chamas foi colocado sobre um suposto informante do apartheid no auge da luta pela liberdade do país.
Eu me lembro, na minha infância, de observar com repulsa e horror o incidente ser transmitido em rede nacional. Décadas depois eu assistiria a uma cena similar na televisão no ápice dos ataques xenófobos de 2008.
Com os dias finais da Copa do Mundo, muitos cidadãos estrangeiros, especialmente os de Moçambique e Zimbábue, estão deixando o país. Os jornais falam que os nascidos em países vizinhos estão enviando seus pertences para casa. Para os refugiados e para quem procura asilo, voltar para casa não é uma opção.
O Chefe da Polícia da África do Sul, Nathi Mthethwa, tem declarado aos possíveis agressores que “não será tolerado qualquer tipo de violência contra cidadãos estrangeiros residentes no país”.
“A responsabilidade pela proteção dos refugiados e a manutenção da lei e da ordem é da alçada do governo”, diz Sergio Calle-Norena, vice-representante regional da ACNUR. “Mas estamos preparados para ajudar caso o governo requeira nosso suporte.”
Debisto, que recentemente removeu uma pixação em sua porta principal ordenando que os estrangeiros deixem a cidade, “ou senão...”, diz que ele e os outros refugiados continuam esperançosos de que os rumores de violência se resumam a isso.
Pumla Rulashe, em Joanesburgo, África do Sul