Close sites icon close
Search form

Search for the country site.

Country profile

Country website

Casal deficiente visual finge estar morto para escapar da ameaça das gangues em El Salvador

Comunicados à imprensa

Casal deficiente visual finge estar morto para escapar da ameaça das gangues em El Salvador

Casal deficiente visual finge estar morto para escapar da ameaça das gangues em El SalvadorCasal de deficientes visuais perseguido implacavelmente por gangues urbanas é colocado fora de sua casa em macas, cobertas por um tecido branco, fingindo-se de mortos para assegurar suas fugas.
7 Julho 2016

CIDADE DO MÉXICO, México, 07 de julho de 2016 (ACNUR) – Quando os integrantes das gangues atiraram em sua casa, em El Salvador, o casal de deficientes visuais Rosário e Víctor* pegaram sua filha e se atiraram no chão para escapar dos disparos.

Minutos mais tarde, algumas pessoas que eles não puderam ver entraram em sua casa e se aproximaram, enquanto eles seguiam no chão, fingindo estar mortos. Víctor estava cobrindo com seu corpo sua filha Natália, de 10 anos de idade, e Rosário.

“Eu estava paralisada, morta em cada parte do meu corpo”, relatou Rosário, chorando enquanto se lembrava das cenas de terror. “Mas quando nos demos conta que era a polícia, começamos a respirar novamente”.

A família foi assediada pela gangue, que a obrigava a pagar 500 dólares quinzenalmente pelo “aluguel” das duas clínicas de massagens terapêuticas que o casal tinha na capital salvadorenha. Quando a gangue duplicou o valor da propina, a família fechou seu negócio e teve que trocar de casa várias vezes para escapar daqueles que os extorquia.

Por serem facilmente reconhecidos por suas características e seus cabelos grisalhos, a gangue os encontrou várias vezes. Reconhecendo sua vulnerabilidade, a polícia elaborou um plano original, talvez macabro, para tirar a família de sua casa, ainda quando os incansáveis olhos das gangues os estavam vigiando. A família deveria fingir que estava morta. 

Cobrindo-os com um lençol branco, os policiais os carregaram para fora da casa, um por um, como se estivessem mortos.

Eles foram acomodados em macas e cobertos por lençóis brancos. Os oficiais da polícia tiraram a família de sua casa, um por um, pelas ruas da vizinhança, acompanhadas de um médico legista, para dar mais credibilidade ao fato.

“Eu não estava morta, mas senti como se estivesse”, lembra Rosário. “Era difícil controlar minha respiração, pois estava muito nervosa, até que eu fui posta dentro da viatura”. Estava claro que a vida desta família em El Salvador havia terminado. Uma vez fora de seu bairro, eles se uniram a milhares de pessoas que tentavam escapar violência das gangues em El Salvador, ou como são conhecidas na América Central, os Maras, cujo os crimes incluem extorsão, violência sexual, assassinato, tráfico de drogas, sequestro e tráfico de pessoas.

A polícia os levou a um ponto próximo da fronteira com a Guatemala. “Estávamos a salvo, mas não tínhamos nada além de nossos pijamas” recorda Víctor. “Só tínhamos 20 dólares, que pedimos emprestado quando cruzamos a fronteira. Ao longo de todo o caminho fomos guiados pela nossa filha”.

Uma vez na Guatemala, eles passaram dois dias dormindo na rua, sem comida. Quando finalmente foram ajudados por um motorista de caminhão, que reconheceu a situação desesperada na qual se encontravam, foram levados até a fronteira com Tapachula, ao Sul do México, onde buscaram ajuda em um albergue para migrantes.

Com a ajuda da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), a família foi transferida para um albergue em outra parte do México, que tinha melhores instalações para os deficientes visuais, pessoas que estão entre as mais vulneráveis para garantir suas próprias vidas.

"Milhares de pessoas estão fugindo da violência de gangues em El Salvador, que é reconhecido como um dos países mais violentos do mundo".

“Milhares de homens, mulheres e crianças estão tentando escapar da violência das gangues em El Salvador, que agora é um dos países mais violentos do mundo”, declarou Mark Manly, Representante do ACNUR no México.

“Assim como Rosário e Victor, muitas pessoas enfrentaram riscos extremos e se encontram em necessidade urgente de proteção. São necessárias mais ações que assegurem o acesso às informações adequadas a respeito dos procedimentos de solicitação de refúgio, melhor acesso aos procedimentos e a lugares seguros e dignos em que possam viver, enquanto passam por este caos”, afirmou o Representante do ACNUR.

Manly acentuou que a situação desesperada de refugiados como Rosário e Víctor é um lembrete da razão pela qual o ACNUR “necessita redobrar seu trabalho com as autoridades locais e a sociedade civil para buscar soluções”.

O casal solicitou refúgio no México, e o mesmo foi concedido. Agora estão seguros e disfrutando a vida em paz. Rosário ama cantar e sua voz ressoa nas paredes do albergue com as canções de Laura Pausini, uma cantora pop italiana. Ela e Víctor gostariam de começar seu negócio de massagens outra vez, apesar de ainda estarem preocupados com as gangues, já que o alcance delas é internacional.

“Agora, neste albergue, nos sentimos seguros. Ainda temos medo de que algum dia os Maras nos encontre. Eles sabem como encontrar as pessoas que lhes interessam”, disse Rosário. Seus pensamentos ficam ansiosos quando pensa em seus familiares que ficaram para trás. “O resto da nossa família ainda está em El Salvador e estão sofrendo ameaça por nossa culpa”.

*Os nomes foram trocados por questões de segurança.

Por Francesca Fontanini.