Vulcão deixa rastro de destruição na RDC, mas resiliência permanece
Vulcão deixa rastro de destruição na RDC, mas resiliência permanece
Paul Bapolosi nunca se esquecerá de como ficou chocado ao ver lava incandescente descendo o Monte Nyiragongo, que domina o horizonte da cidade de Goma, no leste da República Democrática do Congo.
Paralisado da cintura para baixo e em uma cadeira de rodas desde criança, Paul, 48, teve que ser empurrado para um lugar seguro por sua esposa e filhos. Eles se juntaram a dezenas de milhares de pessoas que escaparam quando o vulcão entrou em erupção, inesperadamente, em 22 de maio.
“Sem a minha família, não sei se teria conseguido fugir. Tenho a sorte de estar vivo e tenho tanto orgulho de termos todos chegado em segurança juntos”, diz Paul.
Sua esposa e filhos o empurraram a noite toda, por mais de doze horas exaustivas, até Sake, uma cidade a 25 quilômetros a oeste de Goma.
“Tenho sorte de estar vivo”
“A estrada era acidentada e longa e nossos filhos estavam muito cansados. Não foi nada fácil”, lembra a esposa, Francine.
A família de Paul encontrou abrigo em uma escola que hospeda 300 pessoas deslocadas, incluindo mais de 100 pessoas com mobilidade reduzida. Alguns, como Paul, fugiram em cadeiras de rodas, enquanto outros andaram de muletas ou usaram bengalas.
Conforme a lava começa a esfriar, o governo incentiva as pessoas a voltarem para suas casas, mas muitas afirmam terem perdido todas as suas propriedades e precisam de ajuda para reconstruir suas vidas. Outras, como Paul, não sabem se as casas que deixaram para trás ainda existem.
“Eu não tinha minha própria casa, então não sei se meu senhorio estará lá quando voltarmos ou se ele terá dado nossa casa para outro inquilino”, diz Paul.
O Monte Nyiragongo é um dos vulcões mais ativos e mortais do mundo. Mais de 170 pessoas morreram na última erupção, em 2002, quando a lava se espalhou por muitos bairros, destruindo propriedades e casas.
As autoridades em Goma relatam que 32 pessoas morreram na erupção de maio e pelo menos 4.000 casas foram destruídas pela lava e pelo calor extremo. Ninguém, incluindo especialistas em vulcões, previu a erupção. Isso aconteceu porque a região do Kivu do Norte, onde Goma está localizada, está lutando contra décadas de conflito e violência que já desalojaram mais de 2 milhões de pessoas.
Mais de 450.000 pessoas fugiram de Goma nos dias seguintes à erupção, enquanto a cidade continuava a ser atingida por mais de mil tremores, aumentando o medo de outra erupção. Cerca de 120.000 pessoas fugiram para a cidade de Sake sozinhas, enquanto outras continuaram para Minova e Bukavu, mais ao sul, ou mais ao norte até Kiwanja, no Território de Rutshuru.
Cerca de 8.000 pessoas também cruzaram a fronteira com Ruanda, que fica a leste de Goma. A maioria delas já retornou para a República Democrática do Congo.
Julienne Bushashire, 50, empreendeu uma jornada igualmente árdua. Ela andou todo o caminho até Sake com seus dez filhos, com dores o tempo todo devido a uma condição que significa que ela só pode andar com a ajuda de uma bengala. Ela também encontrou abrigo na escola.
"Eu não tenho mais nada"
“Muitas vezes tive que parar para descansar porque minhas pernas doíam. Dormíamos à beira da estrada, ao ar livre, quando estávamos cansados demais para continuar”, explica ela, acrescentando que as estradas que saíam de Goma estavam cheias de pessoas em pânico.
Julienne perdeu tudo quando fugiu para Goma em 2007, depois que sua aldeia natal em Masisi foi atacada por milícias armadas. Ela teve que começar de novo e, agora, o vulcão tomou o pouco que ela tinha. “Disseram-me que a minha casa em Goma foi saqueada. Não tenho mais nada”, acrescenta.
Sem água encanada e sem eletricidade, dezenas de famílias estão hospedadas em salas de aula sem estrutura adequada, higiene ou conforto.
Estima-se que cerca de 350.000 pessoas precisam urgentemente de assistência humanitária. Para o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, a prioridade é desocupar as escolas e garantir que um senso de normalidade seja retomado, especialmente para as crianças, o mais rápido possível.
“As crianças que fugiram do vulcão e agora estão deslocadas estão realmente traumatizadas. É fundamental que elas voltem às suas rotinas normais e que seus pais possam retomar suas atividades diárias”, explica Liz Ahua, representante do ACNUR na RDC. “Isso pode ajudar a reduzir o trauma das crianças”.
- Veja também: ACNUR corre contra o tempo para ajudar população deslocada após vulcão entrar em erupção na RDC
O ACNUR ajudou os deslocados com itens básicos de socorro, incluindo sabão, cobertores, lâmpadas solares e kits de higiene. Abrigos comunitários também foram construídos em Sake e Minova para desaglomerar escolas e igrejas.
“Tivemos que realocar nossa equipe para Sake e Bukavu, onde imediatamente começaram a ajudar as pessoas mais vulneráveis de lá”, acrescenta Ahua, explicando que dias após o desastre, equipes de emergência estavam instaladas em várias cidades, incluindo Sake, Minova, Kiwanja, Masisi, Kitshanga e Bukavu.
Contudo, é necessário mais esforço para preparar as famílias deslocadas que estão prontas para retornar e reconstruir suas vidas.
Esperance e seu marido Jean estão sobre as rochas de lava que se acumularam no local onde ficava sua casa em Mugerwa, um dos bairros que foi quase totalmente destruído. As pedras ainda estão quentes, mas o casal está pronto para recomeçar.
“Estamos acostumados com o vulcão, é como se fosse o nosso vizinho”, diz Jean. “Mas nós precisamos de um pedaço de terra para reconstruir a nossa casa”.
O ACNUR segue atuando no mundo para proteger refugiados, pessoas deslocadas e comunidades afetadas pela erupção do vulcão Monte Nyiragongo
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