Unidos pela busca de uma vida melhor, jovens refugiados participam de Oficinas de Empregabilidade
Unidos pela busca de uma vida melhor, jovens refugiados participam de Oficinas de Empregabilidade
Na segunda edição das Oficinas de Criatividade com refugiados e solicitantes de refúgio, 13 jovens participaram de atividades voltadas para a inserção no mercado de trabalho brasileiro. Fruto da parceria da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), do Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH) e da Congregação das Irmãs Scalabrinianas, com o Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), o projeto visou capacitar e assistir jovens refugiados e solicitantes de refúgio na busca de uma oportunidade de estágio ou de jovem aprendiz.
As atividades desta segunda edição tiveram início em meados de novembro e foram finalizadas na última sexta-feira (14/12), quando os jovens receberam os certificados de participação. Durante o período de um mês, participantes de diferentes idades, gênero e nacionalidades se encontraram periodicamente na sede do CIEE em Brasília, unidos pela vontade de buscar uma vida melhor por meio da educação e do trabalho.
A iniciativa nasceu entre os meses de janeiro e fevereiro de 2018, quando foi inaugurada a turma piloto. Na época, sete jovens de quatro nacionalidades – Congo, Haiti, Gana e Camarões – participaram dos treinamentos oferecidos pelo CIEE. O resultado foi muito positivo: três participantes foram contratados como estagiários no Banco do Brasil e no Governo do Distrito Federal, dois ingressaram no mercado de trabalho com carga horária completa e outros dois optaram por se dedicar mais tempo aos estudos e aprimorar o conhecimento no português antes de se candidatarem a vagas de estágio.
A segunda edição ocorreu entre novembro a dezembro, com uma taxa de comparecimento de quase 100%. Segundo Fernando Damazio, do setor de integração laboral do IMDH, com esta nova turma buscou-se replicar os aprendizados da primeira, visando proporcionar um importante momento para reflexão e preparação dos jovens para alcançar suas aspirações profissionais.
“Além de adquirir e desenvolver competências para o mercado de trabalho brasileiro, observamos a evolução destes jovens ao longo dos cinco encontros, seus sonhos e protagonismo. O IMDH seguirá no acompanhamento destes e de outros jovens e adultos, buscando novas oportunidades de trabalho decente", declarou Fernando.
Rayssa Ramos, Assistente Social do CIEE e responsável pelo desenvolvimento de quatro das cinco oficinas que foram oferecidas, apontou que quando recebeu o convite inicial para coordenar o projeto, se viu a frente de um desafio pessoal e profissional. Teve receio que o idioma e as diferenças culturais poderiam trazer desafios para o progresso das atividades. Uma vez que a sala continha múltiplas nacionalidades, com jovens do Congo, de Camarões, do Haiti e da Venezuela, a preocupação central era como prender a atenção de pessoas advindas de diferentes contextos e realidades. A solução foi diminuir o número de oficinas, de dez para cinco, torná-las mais dinâmicas e moldar o conteúdo para o interesse e as necessidades específicas da turma.
“O principal objetivo era contribuir para a maior inserção desses jovens no mercado de trabalho brasileiro. Mas não somente isso. Queríamos demonstrar que o Estado brasileiro é responsável por eles, que eles são merecedores de ter acesso aos direitos sociais como qualquer outro brasileiro e que eles tem possibilidades e chances para reconstruírem suas vidas”, enfatizou Rayssa.
A primeira oficina foi uma das mais importantes. Ao trabalhar o tema de identidade, o objetivo foi estimular que os jovens refletissem sobre si, suas experiências e como eles são capazes e merecedores de alcançarem seus sonhos e metas. O primeiro passo foi, portanto, trabalhar a autoestima, a autonomia, a sociabilidade, a desconstrução de pré-julgamentos e estimular o exercício da cidadania individual e coletiva.
Ao longo das demais seções, os jovens aprenderam também a desenvolver características como liderança e trabalho em grupo, refletiram sobre sua imagem pessoal e profissional, conheceram a melhor forma de elaborar currículos e experimentam dinâmicas de entrevistas e atividades em grupo.
Daniel, de 15 anos, veio da Venezuela e está no Brasil há cinco meses. Ao participar das aulas, disse ter adorado a oportunidade de conhecer pessoas de outros países e culturas, e que foi importante para incentivá-lo no seu sonho de ser estilista e abrir sua própria loja de roupas. Para seus colegas Annabel e Cesar, ambos de 15 anos e também recém-chegados da Venezuela, a oportunidade foi importante para começar a praticar o português, lidar com a timidez e aprender a trabalhar em grupo.
