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Tratamento rápido salva refugiado centro-africano de sete anos condenado à morte

Comunicados à imprensa

Tratamento rápido salva refugiado centro-africano de sete anos condenado à morte

Tratamento rápido salva refugiado centro-africano de sete anos condenado à morteA ferida de machete será uma lembrança que acompanhará o pequeno Ibrahim para sempre. Ele deve sua vida à rápida intervenção da equipe do ACNUR em Camarões.
10 Junho 2014

GBITI, Camarões, 10 de junho (ACNUR) – Ibrahim brinca feliz em frente a sua mãe na fronteira camaronesa da cidade de Gbiti. Ele se parece com qualquer outro garoto de sete anos de idade. No entanto, ao se virar, os visitantes são surpreendidos por uma profunda cicatrize em sua cabeça.

A ferida de machete será uma lembrança que o acompanhará por toda a sua vida, principalmente do seu encontro com a morte nas mãos de milicianos, do outro lado da fronteira, em seu país natal, na República Centro-Africana (RCA). Ele deve sua vida à rápida intervenção da equipe do ACNUR em Camarões, que viu sua ferida enquanto atravessava o raso rio que marca a fronteira com a RCA. Um pedaço de sua cabeça havia sido cortada, expondo o osso e uma parte do cérebro.

O ACNUR o levou às pressas para o hospital na cidade de Bertoua, que fica a três horas de carro da cidade de Gbiti. Teria que ser muito rápido. Ademais, além da ferida exposta, o garoto estava fraco e desnutrido devido à caminhada pela mata com seus pais em busca de segurança no Camarões. "Durante esses dois meses ele não dormiu, pois não podia. Ele não parava de chorar", lembra sua mãe Djoumba.

A maior parte das pessoas que chegam à Gbiti está exausta e em condições físicas precárias depois de fugirem dos ataques brutais à suas casas por elementos armados. Muitos sofrem em consequência de cortes profundos ou de feridas à bala, mas eles mesmos contam que tiveram sorte por estarem vivos. Os elementos atacam homens, mulheres e crianças, o pouco dos jovens que sobreviveram tem uma ferida tão terrível quanto a de Ibrahim.

O ACNUR e seus parceiros estão monitorando de perto as milhares de pessoas que atravessam para Gbiti, prestando atenção nas pessoas com necessidades de assistência médica, principalmente desnutridas, mas também naquelas que estão com ferimentos físicos. Aqueles que necessitam de internação são levados à Bertoua, os outros são alocados em campos de refugiados. Sem o apoio do ACNUR e seus parceiros, como os Médicos Sem Fronteiras, muitos já teriam morrido.

Como muitos campesinos, os pais de Ibrahim pensavam que provavelmente o conflito intercomunal, deflagrado em dezembro passado em Bangui, nunca chegaria até eles. No entanto, dois meses atrás, quando o pai de Ibrahim, Amadou, estava fora cuidando de seu gado, um grupo de milicianos chegou à casa da família.

"Eles me encontraram com minhas crianças em casa; eles reuniram todas as crianças pequenas e as mataram com machetes. Eles mataram seis pessoas na minha presença, incluindo cinco crianças", disse Djoumba, de 30 anos de idade. "Ibrahim estava entre as pessoas que eles pegaram. Quando eles o golpearam com a machete, pensaram que já estava morto".

Os invasores queriam levar Djoumba com eles, mas a deixaram quando ela resistiu. "Eles me deixaram deitada no chão, próximo de Ibrahim. Pouco depois, eu percebi que Ibrahim ainda estava respirando", ela explicou.

Quando Amadou retornou para casa. Encontrou sua mulher e seu filho ferido e decidiu deixar sua vila imediatamente e buscar segurança em Camarões. Eles não podiam cobrir a ferida de Ibrahim, mas eles a lavavam com água quente quando possível para tentar reduzir o risco de infecção. No entanto, seus pais pensavam que eventualmente Ibrahim morreria.

"Caminhamos durante dois meses, dia e noite. Quando chegamos ao rio, descansamos um pouco antes de atravessá-lo. Nós bebíamos água do rio e comíamos vacas mortas que encontramos pelo caminho. As vacas também estavam morrendo de fome", disse Djoumba.

De alguma maneira, eles conseguiram chegar à fronteira vivos. Foi por acaso que eles cruzaram a fronteira com Camarões em um local onde a equipe do ACNUR estava presente e foi capaz de correr com Ibrahim direto para o hospital, para receber os cuidados que tanto necessitava.

Ele obteve alta do hospital depois de um mês e se juntou à sua família em Gbiti, onde eles tinham construído um abrigo enquanto esperavam para serem transferidos para o campo de refugiados de Mbile, mais ao centro do país. Cerca de 20.000 refugiados atravessaram a fronteira até Gbiti, por isso levou algum tempo até removê-los para o interior.

Hoje, a ferida de Ibrahim cicatrizou e ele brinca feliz com os novos amigos. Não houve danos permanentes no cérebro, mas ele pode precisar de acompanhamento devido ao trauma. Ele teve sorte, mas deve também ter tido uma grande força de vontade de lutar pela vida. Quando ele for para o campo de refugiados, ele retornará à escola.

Muitas das crianças que fogem da brutalidade na RCA não conseguem chegar aos países vizinhos, incluindo Camarões, onde o ACNUR, o Médico Sem Fronteiras e outras agências humanitárias fornecem assistência emergencial, incluindo itens básicos como abrigos e cuidados com a saúde. Elas morrem em ataques, de fome ou de doenças no caminho pela busca por segurança.

Por Céline Schmitt em Gbiti, Camarões.