Da necessidade à oportunidade, venezuelanas empreendem no Brasil
Da necessidade à oportunidade, venezuelanas empreendem no Brasil
Depois de cinco anos morando no Brasil, a venezuelana Carmen Julia consegue reconhecer em si mesma uma empreendedora. Formada em Administração, ela estava fazendo uma segunda graduação, em Direito, quando deixou a Venezuela e veio para o Brasil em busca de oportunidades. Sem conseguir emprego na área de formação, ela recorreu à produção e venda de pratos típicos venezuelanos para conseguir alguma renda. Da necessidade surgiu o empreendimento, que hoje é a principal fonte de renda da família - parte já instalada em São Paulo e outra vindo, aos poucos, para o Brasil.
O empreendedorismo é o recurso que muitas pessoas refugiadas e migrantes encontram quando chegam ao Brasil e não conseguem colocação no mercado formal de trabalho. É o que mostra a pesquisa “Desafios, limites e potencialidades do empreendedorismo de refugiados(as), solicitantes da condição de refugiado(a) e migrantes venezuelanos(as) no Brasil”, divulgada em 2020 pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados.
A pesquisa levantou um conjunto de informações sobre a atividade empreendedora de venezuelanos e venezuelanas no país e evidencia que as principais áreas de atuação estão concentradas no ramo de alimentos e serviços pessoais (com destaque para salões de beleza e barbearias). Também integram o topo da lista as atividades de informática, construção, saúde, vestuário e calçados.
Para apoiar a visibilidade e o fomento dos negócios liderados por pessoas refugiadas no país, o ACNUR e o Pacto Global da ONU no Brasil mantêm a plataforma Refugiados Empreendedores. Além da oportunidade de divulgar produtos e serviços de empreendedores refugiados, a ferramenta oferece uma série de recursos para quem já empreende ou quer empreender, como informações sobre crédito e microcrédito, cursos sobre empreendedorismo e estratégias de comunicação de negócios.
Empreendedorismo e renda – Lembrado no dia 5 de outubro, o Dia do Empreendedor e da Empreendedora marca o aniversário do Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, instituído em 1999. Ao longo dos anos, e em especial durante a pandemia de COVID-19, o número de micro e pequenas empresas no Brasil aumentou, assim como a diversidade de pessoas que recorreram ao empreendedorismo para sobreviver – entre elas, pessoas refugiadas e migrantes vindas da Venezuela.
De acordo com a pesquisa realizada pelo ACNUR, os pequenos negócios abertos por pessoas venezuelanas no Brasil se caracterizam por serem empresas pequenas e familiares, em endereços virtuais, fixos ou de forma ambulante. Roraima costuma ser a porta de entrada da maioria dessa população que hoje está no Brasil, e é também onde muitas delas começam a empreender. Outro destino procurado é o estado de São Paulo, onde Carmem Julia reside atualmente. Segundo a pesquisa, o faturamento mensal das empresas abertas por pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas é bastante heterogêneo. Enquanto em Boa Vista (RR) este valor está geralmente abaixo de um salário mínimo, na capital paulista o faturamento varia entre R$ 4,5 mil e R$ 25 mil por mês.
Parte significativa dos empreendimentos, formalizados ou não, são liderados por mulheres. É com este público em vista que o programa Moverse tem, entre suas linhas de atuação, a capacitação de refugiadas e migrantes venezuelanas para o empreendedorismo. Implementado conjuntamente por ONU Mulheres, ACNUR e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o programa Moverse tem entre os resultados esperados até 2023 alcançar 15 mil mulheres venezuelanas com treinamentos em temas de empreendedorismo, trabalho autônomo, educação financeira, além do acesso a oportunidades no mercado laboral.
“Apesar de ser um negócio em que estou iniciando, já percebo lucros e com isso vou ajudando a minha família”, afirma Carmen. Em busca de mais qualificação, ela também está reforçando os estudos e ampliando a área de atuação para além dos pratos típicos, incluindo agora confeitaria. “Estou fazendo cursos, assisto várias palestras e estou me tornando uma boa profissional como chef de cozinha. Também estou gostando da área da confeitaria gourmet”, declara. “Apesar de tudo o que passei, temos que seguir em frente e buscar uma solução. Temos que ser valentes, fortes, tolerantes e não olhar para trás”.
A história de Carmem Julia serviu de inspiração para muitas pessoas que estiveram presentes no evento “Integrar e Empoderar”, realizado no dia 8 de março dentro das atividades promovidas pelo programa conjunto Moverse. Confira no vídeo a seguir um pouco mais sobre a história de Carmem Julia, compartilhada durante o evento:
Sobre o Moverse - Iniciado em setembro de 2021, o programa conjunto Moverse - Empoderamento Econômico de Mulheres Refugiadas e Migrantes no Brasil é implementado por ONU Mulheres, Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), com o apoio do Governo de Luxemburgo. O objetivo geral do programa, com duração até dezembro de 2023, é garantir que políticas e estratégias de governos, empresas e instituições públicas e privadas fortaleçam os direitos econômicos e as oportunidades de desenvolvimento entre venezuelanas refugiadas e migrantes.
Para alcançar esse objetivo, a iniciativa é construída em três frentes. A primeira trabalha diretamente com empresas, instituições e governos nos temas e ações ligadas a trabalho decente, proteção social e empreendedorismo. A segunda aborda diretamente mulheres refugiadas e migrantes, para que tenham acesso a capacitações e a oportunidades para participar de processos de tomada de decisões ligadas ao mercado laboral e ao empreendedorismo. A terceira frente trabalha também com refugiadas e migrantes, para que tenham conhecimento e acesso a serviços de resposta à violência baseada em gênero.
Para receber mais informações sobre o Moverse e sobre a pauta de mulheres refugiadas e migrantes no Brasil, cadastre-se na newsletter do programa em http://eepurl.com/hWgjiL