Trabalhadores qualificados, estudantes e profissionais da RCA encontram abrigo no Chade
Trabalhadores qualificados, estudantes e profissionais da RCA encontram abrigo no Chade
N'DJAMENA, Chade, 10 de março de 2014 (ACNUR) – Nos últimos três meses o governo do Chade evacuou cerca de 16.000 pessoas da República Centro-Africana (RCA) para N’Djamena em meio ao aumento da violência e perseguição religiosa no país vizinho.
A maioria das pessoas que foram trazidas para a capital do Chade são cidadãos chadianos ou refugiados, porém mais de 1.000 pessoas são da RCA e alguns de outros países, principalmente pessoas alfabetizadas e de áreas urbanas. Eles conseguiram embarcar em voos deixando Bangui durante a confusão da evacuação. Estes voos foram suspensos pelo Chade dia 20 de fevereiro, mas pessoas continuam chegando por terra.
O ACNUR e a Comissão Nacional para Recepção e Reintegração de Refugiados e Repatriados tem entrevistado e pré-registrado essas pessoas em oito centros de trânsito em N’Djamena, incluindo o Centro de Trânsito No 3 na região Paris-Congo.
“Muitos já partiram, mas muitos ainda não têm para onde ir”, disse Dario Neloumia, que dirige o centro lotado, enquanto acrescenta que o centro abriga cerca de 600 pessoas.
A agência de refugiados facilita a transferência para campos de refugiados no sul do Chade para aqueles que o desejam, como Yaya de 35 anos, que trabalhava em uma multinacional em Bangui para ajuda-lo a concluir o curso de sociologia como um estudante mais maduro. “Eu tenho um ano para ir”, disse o centro-africano, um muçulmano como a maior parte daqueles que tiveram que fugiram para o Chade.
Aqueles que não desejam ir para os campos de refugiados como Dosseye, perto da fronteira sul com a RCA, podem permanecer em N’Djamena morando em casas de famílias ou alugando espaços. O governo está considerando abrir locais especais para aqueles que desejam ficar, mas não podem arcar com os custos. A equipe do ACNUR monitora todos os refugiados registrados.
As condições no Centro de Transito No 3, ou CT3, não são ótimas, mas pelo menos os recém-chegados se sentem seguros e longe da violência e perigo de Bangui, onde centenas de milhares de pessoas têm sido deslocadas e muitos passam por necessidades. Muitos outros países têm evacuado seus cidadãos, enquanto o ACNUR e a Organização Internacional para Migração têm repatriado centenas de refugiados até agora neste ano.
Há um forte odor de dejetos humanos no CT3. Crianças estão por todos os lugares e mulheres sentam em esteiras de palha tomando conta dos poucos pertences que foram capazes de salvar: roupa de cama, potes, malas estragadas ou quebradas.
Yaya conseguiu embarcar em um dos voos de evacuação por acaso, após ter sido mandado para o aeroporto por sua empresa para ajudar carregar um embarque aéreo. “Tinham milhares de pessoas esperando para entrar no avião”, lembrou. “Eu estava carregando bagagens e consegui ficar num voo de cargas que levava pertences chadianos da embaixada [em Bangui] de volta para N’Djamena”.
Como muitos outros, Yaya gostaria de voltar para casa um dia. “Agora há muito ódio e brigas”, ele disse. “Eu vi uma mensagem no Facebook de alguém que conheço de casa. A mensagem dizia, ‘Agora que os muçulmanos foram embora nos sentimos como verdadeiros centro-africanos.’ Como podemos conviver juntos dessa forma?”.
Por enquanto, Yaya decidiu se transferir para um acampamento. “Eu preciso me estabelecer e pensar sobre as coisas. Eu provavelmente vou ter que voltar a N’Djamena para achar um emprego”, disse ele acrescentando que precisaria ganhar a vida para se sustentar e também membros de sua família extensa, que são esperados para chegar no sul do Chade em breve. Sua esposa também esta em N’Djamena, mas em um centro de trânsito diferente, eles esperam se reunir novamente no Campo Dosseye.
Yaya é um dos muitos de origem urbana e alfabetizados que chegaram no Chade, acrescentando uma nova dimensão para o perfil de refugiados da RCA, que consiste em grande parte de fazendeiros e criadores de gado em campos do sul.
Enfermeiras, estudantes, professores e trabalhadores de ONG’s e muitos outros estão entre aqueles que recentemente chegaram em Bangui. O ACNUR está explorando formas apropriadas para assistir este grupo de pessoas especializadas, nomeadamente através da educação e oportunidades de emprego.
“Se aproveitarmos a oportunidade e deixarmos os refugiados usarem suas habilidade, eles não só irão reconquistar sua dignidade e independência, mas também serão capazes de contribuir para o desenvolvimento do seu novo ambiente”, destacou Aminata Gueye, representante do ACNUR.
*Nome alterado a pedido do entrevistado.
Por Massoumeh Farman-Farmaian em N'Djamena, Chade.