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Transferência de renda reduz riscos e melhora a vida de famílias venezuelanas em Manaus

Comunicados à imprensa

Transferência de renda reduz riscos e melhora a vida de famílias venezuelanas em Manaus

29 Outubro 2018
Cristina, Santiago e os filhos na porta de sua casa, em Manaus: com o programa de transferência de renda, conseguiram se estabelecer na cidade. ©ACNUR/Luiz Fernando Godinho

Cristina Duarte* e sua família saíram da Venezuela em fevereiro deste ano “com uma mão na frente e outra atrás”, como ela mesmo diz. Sentada na cozinha da modesta casa onde vive em Manaus (capital do Estado do Amazonas), conta que a insegurança, a violência e os desafios socioeconômicos em seu país se tornaram insuportáveis.

Assim, ela, o marido e dois filhos menores deixaram familiares, amigos e pertences – inclusive uma casa – para trás, cruzaram a fronteira com o Brasil e se estabeleceram em Boa Vista (capital do Estado de Roraima), onde solicitaram refúgio. Lá, viveram por 15 dias em uma praça da cidade antes de serem encaminhados a um abrigo para solicitantes de refúgio e migrantes venezuelanos.

Decididos a “enfrentar todas as dificuldades para recomeçar a vida”, ela e sua família aderiram voluntariamente ao programa de interiorização do governo federal, que realoca venezuelanos para outras cidades do país com melhores perspectivas de integração, e desembarcaram em Manaus no último mês de maio deste ano em um avião da Força Aérea Brasileira.

Novamente acolhidos em um abrigo, permaneceram um curto período no local antes de se mudarem para a casa onde agora estão. Lá também vivem o cunhado de Cristina e a esposa dele.

A casa de quatro cômodos é simples e está equipada com eletrodomésticos básicos, como fogão, geladeira, televisão e ventilador. O marido e o irmão já estão trabalhando. Cristina se divide entre empregos esporádicos e o cuidado com as crianças, que ainda não estão na escola. Grávida, a cunhada ajuda a cuidar da casa e dos sobrinhos, que já têm vários amigos na vizinhança.

“Compramos tudo o que temos, e isso nos orgulha. Mas ainda há muito a conquistar”, afirma Santiago*, marido de Cristina, ao chegar em casa após um dia de trabalho como ajudante de cozinha num restaurante de Manaus.

Além de contar com muita determinação e resiliência, Cristina e sua família estão reorganizando sua vida com o apoio do ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) e seus parceiros – entre eles a Direção-Geral da Ajuda Humanitária e da Proteção Civil da Comissão Europeia (ECHO) e a Cáritas Arquidiocesana de Manaus.

Por meio de um projeto financiado pela ECHO para atender às necessidades de venezuelanos mais vulneráveis, a família de Cristina – assim como outros milhares de venezuelanos – foi acolhida em abrigos adequados, com alimentação, cuidados médicos e itens de primeira necessidade.

Como incentivo para deixar o abrigo em Manaus e, assim, criar vagas para outros venezuelanos, a família Duarte recebeu recursos para cobrir três meses de aluguel e outras despesas domésticas, como luz, água e gás. Isso deu ao marido a segurança necessária para conseguir um emprego regular e estabilizar a situação da família.

“Passamos por uma situação de rua que nunca havíamos vivenciado. Estamos muito agradecidos por toda ajuda que recebemos e somos orgulhosos da nossa situação. Nossa vida agora é no Brasil”, diz Santiago. “Nunca trabalhei antes, mas vou começar uma nova etapa da minha vida. Com este apoio, conseguimos economizar parte do salário e pagar o aluguel sem estresse. Agora planejamos comprar uma moto”, revela Cristina.

Em Manaus, o programa de transferência de renda financiado pela ECHO para apoiar o acesso de venezuelanos à moradia é implementado pela Cáritas Arquidiocesana, entidade parceria do ACNUR. Quase 300 pessoas já foram beneficiadas, e puderam alugar casas em diferentes bairros da cidade. Atualmente, mais de 90 casas já foram alugadas por essas famílias.

