“Somos parte da solução”, dizem jovens refugiados
“Somos parte da solução”, dizem jovens refugiados
GENEBRA, Suíça - Para Mohammed Badran, um sírio de 24 anos que encontrou segurança na Holanda, ser um refugiado não é uma identidade, mas uma experiência que pode ser usada para unir comunidades.
“Quando somos apenas percebidos como beneficiários vulneráveis de assistência, a oportunidade de ter uma voz nas decisões que nos afetam é tirada de nós”, disse Mohammed aos participantes de conversas sobre uma nova resposta abrangente de refugiados que está sendo desenvolvida pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados. “Precisamos repensar o que significa ser um refugiado e incluir essa visão no pacto”.
“Para ser bem-sucedido, o pacto global deve ser dos refugiados”.
Mohammed estava entre os jovens refugiados que trouxeram uma nova perspectiva para as negociações. Com a ajuda de outros refugiados sírios, Mohammed fundou a ONG Voluntários Sírios na Holanda (SYVNL, em inglês), que já tem mais de 600 membros trabalhando para aproximar os refugiados sírios e as comunidades holandesas locais. Para ele, os refugiados não devem ser incluídos apenas nas consultas sobre o pacto, mas também no planejamento, monitoramento e avaliação.
“Para ser bem-sucedido, o pacto global deve ser dos refugiados”, disse.
Mohammed também faz parte do Conselho Jovem Global (GYAC, em inglês) criado pelo Alto Comissário da ONU para Refugiados. Os delegados do GYAC passaram meses realizando consultas com jovens de comunidades de refugiados e anfitriãs, líderes comunitários e autoridades do governo para coletar feedback sobre as versões iniciais do pacto global.
À medida que o número de pessoas forçadas a fugir de suas casas continua a subir, o pacto visa transformar a maneira como a comunidade internacional responde às crises de refugiados. O ACNUR recebeu a tarefa de desenvolver um Pacto Global sobre Refugiados pela Assembleia Geral da ONU em 2016. Espera-se que o novo documento seja adotado pela Assembleia Geral da ONU no final de 2018.
Ameaçada pela mutilação genital feminina e pelo casamento forçado, Mariama Saran Sow foi forçada a fugir da Guiné com apenas 17 anos de idade. Ela encontrou segurança na Alemanha, mas lutou para lidar com o trauma.
“Sofri muita violência em casa, mas sinto que ainda falta apoio psicossocial aos refugiados que passaram por experiências traumáticas”, explicou. “Quando chegam, as crianças precisam participar de atividades para esquecer suas preocupações. As mulheres também precisam de espaços seguros para falar sobre os abusos que possam ter sofrido. Quando chegamos, muitas vezes não falamos a língua do país que nos acolhe. Precisamos de mulheres intérpretes com quem possamos conversar”.
Outros jovens representantes também enfatizaram a importância de trabalhar em colaboração estreita com as comunidades anfitriãs.
“As comunidades anfitriãs e as autoridades locais são as primeiras a ajudar os refugiados”, disse Simon Marot Touloung, que em 2000 foi forçado a fugir do Sudão do Sul como menor desacompanhado e recentemente graduou-se graças a uma bolsa de estudos DAFI. Ele fundou a African Youth Action Network, uma organização liderada por refugiados que apoia iniciativas de convivência em Kampala e no Sudão do Sul. “Em Uganda, as comunidades locais concordaram em dar partes de suas terras aos refugiados do Sudão do Sul, como uma forma de agradecer por quando o Sudão do Sul ajudou os ugandenses na década de 1970”.
“As comunidades anfitriãs são mais receptivas com os refugiados quando não os veem como concorrentes”.
Denis Adhoch, um queniano de 30 anos, disse que as comunidades anfitriãs devem ser reconhecidas por sua generosidade e devem receber apoio adicional.
“Refugiados urbanos vivem em assentamentos informais ao lado de moradores locais que também lutam para sobreviver”, explicou ele. “Quando os refugiados recebem serviços dos quais os habitantes locais também não podem se beneficiar, a percepção de que os refugiados recebem tratamento preferencial e um sentimento de ressentimento pode crescer”.
Por meio de seu trabalho em Kalobeyei - um assentamento próximo ao campo de refugiados de Kakuma, no Quênia - Denis viu como os serviços integrados, que permitem que tanto os refugiados quanto as comunidades anfitriãs acessem os serviços de educação, saúde e água, podem ajudar a facilitar a integração.
“As comunidades anfitriãs são mais receptivas com os refugiados quando não os veem como concorrentes pelos mesmos recursos”, disse.
“Valorizamos muito a contribuição de jovens refugiados e precisamos analisar como garantir que as vozes dos jovens de comunidades de refugiados e anfitriãs sejam traduzidas em políticas globais”, disse Volker Türk, Alto Comissário Adjunto de Proteção do ACNUR, que moderou o evento ao lado da colombiana Laura Elizabeth Valencia Restrepo, de 21 anos, do GYAC.
O ACNUR está agora na metade das consultas formais, que terminam em julho e visam assegurar que o Pacto Global sobre Refugiados seja adotado por consenso.
Laura, que foi forçada a fugir para o Equador em 2007, sabe como os refugiados serão vitais para o sucesso do documento. “Somos parte da solução e temos a competência para fazer parte disso”, afirmou.