Estudo do ACNUR mostra que renda familiar de indígenas venezuelanos no Brasil aumenta 42% com participação em cursos de qualificação
Estudo do ACNUR mostra que renda familiar de indígenas venezuelanos no Brasil aumenta 42% com participação em cursos de qualificação
A pesquisa combinou métodos quantitativos e qualitativos, coletando dados junto a pessoas indígenas refugiadas e migrantes em abrigos e casas privadas, além de contar com a participação de representantes do setor público e de organizações humanitárias.
Os dados foram articulados com outras pesquisas realizadas pelo ACNUR, e contextualizados junto à trajetória histórica dessas comunidades, desde seus territórios de origem até a busca por proteção no Brasil.
De acordo com a pesquisa, há fatores externos que impactam a geração de renda das pessoas indígenas refugiadas e migrantes. Por exemplo, quem participou de cursos de qualificação e proficiência em português pôde aumentar em 42% a renda familiar.
Nesse contexto, concluiu-se que a educação formal, incluindo a escolarização indígena, e oportunidades de qualificação, considerando idiomas e interesses pessoais e familiares, são essenciais para impulsionar a geração de renda de maneira sustentável.
A chefe do escritório do ACNUR em Manaus, Laura Lima, afirma que o estudo oferece uma visão abrangente das complexas realidades enfrentadas por essa população. “Reconhecemos a diversidade de perfis e a riqueza de saberes presentes na população indígena refugiada. A partir disso, trabalhamos para promover soluções inclusivas – garantindo sua participação efetiva em ações que afetem suas vidas – e colaboração entre setores público, privado e sociedade civil para enfrentar os desafios de inclusão socioeconômica”, afirma.
A pesquisa também destaca a importância de combater a exclusão, promover a inclusão ativa e reconhecer a variedade de experiências e objetivos das famílias indígenas refugiadas, permitindo que contribuam para o desenvolvimento local de forma significativa.
Para a presidente da Organização dos Indígenas Venezuelanos no Amazonas e Brasil (OIVAB), a indígena Warao Fiorella Ramos, é necessário visibilizar o tema da empregabilidade das pessoas indígenas refugiadas e migrantes para incorporar essa população ao mercado de trabalho. “A grande maioria de nós está desempregado hoje. Como associação, queremos chegar nas empresas e sensibilizá-las para que viabilizem oportunidades de emprego”.
O estudo foi realizado em parceria com a Associação de Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI Brasil) e o Instituto Pólis Pesquisa.
Confira outros resultados:
- Perfil Demográfico: A maioria pertence à etnia Warao (83,1%), seguida por E’ñepa, Pemon-Tuarepang, Akawaio e Wayúu.
- Deslocamento e Atividades Prévias: 84,4% nasceram em áreas rurais, indicando um processo de deslocamento para áreas urbanas antes de chegar ao Brasil. Muitos já praticavam atividades de geração de renda na Venezuela, como agricultura (53,3%), artesanato (28,7%), e pesca (37,1%).
- Educação e Formação: 72,5% possuem educação em diversos níveis, com habilidades variadas, desde agricultores até técnicos em turismo. A busca por emprego atinge 25,8%, com barreiras socioeconômicas evidentes.
- Linguística: 86,8% falam bem suas línguas indígenas; 58,6% têm proficiência mediana-alta a alta em espanhol; 38,4% têm proficiência regular a boa em português.
- Emprego e Renda: A situação ocupacional é precária, com 6,3% empregados regularmente e 2,6% com emprego formal. 22,2% trabalham com artesanato e 17,9% estão desempregados.
- Fatores de Impacto na Geração de Renda: Participação em cursos de qualificação e proficiência em português aumentam a renda em média 42%; receber auxílio social do governo eleva a renda em 45%; viver em Manaus está associado a uma renda 34% superior; ter pelo menos um membro da família trabalhando aumenta 2,3 vezes a renda familiar.