Situação de emergência na Somália afeta países vizinhos
Situação de emergência na Somália afeta países vizinhos
NAIRÓBI, Quênia, 03 de maio (ACNUR) – Uma delegação de alto nível do ACNUR que visitou campos de refugiados e deslocados somalis verificou o crescimento da tragédia humanitária que enfrentam milhares de pessoas em diferentes países da África. A delegação, liderada pelo vice-Alto Comissário do ACNUR, T. Alexander Aleinikoff, examinou os enormes campos de refugiados cada vez mais lotados e sem recursos na Etiópia, Djibuti, Quênia e na Somália durante uma visita de duas semanas.
Vinte anos de violência e conflitos forçaram ao menos dois milhões de cidadãos somalis a deixar o país para salvar suas vidas. Combates intensos nas áreas central e sul da Somália estão forçando mais pessoas a deixar suas casas do que em qualquer outro lugar do mundo. Traumatizadas e com medo, elas se abrigam nas partes mais seguras do país ou, se conseguirem, fogem para países vizinhos, como Quênia, Etiópia, Djibuti e Iêmen.
“O ônus para estes países é enorme”, disse o Aleinikoff, observando que todos os oficiais de governo com quem se encontrou expressaram crescente ansiedade em serem capazes de lidar com um fluxo maciço de refugiados com tantas necessidades básicas. Preocupações com segurança foram repetidamente identificadas. O ACNUR também está seriamente preocupado e está preparando medidas de emergência e um apelo para angariar fundos em meio a temores de que os combates possam se intensificar.
É provável que milhares de somalis cruzem a fronteira para o Quênia neste ano, e, se os conflitos se agravarem, este número pode se multiplicar. É provável que a maioria vá para Dadaab, uma cidade que já acolhe três grandes acampamentos superlotados de refugiados, com 270 mil deles. Embora o governo queniano tenha aprovado recentemente a ampliação de um campo, ainda assim não haverá terra suficiente para os milhares que estão para vir.
Outros somalis são esperados para atravessar a fronteira para a Etiópia. A delegação do ACNUR visitou dois novos campos de refugiados que irão abrigar recém-chegados e onde serão fornecidos materiais para a construção das tradicionais moradias tukuls – abrigos em formato de cúpula com alguns metros de diâmetro que agora precisam abrigar grandes famílias.
Em Djibuti, um país de primeiro asilo, os refugiados chegam depois de uma jornada árdua através do norte da Somália, onde a repressão a contrabandistas está fazendo a travessia ainda mais difícil. O número de recém-chegados mais que dobrou desde o ano passado, e o campo remoto e seco de Ali Addeh está superlotado. Para lidar com novos números e aliviar a sobrecarga neste campo escasso em água, o ACNUR está negociando com o governo a abertura de um novo campo.
Em todos estes campos, os recém-chegados estão se juntando a famílias da Somália que moram ali há mais de 20 anos, desde que a primeira onda de conflitos no início da década de 1990 os expulsou de suas casas. O ACNUR ajudou a reassentar milhares em novos países, a maioria nos Estados Unidos. Porém, estes números representam uma pequena fração daqueles que estão presos no limbo, incapazes de voltar para casa ou de se integrar nos países onde buscaram refúgio. “Se houvesse uma chamada insistente dos refugiados que nós encontramos, ela seria: por favor, encontre uma nova casa para mim”, disse o Sr. Aleinikoff.
Para aqueles que vivem por longos períodos no campo, a educação está entre os serviços mais requisitados. Nos campos de Dadaab, aulas fundamentais e secundárias são dadas com mais de 100 alunos cada. No entanto, estima-se que apenas metade das crianças as freqüentem. Em Ali Addeh, o ensino é oferecido apenas até o 8º ano (geralmente, para crianças de 13 a 14 anos) devido à falta de financiamento. “A esperança é cara”, diz Alison Oman, do ACNUR. “Estas pessoas foram privadas. Elas precisam de qualificação profissional para que, quando voltem à Somália, elas possam ser as médicas, engenheiras e professoras do futuro”.
Durante uma visita a Bossaso, uma cidade portuária no norte do estado somali de Puntland, a delegação testemunhou especialmente as condições precárias dos deslocados internos. Em terrenos baldios empoeirados na orla da cidade, mais de 60 mil somalis, principalmente mulheres e crianças, se esforçam para sobreviver em assentamentos precários para deslocados internos em tendas do ACNUR ou em estruturas precárias de papelão e pano. Incêndios ocorrem freqüentemente, e a comida é escassa.
ACNUR, UNICEF, FAO e outros parceiros oferecem alguma assistência, mas devido a restrições de recursos e de segurança, a ajuda é mínima. Algumas mulheres deslocadas conseguem ganhar dinheiro coletando lixo em Bossaso ou trabalhando em residências locais, e alguns homens encontram trabalho manual no porto.
Os projetos do ACNUR de geração de renda também ajudam. Porém, a maioria das pessoas vive na extrema pobreza. Praticamente não existe nenhuma assistência médica nos acampamentos. Apenas uma pequena porcentagem das crianças freqüenta a escola. “Se o conflito acabar, vamos todos voltar para casa”, disse um senhor no campo de deslocados em Bossaso.
Melissa Fleming em Nairóbi, Quênia