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Videogame permite vivenciar a perigosa jornada de uma pessoa refugiada

Comunicados à imprensa

Videogame permite vivenciar a perigosa jornada de uma pessoa refugiada

29 Agosto 2022
Videogame 'Path Out' © ACNUR

Jack Gutmann nunca foi uma criança cujos pais pediam que deixasse de lado as telas e saísse para brincar. Pelo contrário, eles encorajaram Jack e seus quatro irmãos a passarem o máximo de tempo possível ocupados com jogos de computador para ficarem dentro de casa, a salvo do conflito que assolava as ruas. 


“Eu estava com medo e tentei fugir da realidade”, diz Jack, nomeado Abdullah ao nascer. Ele foi criado em Hama, a quarta maior cidade da Síria. “Eu não queria ver a guerra e não queria ouvi-la.” Quando havia eletricidade, ele jogava videogame. Quando a eletricidade acabava, ele jogava em seu laptop. Quando a bateria do laptop acabava, ele desenhava no papel.

Jack nunca imaginou que anos depois – seguro na Áustria – sua paixão por design de computador o auxiliaria na produção de um videogame premiado. Uma edição didática de "Path Out" foi relançada pelo ACNUR para o Dia Mundial do Refugiado (20 de junho) deste ano para ajudar crianças em idade escolar na Áustria e em outros lugares a se colocarem no lugar de uma pessoa refugiada, tomando decisões de vida ou morte ao longo de uma perigosa jornada em busca de proteção.

Jack, que adotou um novo nome quando começou uma nova vida na Áustria, começou a desenhar e colorir digitalmente quando criança e dominou o programa gráfico Photoshop aos quatorze anos.

“Para mim, a arte digital e os jogos de computador foram a janela para o mundo...”

“Para mim, a arte digital e os jogos de computador foram a janela para o mundo, saindo do meu quarto na Síria, longe da guerra para um mundo diverso com pessoas muito diferentes”, diz ele, refletindo sobre a crise que eclodiu em março de 2011, no mesmo mês em que ele completou 15 anos.

Mais de 10 anos de conflito. A Síria tem a maior população deslocada do mundo. A Síria não deve ser esquecida. Doe agora e nos ajude a salvar vidas. 

Desde o início da crise em 2011, milhões de sírios foram forçados a sair de suas casas. Hoje, cerca de 6,8 milhões estão no exterior como pessoas refugiadas, e 6,9 milhões estão deslocados dentro do país.

Aos 18 anos, enfrentando o perigo de ser convocado para o exército, Jack precisou sair de sua terra natal – uma jornada perigosa e tortuosa rumo à Turquia. Depois, precisou passar por vários países até chegar à Áustria, no coração da Europa. Este foi o primeiro lugar onde ele realmente se sentiu seguro.

“Eu não planejava ficar na Áustria”, admite. “Mas quando cheguei aqui com meu irmão, ficamos realmente impressionados porque muitas pessoas nos ajudaram.”

Pouco depois de chegar na Áustria, Jack conheceu Georg Hobmeier, chefe da Causa Creations, uma empresa de design de jogos com sede em Viena que vê os videogames não apenas como entretenimento, mas, como escrito em seu site, como “experiências significativas e enriquecedoras que podem nos conectar, desafiar nossas percepções e fornecer insights sobre o mundo ao nosso redor”. A empresa trabalharou com questões como migração, mudanças climáticas e energia nuclear.

Jack, ansioso para transformar sua paixão em profissão, juntou-se à Causa Creations em um projeto conjunto. O resultado foi o "Path Out", no qual o jogador replica a viagem perigosa de Jack ao sair da Síria, às vezes, nas mãos de contrabandistas.

“Decidimos que o próprio Jack seria o personagem principal do jogo”, diz Georg, acrescentando que era particularmente importante mostrar que, por trás de cada estatística de pessoas refugiadas, existem histórias e personalidades complexas.

No estilo de jogo japonês escolhido, os personagens fofinhos contrastam com a dura realidade da jornada. Jack – o designer e o personagem – veste a camisa amarela que ele realmente usou em sua odisseia, que agora tem um valor sentimental para ele.

De uma caixa no canto da tela, o verdadeiro Jack comenta as jogadas dos jogadores no "estilo Youtuber", muitas vezes com humor. “Você acabou de me matar, cara”, ele exclama quando o jogador faz o movimento errado. “Na verdade, eu não era tão desajeitado quanto você.”

Originalmente, lançado como um jogo de duas horas em 2017, "Path Out" ganhou prêmios internacionais e austríacos “pela sua habilidade de elucidar um problema sério”.

A nova versão que a Causa Creations e o ACNUR desenvolveram para as escolas não leva mais do que uma aula e ajuda os alunos que nunca conheceriam pessoas refugiadas pessoalmente a aprender que Jack levava uma vida muito parecida com a deles até que seu mundo virou de cabeça para baixo e ele teve que deixar tudo para trás. Essa versão foi lançada em alemão e inglês para o Dia Mundial do Refugiado; outras versões em outras línguas devem ser lançadas no futuro.

Jack, o designer, ainda está escrevendo seu próprio final feliz. Ele se sentiu seguro assim que chegou à Áustria, mas levou tempo para que o país se tornasse seu verdadeiro lar artístico e emocional.

“Demorou cinco anos para sentir que minha jornada havia terminado. Só então me senti realmente aliviado”, diz. Agora, com 26 anos, ele fala alemão e inglês quase perfeitamente. Ele completou o treinamento vocacional, trabalhou por alguns anos em uma empresa de desenvolvimento de jogos e agora está praticando modelagem e animação 3D para se tornar um desenvolvedor e designer de jogos ainda melhor.

Ele conheceu uma mulher austríaca que também joga videogame por lazer e eles se casaram no ano passado.

Ele mantém o mesmo senso de humor, traço que considera essencial tanto na vida real quanto em seu jogo "Path Out". “A história de guerra e deslocamento já é ruim o suficiente; é preciso humor para lidar com isso”, diz.

Como o jogo reflete sua realidade, “ele acaba sendo divertido, ao mesmo tempo. Afinal, jogos de computador devem ser divertidos.”