“Este programa permite às pessoas em situação de refúgio se integrarem à sociedade, com oportunidade de uma moradia digna, de se capacitar, conseguir um emprego ou abrir seu próprio negócio. O programa oferece a perspectiva de uma nova cidadania em um novo país”, afirma o vice-presidente da Cáritas Arquidiocesana de Manaus, Padre Orlando Barbosa.

Equipes da Cáritas apoiam a elaboração de currículos profissionais e a colocação dos adultos no mercado de trabalho, além de encaminharem os solicitantes de refúgio e migrantes para atendimentos de saúde e outros serviços públicos.

As famílias beneficiadas com a transferência de renda para o acesso à moradia recebem três parcelas, pagas mediante a apresentação dos recibos de aluguel e de outras despesas. As moradias identificadas pelo projeto estão em locais seguros e próximas de escolas e postos de saúde. Assistentes sociais verificam se as famílias estão atingindo a autossuficiência e identificam outras necessidades de proteção.

“Temos em mãos um instrumento para ajudar pessoas com necessidades emergenciais. Elas chegam com pouca esperança, e somos um feixe de luz diante de tanto sofrimento. Fazemos parte da história destas famílias, e isto é muito gratificante”, afirma Roberto Guedes, auxiliar financeiro da Cáritas Arquidiocesana de Manaus responsável por fazer os pagamentos financiados pelo projeto.

Na fila para ser atendida pelo programa está Alícia Diaz*, que aos 67 anos deixou a Venezuela com a filha Andreina* e chegou em Manaus em junho deste ano. Após dois dias vivendo ao redor da rodoviária da cidade, foram encaminhadas pela Cáritas para um dos abrigos da cidade. Com problemas de saúde, ela foi identificada como beneficiária do programa de transferência de renda financiado pela ECHO.

Alícia e a filha deixaram o abrigo e se mudaram para um pequeno apartamento que dividem com uma migrante haitiana. A filha, que é engenheira, está montando um negócio de comida para aumentar a renda familiar. Ambas têm contado também com a solidariedade de vizinhos para se estabilizar.

“Agora temos mais privacidade e tranquilidade. Consigo cuidar da minha mãe, que requer uma alimentação balanceada. Esperamos poder ajudar outras pessoas, assim como fomos ajudadas. O objetivo é caminhar com nossas próprias pernas”, afirma Andreina.

Para o chefe do escritório de campo do ACNUR em Manaus, Sebastian Roa, o programa de transferência de renda tem impactos positivos a nível local. “O projeto dá autonomia às pessoas para gerirem seus gastos, injeta recursos na economia local e apoia os mais vulneráveis a atingir sua autossuficiência. Também devemos reconhecer o apoio de muitos amazonenses, que neste momento difícil oferece uma mão amiga a estas famílias”, observa Roa.

Dona Alícia (centro) agradece à equipe da Caritas Manaus pelo apoio do programa de transferência de renda financiado pela ECHO, em parceria com o ACNUR Brasil. ©ACNUR / Luiz Fernando Godinho

Estima-se que 2,6 milhões de venezuelanos estão vivendo fora do país devido a uma complexa situação política e socioeconômica. Entre as razões que levam estas pessoas a deixar seu país estão insegurança e violência, redução na renda e dificuldade em obter comida, remédios e serviços essenciais.

Cerca de 70% destes venezuelanos estão em países da América do Sul, sendo o Brasil um dos destinos de quem busca proteção e assistência. Segundo dados do governo federal, mais de 65 mil venezuelanos já solicitaram refúgio no Brasil. Outros 19 mil solicitaram residência temporária.

Em Manaus, já são mais de 8.800 solicitações feitas por venezuelanos desde 2017 – até agosto deste ano. Cerca de 600 pessoas estão acolhidas em abrigos da cidade, sendo que pelo menos 180 chegaram à cidade por meio da estratégia de interiorização.

 

(*) Nomes trocados por questões de segurança