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Tuaregue deixa emprego confortável no setor privado para ajudar refugiados malianos

Comunicados à imprensa

Tuaregue deixa emprego confortável no setor privado para ajudar refugiados malianos

Tuaregue deixa emprego confortável no setor privado para ajudar refugiados malianosQuando milhares de famílias refugiadas do Mali começaram a chegar no seu vilarejo, Ahmid abandonou seu emprego e se candidatou para trabalhar no ACNUR.
25 Outubro 2012

MENTAO, Burkina Faso, 01 de outubro de 2012 (ACNUR) - No início deste ano, Ahmid Ag Rali ficou chocado ao ver várias crianças entre as famílias refugiadas do Mali que começaram a chegar no seu vilarejo, ao norte de Burkina Faso. Comovido e decidido a ajudar, este burquinense de 35 anos, originário da província de Oudalan, abandonou seu emprego numa empresa mineradora estrangeira e se candidatou para trabalhar no ACNUR.

Hoje, Ahmid desempenha um importante papel como assistante de serviços comunitários, ajudando os mais vulneráveis dentre os refugiados recém-chegados, inclusive idosos, grávidas e pessoas com deficiência. Mas a operação do ACNUR para dezenas de milhares de refugiados malianos se encontra prejudicada por problemas de segurança e necessidades de fundos que têm afetado sua capacidade de ajudar quem mais precisa.

De madrugada, Ahmid é normalmente a primeira pessoa do ACNUR vista pelas famílias que chegaram durante a noite anterior no campo de refugiados de Mentao, a 95 quilômetros da fronteira entre Burkina Fasso e Mali. Isso é mais do que um trabalho para Ahmid, cuja origem tuaregue o deixa confortável para considerar os malianos como “uma extensão de sua família”. Com 1,85 metros de altura e sendo um tuaregue nascido e criado em Burkina Faso, ele tem um parentesco étnico com muitos deles.

“Desde criança, sempre quis fazer a diferença na vida das pessoas”, diz Ahmid em Mentao, um dos dois campos de refugiados localizados em Oudalan, sua província natal. “Tornar-me um trabalhador humanitário era minha verdadeira vocação – no ACNUR, eu me sinto em casa”. Ahmid teve a sorte de concluir o ensino médio, e expressa sua preocupação em relação ao bem-estar das crianças. Mais da metade dos refugiados em Burkina Faso têm menos que 18 anos de idade.

Ahmid cumprimenta os recém-chegados com um caloroso “taberakam”, que significa “bem-vindo” em tamasheq, uma variedade de tuaregue que é falada em Timbuktu e outras áreas do Mali. A hospitalidade é um componente vital da cultura tuaregue, e Ahmid dá muita importância em fazer com que refugiados cansados, assustados e vulneráveis se sintam seguros, cuidados e em casa quando chegam a Mentao.

“Minha cerimônia de boas-vindas é uma arte. Se eu colocar de forma errada meu olhar ou qualquer uma de minhas palavras, posso perder a confiança deles para sempre”, disse Ahmid. Mentao, o campo onde ele trabalha, foi aberto há seis meses e já acolhe pouco mais de 6 mil pessoas. Elas fugiram do conflito que começou em janeiro passado entre as forças do Governo do Mali e os rebeldes tuaregues do Movimento Nacional pela Liberação de l’Azawad (MNLA).

O conhecimento local, as competências linguísticas e a sensibilidade cultural de funcionários nacionais como Ahmid são ferramentas vitais para o ACNUR no seu esforço de ajudar os mais de 200 mil malianos que buscaram proteção em países vizinhos – principalmente Burkina Faso (35 mil), Mauritânia (108 mil) e Níger (64 mil). Os refugiados em Mentao incluem tuaregues, árabes e soughais, o que faz de uma visita aos acampamentos uma rica experiência cultural.

Embora tem sido dada uma assistência básica desde o começo, os problemas de segurança e a dificuldade de acesso aos campos situados ao longo de estradas de terra têm restringido a capacidade do ACNUR de fazer mais nos campos de Oudalan. A agência também precisa manter a captação de fundos para operação, no momento em que equipes de serviços comunitários, como a de Ahmid, encontram-se com falta de pessoal apesar das doações recentes de diversas fontes.

Ahmid cresceu em Oudalan, uma das províncias mais pobres e áridas num dos países mais pobres do mundo – Burkina Faso ocupa a posição 181 no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU. A maioria daqueles que fugiram de Burkina Faso, cerca de 80%, se dirigiu para Oudalan. Por isso, Ahmid tem um sentimento natural de responsabilidade para com essas pessoas que desembarcam em sua comunidade.

Entretanto, o maior desafio é logístico: conseguir artigos de primeira necessidade e pessoal para esta área remota e subdesenvolvida numa época em que as condições adversas na região do Sahel são agravadas pela falta de alimentos e água. Alguns agentes de ajuda humanitária têm chamado esta situação de “crise dupla”, pois os refugiados têm fugido para uma região onde a população local já sofria.

Ahmid simplesmente realiza um trabalho de ajuda aos mais necessitados e faz com que se sintam melhor. Seu sucesso pode ser medido pelos sorrisos nos rostos sempre que ele aparece. Esse tuaregue conhece os nomes de todos os que estão sob seu cuidado e os ajuda a obter acesso às distribuições de alimento, assistência médica e outros serviços fornecidos pelo ACNUR e seus parceiros.

Um desses casos é Offeda, chefe de uma família de 80 pessoas, que não pode mais andar por causa de sua paralisia das pernas. Offeda chegou ao campo de refugiados de Mentao em janeiro último, depois de fugir de Timbuktu num carro dirigido pelo seu filho caçula. Graças às visitas constantes de Ahmid e ao idioma que compartilham, Offeda se sente assistido e cuidado.

Quando perguntado sobre sua própria família e os longos períodos que passa longe de sua esposa e seu filho recém-nascido, Ahmid explicou: “Tenho duas casas: uma nos acampamentos, onde posso criar um mundo melhor, e outra com minha família, onde posso viver no melhor lugar do mundo já criado”.

Por Hugo Reichenberger em Mentao, Burkina Faso