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ACNUR distribui uniformes do Santos FC para crianças venezuelanas em Boa Vista

Comunicados à imprensa

ACNUR distribui uniformes do Santos FC para crianças venezuelanas em Boa Vista

28 Dezembro 2020
ACNUR entrega uniforme do Santos FC para meninos e meninas venezuelanas no abrigo temporário Rondon 1, em Boa Vista, Roraima © ACNUR/Allana Ferreira
Boa Vista, 28 de dezembro de 2020 (ACNUR) – A empolgação era evidente, refletida nos sorrisos dos adolescentes venezuelanos que aguardavam com ansiedade o momento especial ocorrido no final da tarde daquela terça-feira, 22 de dezembro. Os jovens, entre meninos e meninas, receberam parte dos 100 uniformes juvenis do Santos FC que foram entregues nos abrigos temporários Rondon 1 e Pintolândia, ambos em Boa Vista, capital de Roraima.

Além de camisetas e shorts, bolas também foram distribuídas para serem utilizadas nas aulas de esporte dos abrigos. A ação faz parte da parceria firmada entre Santos Futebol Clube e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), com o intuito de garantir a participação da juventude refugiada em ações de sociabilidade nos abrigos que acolhem a população venezuelana, estabelecendo espaços de convivência pacífica por meio de práticas esportivas.

Os uniformes foram enviados diretamente da Vila Belmiro, em Santos/SP, como presente para as crianças participantes do projeto de esporte implementado nos abrigos Rondon 1 e Pintolândia – este específico para a população indígena venezuelana, onde a prática de esportes é uma forte característica. Ambas instalações fazem parte da Operação Acolhida, resposta do Governo Brasileiro em conjunto com organizações da sociedade civil e Agências da ONU ao fluxo de pessoas vindo da Venezuela, com o objetivo de prover abrigamento, alimentação e atenção à saúde, assim como ações de regularização no país e promover a interiorização de refugiados e migrantes.

Ambos abrigos, administrados pelo ACNUR, com base em Acordo de Cooperação assinado com o Ministério da Cidadania,  em parceria com a Associação Voluntários para o Serviço Internacional – Brasil (AVSI) e Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI), abrigam mais de 1.000 pessoas entre adultos, idosos, crianças e jovens venezuelanos indígenas e não indígenas. Nessas comunidades, o esporte é uma das principais atividades de relacionamento social dentro dos abrigos.

“Esse projeto oferece aos jovens uma oportunidade de se descobrirem em um contexto além da vida dentro de um abrigo, por ser uma atividade não relacionada a situação de vulnerabilidade que eles se encontram. Além de desenvolverem os valores que o esporte traz como disciplina, respeito, comunicação não-violenta, autoestima, liderança no trabalho em grupo, o esporte também os permite imaginar um futuro fora de um abrigo”, afirma a Oficial de Proteção do ACNUR, Angelica Uribe.

 

Durante a cerimônia de entrega dos uniformes, o grupo assistiu uma mensagem de vídeo do camisa 10 dos Santos FC, o jogador venezuelano Yeferson Soteldo. “Que sigam lutando, que sigam em busca de seus sonhos. Sei a situação que vocês têm passado e mando um abraço daqui, desejando muita sorte e muita força em seus caminhos”, disse o craque. A surpresa emocionou alunos, professores, pais e toda a equipe de apoio presente.

No abrigo Rondon 1, o time de futebol é misto, com meninos e meninas ávidos para jogar bola. Dentre eles, Eduardo Jose, de 17 anos, mostrou suas habilidades em fazer embaixadinhas, mesmo com os pés descalços em um “gramado” de brita. Para ele, o esporte vai além da diversão, é um alívio para a mente.

“O esporte me ajuda a passar o tempo e distrair um pouco de tudo que estamos vivendo. Eu amo poder jogar bola com meus amigos aqui no abrigo, tanto futebol quanto vôlei”, diz Eduardo, que tinha o hábito jogar bola com seus amigos na sua escola na Venezuela.

“Na Venezuela eu jogava bola quase diariamente na escola, mas por conta de toda a situação do país, tivemos que sair de lá. Por isso, estou muito feliz de poder jogar bola novamente, por aqui. E estamos bastante agradecidos por receber este uniforme e as bolas para montar nossos times”, complementa o jovem, já vestido com a tradicional camisa do Santos.

Nycole Rodriguez, de 14 anos, não conhecia muito futebol até chegar no Brasil. Com a motivação dos colegas, ela pegou gosto pelo esporte e já não há nenhuma partida que não esteja junto com o time.

“Eu não conhecia o futebol direito antes de chegar aqui no abrigo, mas hoje é um dos meus esportes favoritos juto com kickingball, que eu já jogava na Venezuela”, lembra Nycole.

 

A energia da jovem é contagiante e está sempre procurando trazer mais meninas para o time. “Aqui jogamos todos juntos, meninos e meninas, e todo mundo se diverte. Com certeza já vamos usar o nosso novo uniforme nos jogos de fim de ano. Vamos estar todos bem uniformizados”, disse Nycole ao lado de Eduardo, orgulhosos de pertencerem ao mesmo time.

O ACNUR e o Santos FC assinaram um acordo de intenções no início de 2020 que visava promover o aceso de crianças refugiadas às escolas de futebol “Meninos da Vila” em todo o Brasil, assegurar ingressos para famílias refugiadas nos jogos oficiais do Santos e promover ações de comunicação sobre o tema dos refugiados.

Porém, com a chegada da vigente pandemia da COVID-19, apenas o último aspecto do acordo foi implementado na íntegra. Em São Paulo/SP, algumas crianças refugiadas já tinham iniciado a matrícula e aulas nas escolinhas de futebol, que esperam retomar em 2021.

O Coordenador Sênior de Campo do ACNUR, Arturo de Nieves enfatiza a importância de projetos e parcerias como essas em um contexto de deslocamento forçado. “O ACNUR acredita no esporte como uma oportunidade de inclusão e proteção por todos os benefícios que o esporte promove, e por isso estamos alegres e agradecidos de ter essa parceria com o Santos FC”, diz Arturo.

O ACNUR entende que o esporte possibilita o desenvolvimento e crescimento pessoal na vida de quem teve que deixar seu país de origem e busca reconstruir suas vidas com dignidade. Por seu caráter coletivo e conciliador, a Agência da ONU para Refugiados atua em parceria com organizações humanitárias no âmbito da Operação Acolhida para também promover iniciativas esportivas aos abrigados para fortalecer a coesão social e estreitar os laços entre as pessoas que atravessam um delicado momento em suas vidas.