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Apesar das mudanças, apenas alguns sírios que estão no Líbano conseguiram ir à escola

Comunicados à imprensa

Apesar das mudanças, apenas alguns sírios que estão no Líbano conseguiram ir à escola

“Senhorita Hanan”, diz uma voz que se levanta, em meio à lama, antes da aula. Hanan vira e escreve com um pedaço de rocha calcária em uma porta ao lado dela, no abrigo provisório.
17 Abril 2014

FAYDA, Líbano, 17 de abril (ACNUR) – "Senhorita Hanan", diz uma voz que se levanta, em meio à lama, antes da aula. Hanan vira e escreve com um pedaço de rocha calcária em uma porta ao lado dela, no abrigo provisório. A porta é o quadro dela e esta é sua sala de aula onde a turma está aprendendo inglês. Ela escreve as letras do alfabeto inglês e, em seguida, as pronuncia em voz alta. A classe repete, em harmonia, cada letra.

Senhorita Hanan tem 11 anos. A maior parte dos sete alunos de sua classe é da mesma idade ou mais jovem. "Senhorita Hanan" é como eles a chamam. Hanan Abdel Garbou é a líder e ela se descreve como muito rígida. Isto é Fayda, no Vale do Beqaa, onde 70 famílias sírias refugiadas vivem em abrigos provisórios nas ruínas de uma antiga fábrica de cebola. O ACNUR fornece materiais para construir os abrigos, fogões e cupons de alimentação para os refugiados daqui.

Hanan vai à escola no chamado “segundo turno”. As escolas libanesas lotadas agora abrem suas portas para uma onda de alunos na parte da manhã e, para uma segunda onda, depois das 14h. A maior parte dos alunos desse segundo turno é composta por refugiados sírios, cerca 90.000 pessoas. Todos os dias Hanan pega o ônibus escolar com outras 60 crianças refugiadas. A viagem até a escola da cidade mais próxima dura meia hora.

“Eu sou uma das mais sortudas da família", ela diz. “Minhas irmãs mais velhas têm que trabalhar para que possamos arcar com as nossas despesas. Elas iam para as aulas na Síria e queriam fazer as provas para poder deixar a escola, mas não conseguiram".

“Nós amamos a escola", disse um garotinho, aluno de Hanan, em voz alta e lentamente em inglês. Mas a escola para ele e para outras crianças é na lama e o quadro-negro é em uma porta onde Hanan escreve as letras em inglês. Apenas metade das crianças no assentamento vão para o “segundo turno”.

Atualmente, há mais de um milhão de refugiados sírios no Líbano e, em todo o país, há menos de um quarto das 400 mil crianças refugiadas em idade escolar frequentando as aulas.

Dora, de seis anos, é parte dessas crianças que assiste aula na lama. Sua tia diz claramente que quando ela vê as outras crianças fazendo fila para pegar o ônibus, no período da tarde, ela chora. Escola de verdade é um prêmio, um sonho para muitas crianças refugiadas.

Não muito longe, ainda no Vale do Beqaa, em Kamed El Loz, há outra escola com aulas de inglês. É o Centro de Educação Internacional de Amel, criado e financiado pelo ACNUR. Ele poderia ser chamado de “terceiro turno”.

Há 130 estudantes aqui, na faixa etária de 6 a 14 anos que vêm três vezes por semana, no fim da tarde. Eles são localizados e recomendados por seus professores regulares porque necessitam de ajuda.

"Eles têm problemas com o inglês", conta uma das sete professoras do Centro. “Muitos desses alunos foram ensinados a ver o inglês como uma “língua inimiga”. Então, alguns se aproximam da língua com medo, já outros lidam com as aulas de inglês como um “tempo livre para brincar”. Eles associam o árabe com o seu país. A rejeição quanto ao aprendizado da língua inglesa está ligada à perda de seu país. Isso é o que estamos tentando superar”, acrescentou a professor.

Há aulas de reforço e, em conjunto com as aulas, há um psicólogo que lidera grupos de discussão em que os alunos lidam com seus medos e raivas.

Ao mesmo tempo, nas aulas há o ditado. “Seu pai está no trabalho agora?" A professora lê e os alunos escrevem. "Não, ele não está no trabalho agora".

Uma das melhores alunas é Nadine, de 12 anos de idade. Na parede, um sinal estimula os alunos a “fazerem do mundo um belo jardim”. Mas Nadine, em um inglês fluente, fala da perda. "Sinto muita falta da minha família e do meu país".

Na fábrica queimada, a aula de inglês se encerra. Há apenas duas aulas por semana, porque “Srta. Hanan” precisa preparar comida para sua família e ajudar sua mãe nos serviços domésticos. "Eu realmente gosto de inglês. A escola é ótima", disse Hanan depois da aula.

Como muitas outras crianças refugiadas, ela foi forçada a fugir de sua casa na Síria e se tornou uma deslocada interna e perdeu um ano de escola antes de vir para o Líbano. Ela começou de novo em uma escola “informal” em uma tenda com um professor voluntário, que também era refugiado sírio. Agora ela está em um sistema libanês e tem que aprender não apenas o inglês, mas também o francês, língua na qual várias disciplinas são ministradas.

Para ela, a aprendizagem é um privilégio. Algo que ela percebeu quando viu a irmã mais nova de um colega tentando copiar as letras, um dia depois da aula. Ela se ofereceu para mostrar-lhe como escrevia e, então, a carreira começou.

E quando ela crescer? "Oh, eu quero ser professora, uma professora de inglês".

Por Don Murray em Fayda, Líbano