Durante o último encontro, a oficina se concentrou em ensinar os jovens a elaborar currículos e dar dicas de como se comportar durante uma entrevista de emprego. Neste momento, conversou-se com os jovens a importância de valorizarem suas habilidades e competências, os cursos realizados em outros países e o domínio de diferentes idiomas. Todas características importantes de serem evidenciadas na hora de uma entrevista. Em seguida, para encerrar as atividades, todos os participantes receberam certificados das atividades das quais fizeram parte.
Entre os principais resultados alcançados, o estímulo à emancipação do conhecimento, a busca por autonomia, a integração de jovens e, sobretudo, o encorajamento de vislumbrar um futuro melhor, tornaram esta edição um sucesso que deve seja repetido. Apesar das aparentes dificuldades iniciais, no decorrer das sessões a maior integração tornou o trabalho muito participativo e gratificantes para todos.
“Trabalhar neste projeto foi um divisor de águas para mim. Como assistente social pude trabalhar com pessoas que estão em vulnerabilidade social, mas atentando para suas características particulares, como o idioma e a cultura. Como ser humano, me proporcionou novos conhecimentos, desde aprender a falar os nomes deles corretamente, até entender como poderia ajudar a cada um de forma individual e coletiva. Não tenho palavras para explicar”, relatou Rayssa durante o evento de encerramento das oficinas.
William, de 14 anos, foi um dos integrantes que mais se destacou na turma. Proveniente de Camarões e morando há um ano no Brasil, já frequenta a escola e fala muito bem português. Para ele, as oficinas foram muito importantes para avaliar seu próprio comportamento, melhorar sua timidez e insegurança e aprender em como ser um excelente candidato em uma futura oportunidade profissional. Ademais, ao longo do curso William aprendeu muito com os colegas e conheceu novas culturas.
“No início todo mundo estava separado, parecia uma competição. Mas no final do programa nos tornamos uma família e espero reencontrá-los daqui para frente, quem sabe trabalhando em uma mesma empresa onde possamos nos ajudar”, disse William, que sonha em trabalhar em uma empresa onde possa obter experiência e novos conhecimentos.
Herold, de 18 anos, veio do Haiti e reside no Brasil com sua família há cinco anos. Foi o participante que extraiu a melhor experiência do projeto: participou da primeira turma e está finalizando o seu primeiro ano como estagiário do GDF no Hospital Regional de Planaltina. Ao trabalhar com assistência de tecnologia da informação, ele disse estar muito feliz por ter participado das oficinas. Para o futuro, se prepara para uma nova fase profissional, visando combinar a paixão pela tecnologia com um curso de graduação em arquitetura.
“Eu gostei muito de trabalhar na área de informática, aprendi muito e agora que já terminei o ensino médio, penso em cursar uma faculdade, para continuar me aprimorando e seguir trabalhando. Foi uma grande oportunidade de aprendizado”, declarou o jovem.
A iniciativa promovida pelo CIEE, ACNUR e IMDH é um esforço em conjunto para buscar formas de sensibilização e aumentar as parcerias com o setor privado. Por meio de projetos de qualificação e empregabilidade, procura-se demonstrar ao mercado de trabalho a forma como essas pessoas podem enriquecer e diversificar os perfis profissionais das empresas, trazer novos olhares e ideias aos processos internos e na busca por soluções de problemas, trazer novas oportunidades de mercado e incentivar qualidades na equipe, como resiliência e a força para recomeçar.
Diante do sucesso do projeto piloto em Brasília, para 2019 ACNUR e CIEE planejam não só continuar, mas expandir a parceria. Os beneficiados desta segunda edição continuarão sendo acompanhados na aquisição da carteira de trabalho e inserção em oportunidades de estágio. Nas demais regiões do Brasil, a parceria irá trabalhar para que a iniciativa alcance e beneficie jovens refugiados e solicitantes de refúgio em todo o território nacional.
Sobre o CIEE – O Centro de Integração Empresa Escola é uma associação privada sem fins lucrativos, filantrópica e beneficente de assistência social, cuja a missão é contribuir para o acesso e a integração de jovens ao mundo do trabalho, fortalecendo o exercício da cidadania.