Alto Comissário parabeniza a Turquia pelas novas regulações trabalhistas dadas aos refugiados Sírios
Alto Comissário parabeniza a Turquia pelas novas regulações trabalhistas dadas aos refugiados Sírios
ISTAMBUL, 17 de janeiro de 2016 - Em uma grande mudança de política, o Governo turco publicou novas regras que permitirão que muitos dos 2,5 milhões refugiados sírios que vivem no país possam solicitar carteira de trabalho.
Refugiados sírios registrados que estiverem na Turquia há pelo menos seis meses serão autorizados a solicitar a carteira, na província onde eles foram registrados pela primeira vez. Sírios com permissão de trabalho deverão receber como base um salário mínimo. Atualmente, muitos refugiados trabalham ilegalmente para pagar suas despesas e muitas vezes recebem salários muito baixos.
Os regulamentos se aplicam tanto aos refugiados que vivem em cidades como para os 10% alojados em campos de refugiados turcos.
Filippo Grandi, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, parabenizou a decisão corajosa e o grande passo à frente que essa medida significa para os refugiados.
"Emprego significa dignidade, uma vida digna, onde você não tem que pedir dinheiro ou depender de dinheiro de associações ou do governo. Eu acho que é um passo muito grande".
A Turquia atualmente hospeda mais refugiados do que qualquer outra nação no mundo.
Em sua primeira visita oficial como Alto Comissário, Grandi escolheu a Turquia, onde passou muito tempo ouvindo os refugiados. Em Istambul, ele visitou um centro administrado pela Associação de Solidariedade de Solicitantes de Refúgio e Migrantes (ASAM, sigla em ingês), uma ONG turca que ajuda refugiados urbanos com dificuldades econômicas e psicológicas.
Ele ouviu duas mulheres contarem sobre a difícil decisão de seus maridos, de as deixar para encontrar trabalho na Europa. Outras mães falaram da cruel necessidade de não mandar seus filhos às escolas, mas sim às fábricas para trabalhar ilegalmente para ajudar a pagar as despesas com alimentação e aluguel.
"Eu ouvi histórias que quebraram meu coração", disse Grandi. "Essas são histórias reais de mulheres e crianças que perderam tudo e não sabem como será o seu futuro".
O futuro deles e delas pode ser um pouco mais promissor com o direito ao trabalho legalizado. As regulamentações adotadas permitem também que os trabalhadores autônomos solicitem autorização de trabalho. O número de refugiados sírios trabalhando nas empresas turcas será limitado a 10% da força de trabalho de qualquer empresa.
Nos campos de refugiados de Nizip, no sudeste da Turquia, perto da fronteira com a Síria, o exílio de quase 16.000 pessoas condiz com uma sucessão de dias longos e pouco trabalho.
Ahmed e seu pai criam pombos para corrida. É uma paixão, mas também uma maneira de fazer um pouco de dinheiro, vendendo as suas aves para columbófilos turcos. Com a nova política adotada pelo Governo turco, o pai de Ahmed será capaz de obter uma autorização que o permitirá trabalhar por um valor maior que apenas alguns trocados.
Não muito longe dali, em um contêiner transformado por tapetes e almofadas em uma casa aconchegante, Fehmi chefia uma família de quatro gerações. Ela tem 85 anos de idade, é a mais velha dos refugiados que vivem no acampamento. Ela diz ser grata pelo simples fato de estar viva. Há dois anos, sua família se escondeu durante dois dias em banheiro em Homs, na Síria, enquanto bombas caiam sobre a cidade. Em seguida, eles cruzaram a fronteira para a Turquia.
Mas as netas de Fehmiye, Fehmiye e Fadia, ambas mães de crianças, falam de frustração.
“A vida aqui é comer, dormir, esperar e não trabalhar”, disse Fadia.
Seu marido deixou o acampamento e a Turquia em busca de emprego. Depois de fazer a perigosa e ilegal travessia pelo Mediterraneo, ele chegou à Alemanha há quatro meses.
As novas regulações na consessão de carteira de trabalhos pode ajudar a diminuir esta frustração entre os refugiados.
Grandi, falando posteriormente ao anúncio das regulamentações, sugeriu fortemente que outros países deveriam seguir os passos da Turquia.
“Eu acredito que o caso da Turquia é um exemplo de como os refugiados deveriam ser recepcionados”, acrescentou o Alto Comissário.
Por Don Murray, em Istanbul