Situação interna na Síria se deteriora e força milhares de pessoas para a Europa
Situação interna na Síria se deteriora e força milhares de pessoas para a Europa
GENEBRA, 09 de setembro de 2015 (ACNUR) – A piora nas condições de vida na Síria e nos países vizinhos está forçando milhares de sírios a arriscar tudo em viagens perigosas para a Europa, advertiu nesta terça-feira o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR). À medida que a crise se aprofunda em seu quinto ano sem solução política à vista, o desespero aumenta, e a esperança torna-se artigo raro.
"Dentro Síria, os últimos meses têm sido brutal", disse em Genebra a porta-voz do ACNUR, Melissa Fleming. "A luta se intensificou em quase todas as províncias."
Ela citou como exemplos o aumento de ataques com foguetes e morteiros em Damasco, o crescimento de veículos explodidos em grandes cidades como Lattakia, Aleppo, Homs, Hassakeh e Qamishli, e o bombardeio pesado em Zabadani e na zona rural de Damasco. A consequente retaliação entre grupos rivais está levando milhares de pessoas a deixar suas casas, ressaltou Melissa Fleming.
"Em meio à escalada de violência, pessoas perderam seus meios de subsistência, bem como suas casas", acrescentou a porta-voz. Está aumentando o desemprego em todos os setores da economia síria que ainda resistem, como também a inflação associada a uma queda da moeda local - a libra síria perdeu 90% de seu valor ao longo dos últimos quatro anos. Na maior parte da Síria, a eletricidade está disponível durante poucas horas do dia, quando existe. Muitas regiões lutam contra a escassez de água. Mais da metade da população vive em extrema pobreza.
Apesar dos muitos desafios e das condições instáveis desta operação, o ACNUR continua a fornecer ajuda humanitária por toda a Síria, incluindo artigos de primeira necessidade, dinheiro, assistência médica, abrigo, apoio psicossocial e assistência jurídica.
Atualmente, os cidadãos da Síria enfrentam crescentes desafios para encontrar segurança e proteção nos países vizinhos, que por sua vez lidam com números de refugiados esmagadores, sem o suficiente auxílio internacional suficiente e com problemas de segurança. Neste cenário, adotaram neste ano medidas para conter o fluxo de refugiados - incluindo a restrição de acesso ou gestão mais rigorosa das fronteiras e a introdução de requisitos onerosos e complexos para prolongar a estadia de refugiados.
Para os 4,08 milhões de refugiados sírios que já estão nos países vizinhos, cuja grande maioria vive fora dos campos formais, a esperança também está diminuindo à medida que se tornam mais pobres.
A porta-voz relatou o testemunho de Hind, refugiada síria que fugiu de Damasco com o marido e três filhos, e que falou com o ACNUR em um armazém no norte da Jordânia. "Eu me sinto presa aqui", disse Hind. Seis meses atrás, a diminuição de seus recursos forçou sua família a desistir do apartamento que estavam alugando. "Nós não saímos, nós não fazemos nada. Nós perdemos qualquer esperança que tínhamos para o futuro", disse Hind ao ACNUR.
Estudos recentes na Jordânia e no Líbano apontam um aumento acentuado na vulnerabilidade dos refugiados em meio à escassez de financiamento dos programas de assistência e proteção. Uma avaliação do ACNUR na Jordânia, onde mais de 520 mil sírios estão vivendo fora dos campos de refugiados do país, mostrou que 86% das pessoas em áreas urbanas e rurais estão agora vivendo abaixo da linha da pobreza.
Com o fim de suas economias e outras posses, a maioria das famílias de refugiados tem alto endividamento e está tomando medidas cada vez mais extremas para lidar com esta situação. Muitos estão reduzindo o consumo de alimentos, enquanto membros da família começam a mendigar nas cidades da Jordânia.
O Líbano possui um quadro semelhante. Os resultados preliminares de um recente estudo de vulnerabilidade mostram que 70% das famílias de refugiados sírios vivem muito abaixo da linha de pobreza nacional - um aumento de 50% em 2014. No país, mais refugiados estão comprando comida a crédito, retirando as crianças da escola, e se valendo de esmolas para sobreviver.
Apesar deste contexto, o Programa Mundial de Alimentos teve que cortar neste mês a assistência alimentar de 229 mil refugiados na Jordânia devido à falta de recursos.
O abrangente Syria Refugee and Resilience Programme, que reúne ações prioritárias de aproximadamente 200 organizações humanitárias atuando na crise da Síria, tem atualmente apenas 37% do seu total custeado. Todas as atividades de ajuda humanitária foram afetadas pela escassez de financiamento. Em toda a região, cerca de 700 mil crianças refugiadas sírias estavam fora da escola no início do último ano letivo. Em breve, muitos refugiados que vivem em abrigos precários irão enfrentar outro inverno no exílio.
Existem 4,088 milhão de refugiados sírios registrados em países vizinhos da Síria, incluindo 1,938 milhão na Turquia, 1,113 milhão no Líbano, 630 mil na Jordânia, 250 mil no Iraque, 132 mil no Egito – além de outros 25 mil em países do Norte da África. Apenas 12% dos refugiados de toda a região vivem em campos de refugiados formalmente estabelecidos.
Por Ariane Rummery em Genebra