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Famílias da Etiópia lutam para sobreviver à seca recorde

Comunicados à imprensa

Famílias da Etiópia lutam para sobreviver à seca recorde

7 Julho 2022
Um menino coleta água para o gado de sua família no local de deslocamento de Mara-gaajo, na região somali da Etiópia. © ACNUR/Eugene Sibomana

Ardo sai de seu abrigo quando ouve um caminhão entregando água. Ela e o gado que cria passaram vários dias sem o recurso. Cerca de quinhentas famílias deslocadas internamente estão vivendo em um local improvisado de Mara-gaajo em Kebribeyah, região somali da Etiópia, depois de fugir de suas casas em busca de água durante a pior seca em décadas.


“Nunca vimos uma seca como essa que afetou a todos. Nós a chamamos de 'a invisível'”, disse Ardo.

Ardo caminhou cerca de 260 quilômetros de sua aldeia, Kabtinag, na zona de Korehe, nas profundezas da região da Somália Oriental da Etiópia, para chegar a Kebribeyah, um pequeno município a cerca de 53 quilômetros da capital da região, Jijiga. A mãe de quatro filhos diz que viajou com um grupo de pessoas de sua aldeia.

“Não consigo contar o número de pessoas que foram deslocadas conosco”, disse. “Quase todos na aldeia foram embora.”

Ardo, como a maioria dos que agora vivem no em Mara-gaajo, embarcou em uma jornada arriscada e cansativa em busca de água e pasto para seu gado.

“Foi uma jornada muito longa [...] e nosso gado sofreu horrivelmente”, acrescentou. “Ninguém estava disposto a comprar nosso gado, pois eles estavam extremamente fracos”, disse.

Ardo, mãe de quatro filhos, sentada em seu abrigo improvisado em Mara-gaajo, na região somali da Etiópia © ACNUR/Eugene Sibomana

Abdullahi Gedi, um pastor de 55 anos também deslocado para Mara-gaajo, reuniu seu gado, cabras e ovelhas e deixou sua aldeia, Kabtinag, na região leste da Somália. No entanto, as condições áridas ao longo da rota foram demais para seus animais, com menos da metade chegando a Babacada El-Bahay, um local para deslocados internos em Jijiga, onde ele vive atualmente.

“Exceto essas três, todas as minhas outras vacas morreram”, disse ele, apontando para o gado magro ao seu lado. “Eu também tinha 445 cabras e ovelhas, mas agora só tenho 190 porque o resto morreu”, acrescentou.

A Etiópia está passando por uma das secas mais severas induzidas pelo La Niña nos últimos quarenta anos, após quatro estações chuvosas consecutivas fracassadas desde o final de 2020. A seca está agravando uma situação complexa na região somali da Etiópia, que já abrigava milhões de pessoas deslocadas internamente, incluindo aquelas forçadas a se deslocar por causa do conflito, bem como cerca de 246.000 pessoas refugiadas da Somália em oito campos, que já receberam cerca de 16.000 recém-chegados. Outras regiões afetadas pela seca no país incluem Afar, Oromia e as Nações, Nacionalidades e Povos do Sul (SNNP).

Desde setembro de 2021, o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, tem trabalhado com comunidades locais, escritórios regionais de gestão de desastres e outros parceiros para fornecer água, abrigo, roupas quentes e utensílios domésticos a mais de 7.200 famílias afetadas pela seca em diferentes locais de pessoas deslocadas internamente e comunidades anfitriãs.

No entanto, à medida que a seca piora, as necessidades das pessoas continuam aumentando.

“A questão mais urgente aqui é a falta de água, bem como falta da gestão eficaz da água”, diz Abdullahi Sheik Barrie, Associado de Campo no escritório do ACNUR em Jijiga. “A assistência que conseguimos fornecer está muito abaixo do que é necessário para atender às necessidades de sobrevivência das pessoas afetadas. Juntamente com as autoridades e parceiros, continuaremos ajudando a garantir que as pessoas deslocadas tenham acesso à água, abrigo e itens básicos de emergência e fornecer transporte para aqueles que optarem por voltar para suas casas com seus animais”.

Enfrentando uma longa e incerta jornada com pouca comida ou água, Abdullahi Gedi foi forçado a deixar sua esposa e sete filhos para trás em sua aldeia. Ele não teve notícias de sua família nos 100 dias desde que chegou ao local de pessoas deslocadas em Mara-gaajo.

“Não sei o que aconteceu com eles e com os outros da minha aldeia que ficaram: crianças, mulheres, idosos e outras pessoas vulneráveis”, disse.

O pastor deslocado internamente Abdullahi Gedi, de 55 anos, ao lado dos restos de seus animais mortos no local de pessoas deslocadas internamente Babacada El-Bahay, em Jijiga © ACNUR/Eugene Sibomana

Apesar da jornada perigosa, Abdullahi – como muitas outras pessoas deslocadas internamente abrigadas em vários locais na região somali – disse ao ACNUR que foi recebido generosamente pela comunidade local, embora eles próprios estivessem lutando para lidar com os efeitos da seca. Os agricultores que acolheram os pastores deslocados dividiram as suas pastagens limitadas com as pessoas deslocadas.

Na Etiópia, o ACNUR e outros parceiros humanitários estão aumentando a assistência para atender às necessidades crescentes, em apoio ao governo da Etiópia. Além disso, esforços conjuntos foram realizados dentro do Quadro de Resiliência da ONU para apoiar a Etiópia na construção de resiliência contra desastres naturais, particularmente secas e inundações recorrentes.

Na região somali, parceiros humanitários estão apoiando mais de 2,4 milhões de pessoas deslocadas com alimentos e trabalhando para fornecer água potável a mais de 859.000 pessoas ainda necessitadas. No entanto, as necessidades existentes continuam a ultrapassar os recursos disponíveis.

O ACNUR está buscando US$ 22 milhões para fornecer ajuda crítica a mais de 1 milhão de pessoas refugiadas, deslocadas internamente e comunidades que as acolhem que foram afetadas pela seca na Etiópia, parte de um apelo mais amplo de resposta à seca de US$ 42,6 milhões, incluindo Somália e Quênia.